Inconfidências: Os gostos discutem-se?

Fotografia da minha autoria

«Cada um tem seus próprios gostos. Não julgue o meu, que não julgarei o seu»
William Rafael Dimas


Crescemos a ouvir verdades irrefutáveis. Expressões tão certas, que nem nos passa pela cabeça ponderar que podem ter outra interpretação; que há espaço para que as analisemos de outra perspetiva. Um desses casos é, seguramente, aquele velho ditado que afirma solenemente que «os gostos não se discutem». Será que não?

Durante muito tempo, acreditei na veracidade desta frase. Posteriormente, comecei a questioná-la. E, por fim, vi-me obrigada a modificar a opinião que tinha sobre a mesma. E porquê? Porque cresci, amadureci a minha visão sobre este género de assuntos e passei a sentir que podemos mesmo discutir acerca deles, sem que este verbo tão temido nos transporte para um qualquer campo de batalha, mas, antes, para uma mesa redonda de debate. E a verdade é que este exercício potencia conversas incrivelmente interessantes. Pessoalmente, adoro debater os meus gostos com outras pessoas. E, consequentemente, fazer o mesmo com os delas. O que importa perceber é que esta troca de pensamentos não significa, de todo, procurar impor aquilo que apreciamos. Isso é, simplesmente, ridículo.

Há uns anos, após partilhar com um grupo de colegas que não aprecio música clássica, alguém me disse, arrogantemente, que, sendo assim, eu não «entendia nada de música». Sorri. E a minha resposta foi um longo silêncio. Porque, neste caso em concreto, percebi que não valia a pena argumentar em minha defesa. De um ponto de vista formativo, não deixa de ter um fundo de verdade, uma vez que, tirando as disciplinas da escola, nunca estudei música. Agora, do ponto de vista pessoal, não considero que, por não me identificar com um determinado estilo musical, isso me faça compreender e/ou sentir menos esta arte em específico. A única limitação que encontro é que, por não ouvir música clássica, abstenho-me de tecer qualquer comentário, pois sei que não seria justa. Afinal, talvez os gostos não se discutam quando, do outro lado, temos alguém de mente fechada, que não mede a força das suas palavras depreciativas e que julga que os seus gostos estão acima de todos os outros, como se fosse portadora de toda a verdade do mundo.

Adoro falar sobre determinados temas que me fascinam. Partilhar o porquê de me significarem tanto. E recordar as experiências que já me fizeram viver. Simultaneamente, acho reconfortante ouvir as outras pessoas a falar dos seus interesses, até porque é uma forma de perceber o que as motiva a gostar de uma coisa em detrimento de outra. Se virmos bem, não somos assim tão diferentes como julgamos. E dou-vos um exemplo concreto: eu sou portista e, como é óbvio, não sei ser de outro clube [nem quero]. No entanto, entendo e revejo-me na paixão que milhares de adeptos partilham, independentemente das cores que os movem. Portanto, todos partilhamos um certo tipo de apreço por algo. Simplesmente canalizamos a nossa energia para focos diferentes.

É esta troca de informação que nos enriquece. Que nos alarga horizontes. E que nos leva a considerar outros pontos de interesse. Qual seria, então, a graça de termos gostos tão distintos se nos limitássemos a ignorá-los? Pior, qual seria o sentido de aceitar que não merecem que discutamos sobre eles? A propósito, essa passividade pode revelar bastante acerca da nossa personalidade. Porque a maior parte das pessoas acaba por encarar este ato como uma afronta, uma confrontação. Quando, na verdade, nem sequer é isso que se pretende. Como em tudo na vida, tem é que existir bom senso. E respeito. Porque há espaço para todos, sendo possível convivermos de uma forma saudável e sem cairmos no erro de atacar a opinião de terceiros. Assim, perdemos todos estes diálogos construtivos quando insistimos na ideia de que não podemos debater os nossos gostos. Podemos, sim. E, arriscando-me a ir um pouco mais a fundo na questão, devemos! Porque crescemos socialmente. E culturalmente também.

