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notas literárias mai'24

by - junho 03, 2024

Fotografia da minha autoria



A banda sonora de uma viagem literária


A tbr de maio foi pensada com outro cuidado: porque faço questão de ler apenas autores portugueses e, além disso, porque sabia que seria um mês preenchido, portanto, era provável que as leituras sofressem com isso. Não tenho por hábito definir um número astronómico, mas quis limitar-me aos títulos definidos para os projetos de leitura. Por consequência, a playlist mensal também ficou mais pequena, mas, creio, bem composta.


do outro lado, mafalda santos
Metamorfosis: One, Philip Glass ▫️ A melodia como técnica de relaxamento, como ponte para memórias, como elo que traz algum conforto no meio do caos. É curioso como a música nos aprofunda sempre, por isso, através da música de piano que saiu pelas colunas - esta música em específico -, deixei que fossem estes acordes a embalar toda a leitura. Acho que resultou na perfeição.

assim, mas sem ser assim, afonso cruz
Passarinhos, S. Pedro ▫️ Os temas destas obras não se cruzam, mas ocorreu-me esta canção pelos versos «Mas não foi sempre assim», «E o mais certo é voltar ao tom da vida assim assim» e «Estava escuro, mas vejo-te e ouço passarinhos a cantar». Porque acho que espelham bem a mensagem da narrativa: a importância de sabermos olhar para o outro e para aquilo que nos rodeia.

o que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo, djaimilia pereira de almeida
Terra Firme, Benjamim ▫️ Numa das suas reflexões, a autora afirmou que a sua negritude não é terra firme, o que me recordou logo da música do Benjamim. Como, ao longo do livro, senti que lhe é sempre exigido que «lev[e] a bandeira», que «carregu[e] o pesadelo» de um passado que segrega e que «terra firme só não vale», pareceu-me uma boa parelha para esta nota literária. Além disso, queremos sempre «chegar a algum lado», de preferência, a um lugar que não nos atribua uma responsabilidade única, como se apenas existíssemos para aquilo, naquela bolha.

e se eu gostasse muito de morrer, rui cardoso martins
Devagar, Ornatos Violeta ▫️ Ocorreu-me este tema, confesso, mais pela melodia do que propriamente pela letra. Porque, à semelhança da narrativa, tem um tom mais soturno, mais fatalista. Depois, se aliar este fator aos versos «Não vejo a luz em mim/Tão pouco em mais alguém», sou logo transportada para a ideia de não fazer assim tanto sentido continuar por cá. E como andamos nesta luta de ver se «um dia o tempo não vos traz», perdemos a noção do tempo.

atirar para o torto, margarida vale de gato
Amigos e Amantes, Jimmy P & D-Ro ▫️ Esta escolha foi um pouco literal, no sentido em que a imagem de amigos e amantes também aparece no livro: nem sempre nesta dicotomia, mas sempre presente. Portanto, recuei ao reportório do Jimmy P para ir recuperar este tema.

casas pardas, maria velho da costa
Camadas, Papillon ▫️ A organização deste livro fez-me perceber, desde o início, que seria feito de inúmeras camadas, por isso, fui para o tema do Papillon. Talvez a melodia não encaixe a cem porcento no tom da narrativa, mas sequências como «A tentar ver escondida/Minha mágoa contida/Meus calos, minhas feridas», «Já aprendi a apanhar os sinais/E não caio mais nessa», «E o amor onde é que está?», «O que é que eu preciso?/Camadas/Quantas camadas pra ser feliz?» e «Abraça/Pois tudo passa/Hoje só tu bastas» servem-lhe na perfeição.

a gorda, isabela figueiredo
Amanhã é Sempre Longe Demais, Rádio Macau ▫️ A epígrafe sonora disponibilizada nas páginas iniciais da obra foi música para os meus ouvidos, porque pude deambular pelos temas escolhidos e perceber qual encaixaria melhor na leitura. No fim, acabei por optar por este, pela ideia de uma «esperança fugidia», por parecer que o amanhã é sempre incerto e por tudo o que fica entreaberto, perpetuando dúvidas, inseguranças e faltas de amor.

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