favoritos 2025: as publicações

Fotografia da minha autoria


O rio segue o seu curso e eu fui-me sentindo à margem. Nestas margens que me amparam, foram mais as vezes que percebi que estava à deriva, estagnada, sem conseguir calar por completo a voz que ia perguntando o porquê de continuar. Pela escrita, sempre pela escrita, respondia eu em silêncio. E voltava, porque, apesar de tudo, não sabia para que outro sítio poderia ir.

Não o revelei a ninguém, mas este ano foi a primeira vez em que estive muito perto de não regressar ao blogue. Já não era só não me rever na casa que alicercei, era ter a forte convicção de que já não tinha algo a acrescentar, que talvez se tivessem esgotado as palavras, que tinha mesmo chegado o momento de escrever a despedida. Mas, depois, por coincidência ou poesia, havia sempre um texto que precisava de sair do papel e que me mostrava que podia adiar essa partida digital.

À semelhança do que escrevi em 2024, continuo a ajustar o caminho. Não porque me recuse a aceitar o final, mas porque ainda há uma centelha de esperança, porque ainda sinto o impulso de abrir o caderno e criar para estas margens que já tiveram outras vidas. E eu talvez só precise de abraçar uma nova metamorfose.

Ir ao arquivo, confesso, trouxe-me um pouco de aconchego, visto que estas publicações comunicam muita da essência desta casa e de quem continuo a ser.


 memórias analógicas
A imagem da minha primeira máquina está nítida, mas sobre o momento em que tirei a primeira fotografia não posso dizer o mesmo. Acho que, lá no fundo, o meu fascínio por esta arte também foi uma tentativa de responder - ou contornar - o que vamos perdendo com o tempo: se for eternizando esses fragmentos, talvez eles não se esfumem no meio de tantos outros (texto completo).

 ainda compro discos e vinis
Contamos muitas histórias assim. E, só para que nunca nos faltem, continuarei a acrescentar álbuns no móvel da sala, enquanto o disco continua a girar, enquanto pelas colunas do computador ecoam vozes que nem sempre reconheces, enquanto me lembro de ir no banco de trás do carro a ver-te dar concertos para três pessoas - e acabo por me juntar com a minha voz de cana rachada. É por isso que a música nos move, mas nunca será só pela música (texto completo).

 o que venderia a loja do museu sobre a minha vida
Não necessito que cada divisão permaneça excessivamente arrumada, porque sou apologista de um certo caos, porque gosto da urgência que se instala na breve desorganização que eu entendo como a palma da minha mão. Por outro lado, também não pretendo que os visitantes entrem e não saibam onde pôr os pés, com medo de pisar artigos delicados. Quero, isso sim, um equilíbrio desconstruído, percebendo-se que sou eu que habito aquela casa (texto completo).

 gosto de escrever em cafés
Escrever em cafés sempre foi uma das minhas atividades mais satisfatórias, porque gosto de resolver o caos interior com o barulho do mundo. Acho, até, que há uma certa poesia nesta trivialidade, na possibilidade de avançar umas linhas numa folha em branco, enquanto a mesa se reveste de chávenas vazias, há pedidos a serem gritados para trás do balcão e há uma aura frenética que nos abraça a todos (texto completo).

 a falta que se esfuma
o peito desacelera pela falta que se esfuma
pela saudade que já é dita de cor
por tudo o que já deixei de ser pela ausência
da tua mão em mim, do teu cheiro, do teu colo 

 as (novas) vozes que estão a fazer o meu ano
Quando, por exemplo, incluí o Van Zee nas minhas playlists e me perdi de encantos pelo seu do.mar, acabei por descobrir a Pikika. Com O Clima, do Dillaz, passei a estar mais atenta ao trabalho do Lhast, que, por sua vez, me permitiu descobrir outros músicos. Este encadeamento motiva-me, uma vez que me permite cruzar com vozes e registos que não fazem parte do meu quotidiano. Aliás, sinto que é nesta ligação entre artistas que acabo por encontrar um certo impulso para continuar a abrir novas portas — curiosamente, não só na música (texto completo).

 uma conversa entre educação da tristeza e foguetes: ou como a arte nos vai curando as feridas
Quando assumi que Educação da Tristeza e Foguetes estavam numa conversa silenciosa, foi precisamente por sentir que nem o livro, nem a canção ocultam a mágoa, foi por sentir que ambos optam por partir desse lugar sombrio para nos incentivar a lidar com todas as suas ramificações, porque só assim seremos capazes de avançar, independentemente do tempo que necessitarmos para esse efeito. Ademais, senti que nos dois trabalhos consegui libertar aquele grito que me estava a sufocar e sair apaziguada (texto completo).

1 Comments

  1. Ainda bem que decidiste regressar sempre ao blog :) É um prazer passar por aqui e ler o que escreves.

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