as coisas maravilhosas de novembro

Fotografias da minha autoria



Novembro prometeu chegar com agenda cheia e cumpriu, porque foi rara a semana em que não houve mais do que um programa pelo meio. Aliás, um lanche ajantarado entre amigas abriu as festividades e os restantes dias do mês seguiram a folia.

Gosto muito desta sensação de estar a viver momentos únicos, sozinha ou na companhia das minhas pessoas, não porque sinta que tem de ser tudo aproveitado ao segundo, no limite, mas porque são estas as memórias que ficam; porque, no final do dia, é este quebrar da rotina que nos dá alento e que nos mostra que o caminho não tem de ter apenas um sentido. Acredito, cada vez mais, que são estes planos que nutrem o nosso património afetivo e que nos mostram quem somos, mesmo quando tudo parece enevoado ao nosso redor.

Admito, ainda assim, que também sinto falta de fins de semana caseiros, serenos, sem preocupações logísticas. Só que não trocava todas as experiências que tive o privilégio de viver ao longo destes trintas dias, porque foram realmente especiais. No fundo, sou pelo equilíbrio que me permite recuperar energias e aproveitar os várias planos que vão surgindo e que contrariam a preguiça, trazendo aconchego.

Novembro foi bastante generoso.


as coisas maravilhosas de novembro


 os fragmentos aleatórios

Eu continuava a comprar cd's, apesar de já não ter onde os ouvir, visto que era uma forma de apoiar os meus artistas favoritos — tantas vezes colo sem saberem. Mas isso mudou, não porque pense de outra forma, mas porque finalmente investi num leitor de cd's portátil, que entrou diretamente para o pódio de compras mais incríveis que fiz este ano (e talvez na vida). Para além de cumprir a sua principal função, ainda funciona como coluna e rádio. Estou mesmo rendida às funcionalidades e à qualidade do som.

Mantendo-me no universo musical, há muito que queria ter o vinil do Carta de Alforria. O artigo não estava disponível para venda online, mas, para celebrar um ano de lançamento do álbum, o Plutonio agraciou-nos com este mimo. Além disso, não podia perder a oportunidade de ter o Lux, da Rosalía, nesta versão física que inclui três temas extra. Está um trabalho fabuloso e tem sido a banda sonora de várias ocasiões do meu dia.

Tenham alguém na vossa vida que fale de vocês com o mesmo entusiasmo com que a minha amiga Sofia fala do tiramisu do Il Fornaio. Eu nem sou muito fã desta sobremesa — talvez por, em todos os sítios que provei, sentir que exageram no álcool — e estava tentada a ir ao restaurante só para a provar. Num dos nossos mil programas em conjunto, acabamos mesmo por ir almoçar ao Il Fornaio e posso garantir-vos que agora percebo todos os elogios — não só em relação ao tiramisu —, porque a equipa é muito atenciosa, a comida é deliciosa e a sala é encantadora. Estreei-me com um Risotto de Carbonara, um copo de sangria rosa e o aclamado tiramisu e mal posso esperar para regressar.

      

      

Outros fragmentos aleatórios: o íman de Tenerife, receber o mais recente livro da Ana Rita Areias, o outono no Porto, o mural «Quem És, Porto?», o Toffe Nut Latte do Starbucks.


 as músicas e os álbuns

A playlist de novembro foi bastante preenchida, sendo difícil chegar a um consenso em relação aos temas favoritos. Por outro lado, sinto, isso só demonstra a qualidade e versatilidade do panorama musical. Continuo muito mais atenta aos artistas portugueses e é um enorme privilégio viver na mesma era que muitos deles.

As músicas que marcaram o mês: Offline, Ajazz, Plutonio & L7NNON | Avisem Que Eu Cheguei, Sara Correia | Ex Certo, Johnny Virtus | depressa, Pikika | Sereia, Lázaro | Labirinto, Murta | Devia, Dengaz.

Os álbuns e o EP's que marcaram o mês: Lux, Rosalía | Wonder, Papillon | Pequenos Gigantes, Satiro | Bouquet, Mei Rose.


 os filmes, as séries e os podcasts

Para este segmento trago um solo, uma série, uma série documental, o regresso de um projeto, um podcast e um short film.

