CLUBE DO LIVRA-TE ◾ MEIO SOL AMARELO, CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
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Fotografia da minha autoria |
«Um momento determinante na história moderna de África»
Avisos de Conteúdo: Violência, Luto, Linguagem Explícita
O meu caminho literário só se cruzou com Chimamanda Ngozi Adichie por duas vezes, mas, em ambas, fui arrebatada pela escrita e pela forma como borda as narrativas. Aproveitando a Feira do Livro do Porto e o facto de ser uma das sugestões do Livra-te, investi em mais uma obra sua. Quando a terminei, houve uma pergunta a ecoar em mim: como é que um livro consegue ser tão duro, tão angustiante e, ao mesmo tempo, tão belo?
CRUZAR UM MOMENTO DA HISTÓRIA DE ÁFRICA COM A HISTÓRIA DE CINCO PERSONAGENS
Meio Sol Amarelo divide-se entre o início e o fim dos anos 60, entre a Nigéria e o Biafra e entre a vida de cinco personagens inesquecíveis: Ugwu, um criado de treze anos, Odenigbo, professor universitário com espírito revolucionário, Olanna e Kainene, gémeas e de uma família ibo, e Richard, um jornalista inglês. A forma como as suas histórias se relacionam e influenciam é fascinante - e transportam-nos para realidades distintas.
«Como é que podemos lutar contra a exploração se não tivermos as ferramentas necessárias
para compreender o que é a exploração?»
Foi uma leitura com diferentes níveis de investimento, porque sinto que a primeira parte nos exige um ritmo mais lento - pelos capítulos longos e pela apresentação dos protagonistas -, mas todas as outras despertam uma certa urgência para descobrirmos a ficção histórica e os dramas familiares. Aliás, quando se torna evidente que são entidades indissociáveis, pelas decisões que implicam os dois lados, envolvemo-nos mais.
«Foi a primeira vez na vida que sentiu que poderia pertencer a um lugar»
Estava com receio que a alternância temporal trouxesse alguma confusão ao enredo, no entanto, até esse aspeto fluiu de um modo natural, lógico. O período histórico retratado não é isento de brutalidade, problemas internos, questões económicas e de independência. Há grupos com um enorme poderio e populações massacradas. Há revolta, perspetivas religiosas, mortes e uma tremenda sensação de impotência por todos os inocentes apanhados na tragédia, que marca a história moderna de África. Pelo meio, compreendemos como é que as personagens se movimentam, quais os seus valores e como é que os seus elos se vão afunilando.
«Estava exausta de tanto medo»
A maneira como a autora consegue, no mesmo plano, discorrer sobre política e sobre amor inebria por completo. Além disso, tem a capacidade de nos fazer transitar entre vários conflitos (internos e externos), mostrando-nos que todos eles são paralisantes e um retrato da condição humana. Há decisões que têm de ser tomadas, mas isso não as torna fáceis, por isso, a noção de lealdade, nação e família é colocada à prova.
«Havia qualquer coisa de quebradiço nela e teve medo que se partisse ao mais pequeno toque»
O caminho é feito de encruzilhadas e nenhum quer ir sozinho. Entre o passado e o presente, a guerra molda-os e isso fica claro nos seus comportamentos, nas relações que se quebram e nas que se edificam. Eles desmoronam e nós desmoronamos em conjunto, porque é impossível ficarmos indiferentes a esta(s) história(s), à densidade dos seus problemas e ao que, inevitavelmente, se perde nos destroços - locais e emocionais.
«Não podemos continuar a bater nas pessoas só porque a Nigéria nos está a bater a nós»
Desde a construção das personagens até à construção da narrativa, tudo encaixa na perfeição. Emocionei-me, ri-me, revoltei-me, senti-me sem chão e vi um raio de esperança, porque Meio Sol Amarelo é um livro cheio de camadas. Chimamanda tem um talento impressionante e o desfecho deste livro ficará sempre comigo.
🎧 Música para acompanhar: Sawale, Cardinal Rex Jim Lawson
📖 Da mesma autora, li e recomendo: Notas Sobre o Luto e Americanah
◾ DISPONIBILIDADE ◾
Desconhecia completamente este livro.
ResponderEliminarObrigada pela partilha, minha querida.
Fiquei mesmo com vontade de ler.
Beijinho grande!
Se leres, espero que te reserve uma excelente leitura. O início dá luta, mas vale a pena
EliminarNão conhecia. Obrigada por mais uma partilha 🫶🏻
ResponderEliminarObrigada pelo retorno!
EliminarFico com a sugestão para uma futura leitura.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Boas leituras, Francisco
EliminarContinuação de uma ótima semana
Que ainda não conhecia de todo, mas me parece ter uma história bem bonita
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem Post Novo Diariamente
Dura, mas com partes bonitas, sim
EliminarEste não conhcia.
ResponderEliminarObrigada pela partilha
Beijinhos
Foi uma excelente surpresa. Desafiante, mas conquistou-me
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