Por isso, discutam. E muito. Mas sempre com um pensamento presente: não é preciso rebaixar os gostos alheios para fazermos sobressair os nossos. A única coisa que precisamos é de partilhar, sem a pretensão de sermos superiores. Porque em matéria de gostos, não há melhores nem piores. Há gostos. Para tudo!

Comentários

  1. Ora nem mais...há gosto para tudo e é preciso respeitar...

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  2. Concordo com cada palavra!

    Os gostos são pessoais, devem respeitar-se. Infelizmente, na faculdade cheguei a sofrer de bullying por ouvir alguns tipos de música.

    Beijinhos! =)

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  3. Awww, o melhor comentário da vida. OBRIGADO <3 era mesmo isso que queria passar!

    Sou extamente da mesma opinião que tu e acho que os gostos são perfeitamente discutíveis se, como bem dizes, a outra pessoa conseguir refutar a opinião de forma calma e como quem quer mesmo ouvir! Muitas vezes também me mantenho em silêncio, no que toda a opiniões do género, por saber que, do outro lado, há todo um vazio!

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  4. Indiscutivelmente, tenho gostos discutíveis, mas não gosto de favas e mau carácter!

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    Respostas
    1. Não gostas mas da última vez que comeste as que eram para o meu almoço...

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  5. Acho salutar a "discussão" ou troca de opiniões, pois por vezes obriga-nos a rectificar algumas coisas que de outro modo não chegávamos lá.
    Um abraço e boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  6. Acho que o que falta na maior parte dessas discussões é o respeito. Porque muitas pessoas quando trocam opinião sob determinada coisa é para tentar impingir a sua ideia no outro.
    Um beijinho grande*
    Vinte e Muitos

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  7. São gostos e cada um tem os seus ;)
    PS: Não me vou esquecer da somersby prometida :P

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  8. Nada me provoca mais comichão do que quando rebaixam algo de que gosto só para picar, sem argumentos válidos ou objetivo. "Não gosto de Harry Potter. Nunca vi, mas acho tão estúpido.". Cada um tem direito a gostar de x e não de y, no entanto, ter uma opinião formada acerca das coisas é, para mim, obrigatório antes de criticar. A pessoa pode não gostar do conceito de Harry Potter, mas dizer que é "estúpido" sem nunca ter visto? É ignorante e recuso-me a discutir com pessoas assim. Agora, falar de gostos não só enriquece as nossas opiniões, como nos abre os horizontes. Tenho a minha opinião, mas ouvir outras faz parte! Nem toda a gente tem de gostar de azul, e, ao falar-mos de amarelo, talvez comece a apreciar a cor um pouco mais. Gostos discutem-se, sim, mas com respeito à opinião de cada um e de forma construtiva.

    Xiá
    Coffee Cup

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  9. Nos dias de hoje é muito complicado ter uma conversa argumentativa. Para a maior parte se discordas não há hipótese! Ou és a favor ou contra e isso está errado!
    Gostos não se discutem mas é preciso saber ter uma conversa e expor a opinião livremente cada pessoa tem o seu ponto de vista!
    Beijinhos belo tema*

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  10. O que seria do azul se todos gostassem do amarelo? ;)
    Com respeito e educação essas discussões podem se tornar conversas bastante agradáveis :)
    Bjinhosss
    https://matildeferreira.co.uk

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  11. Ora nem mais. Há que saber respeitá-los todos (os gostos). Adorei.

    Hoje:- Pétalas em paixão silenciosa.
    .
    Bjos
    "Feliz dia dos namorados"
    Votos de uma boa Quarta-Feira.

