terceiro andar sem elevador, susana moreira marques

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Apaixonarmo-nos pela simplicidade


Um dos nomes que soube, de imediato, que queria que figurasse na lista de autores que já li e recomendo, para a edição deste ano do Alma Lusitana, foi o da Susana Moreira Marques. Li dois livros seus e rendi-me à forma tão próxima de contar histórias, de nos acolher em casas e realidades que, não sendo as suas, cuida como se fossem. Por isso, o lançamento do seu mais recente trabalho chegou na altura perfeita.


recordações fragmentadas de um tempo moderno

Terceiro Andar Sem Elevador acolhe notas sobre Lisboa, numa sucessão de episódios que se dividem por várias situações. Neste livro, como é descrito, a autora é, simultaneamente, narradora e personagem, criando um «diário geográfico, afetivo e fragmentário», ao mesmo tempo que «nos conduz a um território íntimo e público».

Ler sobre o quotidiano de uma mulher na capital, escrito assim, pode suscitar dúvidas, porque não sabemos se nos interessará. No entanto, a forma como a Susana Moreira Marques encadeia os seus pensamentos transparece uma dose bonita de poesia. São próximos, mas têm um tom melodioso que nos embala: não só pelos lugares por onde passa, mas também pelos «desejos, desencontros, livros, noites de festa, uma criança que cresce, um amor que acaba, uma recordação que parecia perdida». E pelo tempo.

As notas são sobre Lisboa, mas poderiam ser sobre a vida em qualquer outro sítio, poderiam ser sobre qualquer outra realidade, porque há nas palavras da autora um toque de transversalidade. A vista do meu quarto não é aquela, nem poderia ser, e, ainda assim, quase que podia jurar que alcanço o mesmo pedaço de céu que avista.

«Mas o regresso é o pico da montanha. Parece tão perto, e não se alcança. O regresso não é uma passagem. É definitivo. É dizer que se sabe onde se pertence»

Adoro como observa as coisas mais simples e as borda com sensibilidade, como se o mundo todo estivesse concentrado naqueles detalhes. E, a partir de cada um deles, explora questões como a maternidade, as camadas do silêncio, o peso da saudade, os regressos, os vislumbres e o desconhecido, estabelecendo um retrato sociológico.

Este Terceiro Andar Sem Elevador tem um traço muito visual e está cheio de memórias preciosas. Só queria que existisse mais um lanço de escadas para continuar a viagem.


🎧 Música para acompanhar: Rosa à Janela, Baile Popular



Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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