ALMA LUSITANA: OS AUTORES DE OUTUBRO

Fotografia da minha autoria



Uma viagem literária para descobrirmos os nossos autores


O mês de outubro, talvez pela semelhança das letras, transmite-me toda a energia e aconchego do outono. Por isso, o Alma Lusitana traz um autor cujas obras já são um conforto, porque escalou para o grupo de favoritos, e o conforto da descoberta, porque conhecerei uma nova autora, mas cujo livro já habita cá em casa desde 2021. Além disso, senti necessidade de incluir um livro extra, de modo a dar voz a uma luta em que acredito.


RAQUEL SEREJO MARTINS

É natural de Trás-os-Montes, economista e «todos os dias ouve uma canção do Sinatra, do Sabina ou do Buarque». Além disso, também faz por ler, pelo menos, um poema por dia. O seu percurso literário já é vasto e divide-se entre o romance, a poesia e uma peça de teatro - mas também já escreveu duas canções.

      

A Solidão dos Inconstantes: «O relógio, o chefe, os sapatos, as gravatas, o aspirador, o fogão, o mecânico de automóveis, o trânsito, a TV, o sofá, o café, o tabaco, as chuvas, as luas, as chaves, as portas, a rede, a sede, o jardim, o gato, o aquário onde demasiados morrem afogados para lá da linha do equador. Então, no limite da lucidez, ou talvez da inconsciência, as palavras transformam-se em interrogações, o que foi feito de nós. Onde está a pessoa que eu sonhei, que eu queria ser, ou simplesmente o eu que conhecia! Chamam inconstantes aos que fazem demasiadas perguntas, e é solitária a procura das respostas».

Pretérito Perfeito: «Pudesse toda uma vida caber num livro? Nestas páginas, assombradas pela inevitabilidade da morte, as memórias são o pretérito perfeito do verbo viver. Eu vivi, diz-nos a personagem principal desta autora, hábil na construção da narrativa, na forma como nos leva pela mão até ao fim, a um fim anunciado que reforça apenas essa capacidade ímpar de agarrar o leitor. É o que Raquel Serejo Martins faz neste livro que deve ser lido, como todos os livros que sabem a gente, a vísceras, a medos e alegrias, a histórias contadas e passadas. Um livro com alma, portanto».

Aves de Incêndio: «Depois de beijo inaugural/o ângulo agudo fica obtuso,/todas as palavras acentuadas e esdrúxulas./Depois, o mundo do avesso,/sentes-te um menino travesso,/percebes que há coisas sem preço,/e escolhes sempre a doçura».


      

Subúrbios de Veneza: «Um livro de poesia que dentro tem corações aos molhos, dióspiros, beijos sem barulho, o Cave, o Cale, o Cohen, cães, gatos, cigarras, mosquitos, canções do Chico e canções do Palma, cometas, bancos de jardim, Paris, Jerusalém, Los Angeles, Itália, relógios de bolso, cortinas, colchões (...) Um livro de poemas de amor, de poemas nos antípodas do amor, conforme a cor dos olhos do coração do leitor».

Os Invencíveis: «Onde?/Diz-me, onde me queres?/De quatro num quarto de hotel?/Nos quartos de Hotel nâo parecíamos nós, de férias, audazes como peixes».

Plantas de Interior: «Sim, envelhecer deve ser isto, uma absoluta falta de paciência para histórias repetidas, mesmo se já só canto canções antigas».


      

Preferia Estar em Filadélfia: «Entre a infância e a idade adulta. Entre os subúrbios e a cidade. Entre a pobreza e a prosperidade. Entre a intimidade e a distância. Entre a opacidade e a transparência. Entre o amor e a indiferença. Entre a inveja e o desprezo. Entre a fuga e o regresso. Entre um suicídio e um reencontro de amigos. Entre derrotas e vitórias. Entre desabafos, acusações e confidências».

Silêncio Sálico: «Se o coração pensasse, parava de bater-me. Um livro que é uma soma de silêncios».

Valsa a Vau: «Vou a vau pelo mundo, não sei se me pesa mais o mundo, se o corpo, se os pensamentos, se a roupa, se os sapatos, se o presente, se o passado. Vou a vau pelo mundo e não percebo como não vou ao fundo».


   


A Iguana Viva: «Os contratempos do princípio, as dúvidas e medos pessoais, o preconceito familiar e social são contados na primeira pessoa do singular, numa história de amor entre duas mulheres das quais, no fim, ninguém sabe os nomes, mas pode ser qualquer pessoa».

Yoko Meshi: «(...) e sentada à mesa de café, como se estivesse sentada à secretária da escola, o dono do café, dono de um corpo com excesso de peso, talvez os bolos, talvez o álcool, talvez o acumular dos anos, tem idade para ser meu avô, a propósito da galaktoboureko e do seu avô turco, ensina-me um provérbio turco, contado em inglês com sotaque grego, que reza assim: When a clown moves into a palace, he doesn’t become a king. The palace becames a circus».


HUGO GONÇALVES

Nascido em 1976, o seu percurso dividide-se entre o jornalismo, a coautoria e guionismo de séries televisivas, um podcast que partilha com Guilherme Duarte - Sem Barbas na Língua -, crónicas no Diário de Notícias e enquanto correspondente em Nova Iorque, Madrid e Rio de Janeiro (onde trabalhou como editor literário).

