Entrelinhas #28

Fotografia da minha autoria

«(...) Livro-sensação, livro de descoberta ou de redescoberta e por isso mesmo livro não alheio à diversidade de reacções»

A minha lista de livros a comprar aumenta mais do que aquilo que diminui. E, naturalmente, há títulos que figuram praticamente desde o início, porque a curiosidade sobre os mesmos mantém-se. Um desses casos é a obra de Susanna Tamaro, Vai Aonde Te Leva O Coração. No entanto, outras foram-se sobrepondo, até a encontrar a um preço bastante simpático (3€) no Porto Alternativo. Sem pensar duas vezes, comprei-a. E ainda bem!

A história desenvolve-se através de uma sucessão de cartas, que nos permite conhecer três gerações de mulheres - avó, filha e neta -, as suas vivências, as suas escolhas, as suas aspirações, os seus receios; a forma como lidam com as suas respetivas vidas e as consequentes ações e reações. Por essa mesma razão, vamos entrar numa viagem intimista, de auto-conhecimento, onde serão partilhados episódios passados. E é neste regresso a um tempo que já passou que vamos descobrir a constante procura pela felicidade, por parte de todas as personagens.

A narrativa é absolutamente envolvente, com pensamentos profundos e inspiradores. Para além disso, demonstra-nos o quanto somos diferentes. Que crescemos com distintas conceções. E que até atingirmos uma certa maturidade talvez passemos por momentos de sofrimento, mas devemos manter-nos fiéis aos nossos princípios, por maiores que sejam os contratempos. À medida que vamos avançando, compreendemos o quanto o caminho foi difícil. Aquilo que mudou. O que se perdeu. O que fica. E é impossível não nos emocionarmos com o estado das relações. Na figura da avó, somos convidados a ler sobre amor, paixão, religião, fé, inteligência, amizade, alegria, depressão, desgosto, traição, mentira, tristeza, separação, partida, casamento, morte. No final, tudo fica escrito, como se fosse uma prova e, quem sabe, um reconhecimento de todos os erros que procuram absolvição. E paz!

Ficamos com vontade de saber o que acontecerá depois, sobretudo no que diz respeito à neta. E há uma pergunta que não deixará de fazer sentido: afinal, onde nos leva o nosso coração?

Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«Como já vivi muito e deixei atrás de mim muitas pessoas, sei que os mortos pesam menos pela ausência do que por aquilo que - entre eles e nós - não foi dito» (p:13);

«Enganava-me, queria convencer-me de que iria ser assim para sempre. Mas infelizmente não somos seres suspensos em bolas de sabão, que vagueiam felizes pelos ares» (p:20);

«De vez em quando, havia um foguete que, embora explodisse, não conseguia chegar ao céu. Aí tens, quando penso na vida da minha mãe, na vida da minha avó, quando penso em tantas vidas de pessoas que conheço, vem-me à ideia esta imagem - foguetes que implodem em vez de subirem» (p:31);

«O título da minha autobiografia poderia muito bem ser "Mentirosa". Desde que nasci, só disse uma mentira.

Com ela destruí três vidas» (p:68).