Inconfidências: Dia de Reflexão

Fotografia retirada do google

«Respira fundo! Pela frente ainda tem muito mundo»

O dia de reflexão que antecede as votações é crucial, para que se analisem todos os parâmetros com consciência. O meu partido emocional, de seu nome coração, também necessita disto. Deste silêncio. Da ausência de apelo ao voto. E de não ser invadido por rostos familiares, que se instalam nas paredes panorâmicas deste órgão não televisivo, mas que se inunda de notícias diárias.

Tenho vontade de colocar os sons do mundo em pausa. Para, consequentemente, aumentar o volume dos inúmeros diálogos que se criam na minha cabeça. Há momentos em que o meu dia de reflexão se lê no plural, sobretudo quando a campanha é exaustiva, porque preciso de me adaptar às circunstâncias e de ler todas as entrelinhas. O estímulo é exagerado. E abrandar torna-se uma prioridade!

Sinto-me em estado de guerra, onde o único ferido sou apenas eu. Avanço e recuo nas sondagens, mas fecho-me numa bolha, para que ninguém leve com os estilhaços da minha luta interna. Porque tenho um medo terrível de cometer injustiças. Por isso, prefiro sair de cena, distanciar-me e permitir que me culpem por qualquer tipo de negligência. Aguento todas essas balas. Aquilo que não aguentaria era perceber que o meu voto seria de tal modo envenenado por reagir a quente que o resultado não podia ser outra coisa que não uma derrota. De parte a parte.

Com o destino do país não se brinca. Nem com os sentimentos das pessoas. Por maior que sejam o seus erros, nada justifica negar-lhes tempo de antena para se redimirem. Mas para isso é preciso ir de coração limpo. Portanto, a minha estratégia de ação é simples: proponho e contraponho todos os factos que recolhi. Liberto a revolta. Traço um caminho lógico e objetivo. Talvez procure desculpas para que não me pareça tudo cruel. Por fim, respiro fundo, encontro paz e abro as urnas. Aceito o boletim de voto e, mais tarde, discuto todos os resultados. Independentemente do que virá depois, o meu partido emocional acabará sempre por sair vitorioso. Porque joga sem truques.

Os dias que se sucedem funcionam como um recomeço. Investem-se em novos projetos, lutam-se por novas causas, assumem-se outras perspetivas e assinam-se os documentos que oficializam as tréguas. E caminha-se em passo acelerado, deixando o passado onde pertence, até que tudo se reponha com normalidade.