      

O Maior Espetáculo do Mundo: «Este livro reflecte um trabalho árduo, minucioso, pensado sobre a escrita, a narrativa, a forma de contar a história e de construir personagens. É um primeiro livro, mas é também, já, um livro velho. Porque fala do que está no nosso imaginário, porque nos compele para a dureza da realidade: o sexo, a droga, as armas, a conspiração, a ilusão, a política, a demência, a fuga, a solidão, o make believe, a fachada que todos nós encontramos para enfrentar a vida. As histórias cruzam-se e são quase esmagadoras no seu pormenor».

O Coração dos Homens: «Um grupo de rapazes cresce numa Cidade-Estado de onde se expulsaram as mulheres e onde o pugilismo foi elevado a desporto nacional. Reféns da violência e da carnalidade, de que matéria podem ser feitos os homens, enquanto vítimas e carrascos da tirania?».

Fado, Samba e Beijos com Língua: «Contando histórias, retratando pessoas, olhando a vida pelo buraco da fechadura ou mergulhando bem fundo - ossos, carne e coração - na tarefa de escrever diariamente para o jornal 'i' com apuro literário e olho jornalístico, Hugo Gonçalves mistura-se com estrangeiros perdidos nas ruas de Lisboa, donzelas do Chiado, nova-iorquinos numa mesa de bar ou malandros cariocas na favela do Cantagalo. Nestas páginas, a realidade é tratada com o engenho dos ficcionistas. E as histórias inventadas pela imaginação do autor acontecem quase sempre na realidade que nos rodeia».


      

Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo: «Quando a crise se instala em Portugal, arrastando uma onda de pessimismo sem fim à vista, um assessor político com ambições literárias e a cabeça a prémio decide fugir para o Brasil. Além do medo e do travo amargo do insucesso, leva com ele apenas uma mochila, o desejo de começar tudo do zero e uma encomenda secreta».

O Caçador do Verão: «Quando José é convocado pelo velho patriarca da família, com quem não fala há anos, a sua perplexidade é enorme e, por isso, inescapável a recordação do verão de 1982, em que o avô - nadador de longas distâncias e anticomunista fanático, a quem o cancro levou todas as mulheres - o foi buscar a uma aldeia algarvia onde a mãe o deixara com uma estranha, decidido a tornar-se o pai que ele nunca tivera».

Filho da Mãe: «Perto de fazer quarenta anos, Hugo Gonçalves recebeu o testamento do avô materno dentro de um saco de plástico. Iniciava-se nesse dia uma viagem, geográfica e pela memória, adiada há décadas. O primeiro e principal destino: a tarde em que recebeu a notícia da morte da mãe, a 13 de Março de 1985, quando regressava da escola primária».


   

Deus Pátria Família: «Dos loucos anos 1920 nos Estados Unidos à convulsa década de 1940 em Portugal, chega-nos uma versão alternativa do nosso passado, com ecos no presente, porque basta uma única reviravolta para mudar o rumo de um país e assombrar milhares de vidas. Entrelaçando um mistério policial com uma saga familiar, Deus Pátria Família é um romance magnético».

Revolução (em pré-lançamento): «Um disparo perfura a noite na serra de Sintra, durante um jantar da família Storm, e a matriarca sabe que perdeu um dos três filhos. O epicentro do colapso tem origem muitos anos antes, entre o fim da ditadura e os primeiros tempos da revolução. Maria Luísa, a filha mais velha, opositora clandestina do regime, é perseguida pela PIDE. Frederico, o filho mais novo, está obcecado em perder a virgindade antes de ser mobilizado para a guerra colonial. E Pureza, a filha do meio, vê os seus sonhos de uma perfeita família tradicional despedaçados pelo processo revolucionário em curso».


NO MEU BAIRRO, LÚCIA VICENTE & TIAGO M


Os livros mudam o mundo e são uma ferramenta extraordinária para lutarmos por uma sociedade mais diversa, inclusiva e empática. Quando tentam silenciar obras que apostam nisso mesmo, acredito que nos procuram silenciar a todes e impedir que construamos um ambiente livre, justo e seguro. Face aos acontecimentos recentes no lançamento do livro No Meu Bairro, não podia ficar indiferente, portanto, junto-me à luta da melhor maneira que consigo: dando visibilidade a esta história. Sendo assim, em outubro, este será o livro extra.


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

Comentários

  1. Já ouvi falar muito bem do livro A Filha da mãe.
    Acho que são excelentes sugestões.
    Beijinho grande, minha querida!

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    1. É um dos meus favoritos 🥺
      Obrigada, minha querida. Beijo grande

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  2. Tenho muita curiosidade em ler os livros do Hugo Gonçalves *.*

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  3. Fico com a sugestão de "O filho da mãe" para uma futura leitura.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Aconselho, Francisco, é um livro fantástico
      Obrigada e igualmente

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  4. Que me parece até ser umas boas sugestões
    Um bom fim de semana
    Beijinhos
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    Tem Post Novo Diariamente

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  5. Confesso que não conhecia nenhuma das obras! :)

    www.amarcadamarta.pt

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    1. Se tiveres oportunidade, és muito bem-vinda a esta viagem literária para as conheceres 😊

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  6. Obrigada pelas sugestões :)
    Um beijinho,
    https://myheartaintabrain.blogspot.com/

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  7. Conheço No Meu Bairro por toda a polémica triste e desnecessária em que está envolvido. Ainda existe gente com o cérebro mais pequeno que uma ervilha. 😣

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    1. É triste compreender que ainda há tão pouca tolerância. Em vez de gritarem que devemos proteger as crianças, podiam aprender mais com elas.

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