ESTANTE CÁPSULA ◾ AINDA BEM QUE A MINHA MÃE MORREU, JENNETTE MCCURDY

Fotografia da minha autoria



«As confissões de uma criança feliz»

Avisos de Conteúdo: Referência a Cancro; Distúrbios Alimentares, Ansiedade, 
Abuso Mental, Linguagem/Cenas Explícitas


Os laços de sangue, ainda que seja doloroso reconhecer, nunca foram garantia de segurança, de estabilidade, de amor. Não há uma correspondência de lealdade inquebrável e isso fica claro no livro de Jennette McCurdy.


UM LIVRO DE MEMÓRIAS DILACERANTES

Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu é um título que perturba por si só, no entanto, avançar nesta leitura é perceber que este detalhe é o que nos chocará em menor escala. Perdoem-me o spoiler e a aparente indelicadeza, mas ainda bem que o desfecho foi este, porque foi a maneira de Jennette respirar e renascer.

«É a Mãe quem mais quer isto na vida, não eu (...) 
Por outro lado, é verdade que eu quero o que a Mãe quer, portanto, ela até tem razão»

Considero que cresci num ambiente saudável, com pais que nunca me impuseram um caminho que queriam que tivesse sido o deles, portanto, sempre me fez confusão saber de casos com essa narrativa, porque nada de bom podia resultar daí. Não obstante, nestas páginas, tudo isso é levado a um extremo diferente. Há uma relação tóxica e abusiva que cresce e que potencia uma dependência emocional gritante - e consequentes distúrbios alimentares. Apesar de ter lido e de ter sido envolvida na sua dor, continuo a estar longe de imaginar a pressão e o sufoco que é viver neste ambiente disfuncional, amplamente limitativo, não só na maneira como a autora se observa, mas também em todas as relações que procura estabelecer ao longo da sua vida.

«Isto é como me sinto de facto. Com vontade de gritar»

Jennette tinha seis anos quando fez a sua primeira audição. A partir desse momento, condicionada por uma mãe narcisista, o seu percurso foi sendo construído com o intuito de se tornar numa estrela - algo que ela não queria. A necessidade de agradar, de ser aceite e de corresponder a um sonho externo moldou-a e, pior, trouxe-lhe problemas que deixou de ser capaz de solucionar, ficando refém de alguém que não lhe queria bem.

«Posso ser eu própria, por uma vez»

Sinto que este livro é muito honesto na forma como nos mostra o impacto de cada decisão, na forma como nos transporta para as batalhas diárias referentes à saúde mental e na forma como a ansiedade é paralisante e nos transforma em pessoas que não somos. Além disso, equilibra muito bem a dureza desses factos com passagens humorísticas, que ajudam a amenizar o ambiente. Creio, ainda, que é um grito de liberdade e que, apesar de existir um tom de culpa a pairar em muitos dos seus pensamentos, é a sua maneira de avançar.

«A felicidade dela custou-me a minha. Sinto-me roubada e explorada»

Há uma grande parte da sua vida que não recuperará, mas esta não tem de ser a sua identidade. McCurdy compreendeu isso e leva-nos a compreendê-lo na mesma medida. Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu encerra muita crueldade, mas também é um retrato de resiliência e de uma conquista vital: amor próprio.


🎧 Música para acompanhar: Heart Of a Child, Jennette McCurdy


◾ DISPONIBILIDADE 

Wook: Livro | eBook
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Comentários

  1. Fiquei mesmo com vontade de ler este livro.
    Vou levar a sugestão.
    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Aconselho, minha querida. Reforço, apenas, que tem passagens muito duras e revoltantes, mas o humor dela ajuda a amenizar o ambiente

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  2. Tenho ouvido falar bem do dele,. Sinto curiosidade.
    Beijinhos

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    1. É um livro desconcertante, porque ela conta coisas que te deixam mesmo de coração apertado, mas entrou na minha lista de favoritos

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  3. Eu ja ouvi falar muito bem deste livre e estou bastante curiosa para o ler :) está na TBR *.*

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    1. Foi uma experiência desarmante! Aconselho só a ires preparada emocionalmente, porque tem partes sensíveis

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  4. Oh, que ainda não tinha ouvido mesmo falar, mas me parece ser uma boa sugestão para ler
    Beijinhos
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    Tem Post Novo Diariamente

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    1. É mesmo, Sofia. Recomendo imenso este livro, até porque nos ajuda a compreender melhor a realidade que explora

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  5. Tinha este livro no kobo e acabei por o apagar sem ler, acreditas? Sou muito de vibes e só o título me dilacerou por dentro. Senti que pela minha saúde mental não o deveria ler. Pelo menos por enquanto. Talvez um dia.

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    1. Oh, a sério? Que pena! Sim, espero que um dia que o consigas ler

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  6. Li este livro em audiobook, narrado pela própria Jennette e, até me custa dizer isto, mas não me senti arrebatada. Não que tudo o que ela explora no livro não seja horrível, porque é, mas a forma como o livro foi narrado por ela não me passou emoção nenhuma. Estive mesmo para dar DNF... Não sei se mais alguém teve a mesma experiência que eu, mas até me senti um bocado insensível 😥
    Acho que este é um daqueles livros que me arrependo de ter ouvido e não lido de facto.
    Beijinhos

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    1. Eu percebo, parece sempre estranho dizermos que a história daquela pessoa não nos tocou, porque, afinal, são as suas vivências e não um exercício criativo.
      Lamento que a experiência não tenha sido a melhor 😔 a forma como é narrado influencia muito, de facto.
      Confesso que não tenho essa noção, mas é provável que encontres alguém com uma experiência semelhante. E mesmo que não encontres, a tua não deixa de ser válida

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