Falha Minha: É o primeiro solo do Ricardo Maria, portanto, é natural que existam arestas para limar, mas creio que se continuar a falhar desta forma irá longe. Além disso, permitam-me só destacar aqui um detalhe que achei interessante: podia ter gravado o espetáculo no Sá da Bandeira ou no Tivoli, visto que a sua tour passou por salas maiores, mas optou por filmar na Piscina — e não meteu água (é por estas e por mais algumas que não sou comediante). Como disse antes, é apenas um pormenor, mas prima pela originalidade e humildade.

Tó Madeira - Em Busca de Uma Lenda: O Championship Manager não fez parte da minha lista de videojogos, porém, houve um nome que não passou despercebido, sobretudo pela sua aura de mistério: Tó Madeira. O avançado que «marcou golos, ganhou títulos e conquistou milhares de jogadores» começou a levantar suspeitas, isto porque, aparentemente, nunca existiu. Será que esta figura tão lendária não passa de uma invenção, de um mito digital? Luís Franco-Bastos quis solucionar o enigma e embarcou «numa busca improvável, contra todas as probabilidades», e o resultado desta investigação exímia foi contado em três partes. Ainda que não estejam familiarizados com o assunto — ou não sejam particularmente fãs de videojogos/futebol —, acho que é um conteúdo que vale a pena ver. Terminei em lágrimas.

Conversas de Miguel: Os miúdos Pedro Teixeira da Mota e Carlos Coutinho Vilhena estão de volta, com uma imagem mais adulta, mas os pensamentos insanos de sempre, unindo o melhor de dois mundos, porque a energia deles continua ótima. Por isso, temos encontro todas as quartas.

As Pessoas Têm de Se Acalmar, Imediatamente: A Tia Bli é extraordinária e eu tenho-me rido imenso com as suas observações. Que lufada de ar fresco ouvi-la todas as quintas-feiras com As Três da Manhã.

Sonhos: Neste pequeno filme, Rui Pereira, mais conhecido como Papillon, mostra-nos de onde partiu e onde chegou. Mostra-nos a felicidade contagiante de alguém que está a um passo de alcançar o que mais ambiciona, abraçando um futuro promissor no futebol, ao mesmo tempo que nos confronta com a mágoa e a frustração de ver essa realidade a desmoronar numa questão de segundos. E como é grande a dor de empacotar sonhos, sobretudo quando colocamos todo o nosso esforço para os tornarmos em algo real. Sonhos, por muito que não acompanhem o percurso do rapper português, impacta pela honestidade e pela vulnerabilidade; impacta porque conseguimos rever-nos naquele miúdo que tem o mundo à sua frente e porque torcemos para que os imprevistos não o impeçam de lá chegar. Além disso, acredito que nos deixa a refletir sobre a constante dualidade em que vivemos, porque, num momento, podemos estar a desfrutar de uma data que se abre no Coliseu e, noutro, podemos esta a receber uma chamada que nos tira o tapete. Vamos dos zero aos cem num ápice, até porque a vida não para de girar.

Porta Premium: A crise da habitação é uma realidade preocupante e os «consultores da maior agência imobiliária do país revelam os segredos do sucesso, convencidos de que está a ser feito um documentário sobre o incrível trabalho deles». O que eles não estavam a contar era que a realizadora tivesse «outros planos» pouco abonatórios para a imagem de todos. Porta Premium recebe-nos em condições duvidosas, com uma dinâmica de fachada que nos tentam vender como genuína. Fazer-nos rir de algo tão sério pode ser difícil, uma vez que o acesso à habitação deveria ser um direito, mas é o lado do negócio que torna tudo risível. Ao explorar este conflito, como explicou a realizadora Tota Alves, «dá-nos espaço para rir de um problema real», sem que o mesmo seja esquecido ou diminuído.


 os livros

O ritmo oscilante de novembro não deu margem para grandes descobertas, mas permitiu-me concluir a TBR que defini e ainda acrescentar mais duas histórias.

Os favoritos do mês: Dieta da Poesia, Afonso Cruz | A Subtração, Alia Trabucco Zerán | Pátria, Fernando Aramburu.

