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| Fotografia da minha autoria |
A minha lista para a Feira do Livro do Porto, à semelhança do que aconteceu em 2023, incluía um livro escolhido pela Sofia. Inicialmente, ela tinha pensado noutro exemplar para mim, mas foi preciso ajustar e, assim, voltei ao mundo de Ondjaki, do qual já tinha saudades.
um livro de pessoas
Os Transparentes retrata a «Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do "progresso", dos grandes negócios, do desenrasca». E fá-lo através do que faz pulsar a sua história: as pessoas.
A riqueza deste livro passa, claro, pela capacidade imaginativa do autor, exímio contador de histórias, mas acima de tudo pelas personagens tão antagónicas, tão humanas, tão credíveis. São elas que dão corpo e alma a diferentes grupos sociais, às desigualdades, ao sentido de comunidade, à pertença. Num universo muito marcado por tantas disparidades, é impressionante como impera o amor, a irmandade, o espírito de resiliência.
«- você vem calado de triste ou calado de pensar no coração?»
Estas páginas também são feitas de dor, de injustiças, de desumanidade, mas é apaixonante perceber como cada uma destas pessoas prefere viver, encontrar alternativas e ser a força que impulsiona a avançar, e sem perder a capacidade de rir. E, por isso, este livro é cru, é sarcástico, é cómico e é emotivo. Compreender o significado do título é duro e revolta, mas depois estas personagens têm tanta luz que é impossível não nos agarrarmos a essa imagem, a essa forma de encarar tudo o que lhes acontece.
Os Transparentes não romantiza nada, não obstante, traz saudade, nostalgia e um forte desejo de futuro. Nunca estive em Angola e, de repente, é como se fosse capaz de sentir os cheiros, a agitação, o gingar que nos convida a dançar. É um romance muito realista, que não queremos largar e que nos deixa marcas.
notas literárias
- Gatilhos: Morte, violência
- Lido entre: 9 e 15 de novembro
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagem favorita: O coletivo
- Pontos fortes: A vivacidade e proximidade de cada história, de cada pessoa; ser humano e realista
- Banda sonora: Minha Terra, Ruy Mingas | Maka, Elias Diá Kimuezo | Velha Chica, Waldemar Bastos | Reencontro, Paulo Flores







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