Outros livros lidos: Crime na Aldeia, Lourenço Seruya | Os Transparentes, Ondjaki | As Oito Montanhas, Paolo Cognetti | As Invisíveis, Rita Pereira Carvalho | As Aventuras Completas de Dog Mendonça & Pizzaboy, Filipe Melo, Juan Cavia & Santiago Villa | Pátria, Fernanda Aramburu.


 os momentos

Celebrei os 18 anos do meu afilhado e o aniversário de pessoas que estimo muito. Voltei ao Estádio do Dragão e é doce esta sensação de estar em casa. Fui a concertos, a um espetáculo de comédia e ao teatro. E, pelo meio, fui comprando bilhetes para eventos que quero muito ver.

      

      

      

Volto Já, António Raminhos
Foi a primeira vez que o vi a atuar ao vivo e, primeiro, deixem-me só partilhar o meu espanto quando o vi a entrar em palco, porque eu sei que o Raminhos é alto, mas não estava preparada para o quão alto ele é. Segundo, e focando-me naquilo que importa, quero apenas dizer-vos que adorei a cadência do espetáculo, a maneira como encaixou todos os assuntos, garantindo que «o seu habitual humor nonsense» tinha propósito e que trazia um dialeto transversal à plateia. Na sala do Sá da Bandeira estavam pessoas muito diferentes, que podiam não se rever em determinadas crenças e, mesmo assim, sinto que abraçamos cada pedaço das suas histórias de peito aberto, disponíveis para, pelo menos, tentarmos compreender a origem daqueles pensamentos e/ou daquelas atitudes. Houve muita vulnerabilidade e franqueza na partilha e isso conquistou-nos — experiência completa aqui.

   

30 Anos de Silence 4
Emocionalmente falando, acho que oscilei durante todo o espetáculo: por um lado, porque estava hipnotizada, quase como se não acreditasse bem que os tinha à minha frente, com a viagem visual e auditiva que construíram e que me levou até fases muito específicas da minha jornada e, por outro, porque desejei que demorasse a chegar ao fim. Não fui às lágrimas, mas comovi-me imenso e senti na pele o privilégio de estar naquela sala a ver tudo aquilo a acontecer, a redescobrir a magia de certas canções — experiência completa aqui.

      

À Primeira Vista
O silêncio foi tudo o que me abraçou na noite de sexta-feira, quando saí do Teatro Sá da Bandeira, porque ver o monólogo interpretado por Margarida Vila-Nova foi ainda mais duro e impactante do que aquilo que idealizei. E, por isso, continuo a processar.

À Primeira Vista é um valente e necessário murro no estômago, porque precisamos de mudar o paradigma, porque precisamos de rever a maneira como a lei se posiciona. Os meus pensamentos permanecem dispersos, visto que este texto com tom de denúncia aborda demasiadas camadas revoltantes.


Porto Sounds Secret: A Garota Não
Foi através da canção Dilúvio, em 2022, que fiquei a conhecer o trabalho da artista e o álbum 2 de Abril, lançado no mesmo ano, ficou-me com o coração, não só pela sua voz, não só pelas letras que transbordam poesia, não só pelas melodias que nos embalam e que multiplicam pensamentos, mas também pela combinação de todos estes fatores e da capacidade de transformar a sua arte em intervenção. Ferry Gold, o seu mais recente trabalho discográfico, prima por esse tom interventivo, pela poesia mais declamada e, confesso, foi o que mais demorei a interiorizar, talvez por sentir que não é um álbum para ouvir de seguida, mas, antes, para descobrir devagar, para saborear cada palavra e cada mensagem. Por isso, queria muito ouvi-lo ao vivo e perceber o impacto que teria.

Nesta viagem pessoal e intimista ao seu passado e àquilo que lhe pesa do futuro, ainda houve tempo para recordar temas antigos. Foi um final de domingo muito bonito, que me deixou cheia de vontade de a ver noutros palcos, até porque fui arrebatada pela sua voz e pela interpretação tão expressiva, emotiva e honesta. Na despedida, percebi que o concerto cumpriu a premissa que «seja gentil a nossa viagem, e cheia de flores».

      


Dezembro, sê gentil ✨

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