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  12. Cada pessoa tem os seus gostos, há que respeitá-los! :D

    amarcadamarta.blogspot.pt

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  13. Ora aí está. Muito mais coerente é esta última expressão: há gostos para tudo, assim como há lugar para todos, embora este mundo em que vivemos, por vezes possa dar uma ideia contrária.
    Muito pior do que não gostares de música clássica, é gostares do FCP eheheh (gosto de distinguir FCP do Porto, do mesmo modo que gosto de distinguir o Porto do Norte lol).

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  14. Concordo com este texto que escreves-te, além de belo, senti-o tão verdadeiro em cada palavra tua.

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  15. PODES POSTAR ESTE POST TODOS OS DIAS QUE EU NÃO ME CANSO DE O LER!!! VOU COLAR ISTO NA TESTA E ANDAR TODOS OS DIAS ASSIM!!!! tens toda a razão, andreia, toda a razão!

    r: thaaaaanks :)

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  16. É verdade! Gostos não se discutem. Respeitar é diferente de concordar. Não implica que ao discordar de ti, te desrespeite :/ E o melhor, nessas situações, é fazer o que tu fizeste... nem responder.
    Beijinho*

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  17. Concordo imenso contigo. Eu adoro debater sobre qualquer tipo de assunto que saiba minimamente sobre o mesmo. Acho que faz bem e conseguimos ver outros pontos de vista se não os nosso, expandimos horizontes.
    Não vou espezinhar alguém que pense de forma diferente, da mesmo forma que por vezes é preciso ser mente aberta para falar.
    Gostei imenso :D

    Beijinhos,
    DEZASSETE | INSTAGRAM

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  18. CONCORDO TANTO! Já tinha pensado nisto e sim, eu também acho que os gostos se discutem e não tem mal nenhum desde que não se caia em julgamentos e se perca o respeito.
    Em relação ao episódio que contaste, se fosse comigo também me iria remeter ao silêncio, porque com certas pessoas não vale a pena e só iríamos dar asas a uma discussão sem sentido nenhum.
    É bom que se discutam os gostos, que se defenda, que se aprendam coisas, até pode vir a ser um gosto nosso, nunca se sabe. Por isso, sim, que se continuem a discutir, não nos faz mal nenhum desde que seja uma discussão saudável :)

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  19. Eu tenho a mesma atitude confesso! Sempre que digo que não gosto de x e alguém me responde com "tu não percebes nada..." retribuo logo com silêncio. Com essas pessoas não é preciso argumentar nada porque elas não estão disponíveis para ouvir.
    Adoro discutir gostos, de forma educada claro. Refletir, ouvir diferentes opiniões,... Isso só nos enriquece, na minha opinião!

    Adorei o blog, irei passar por aqui mais vezes sem dúvida:)
    Beijinho!

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  20. Que verdade tão grande! Os gostos são de cada um, mas não é por isso que não podem ser discutidos de modo correto, ou melhor dizendo debatidos, para que com isso percebamos os motivos dos outros. Pessoalmente acho fascinante tentar perceber o que move as outras pessoas, aquilo que lhes dá a motivação para realizar determinada ação que está ligada com os seus gostos.
    No entanto, tal como referiste muito bem, há pessoas que veem o questionamento curioso dos seus gostos como uma afronta aquilo que são, o que elimina qualquer possibilidade de uma conversa construtiva. E também há aqueles que rebaixam deliberadamente os gostos dos outros, como se os seus fossem superiores, o que leva ao mesmo desfecho dos outros.

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  21. Gostos não se discutem. será uma maneira de terminar o diálogo entre duas ou mais pessoas e uma delas não pretender mais continuar. Querendo, portanto, mudar de assunto. Porque penso que devem ser discutidos. Porquanto temos liberdade para o podermos fazer. Desde que não sejam ofensivos.
    Tenha uma boa noite dos namorados Andreia.

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  22. Tão verdade acho que todos devemos respeitar gostos de cada um, pois são coisas que não se discutem.
    http://retromaggie.blogspot.pt

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  23. Exatamente isso :P O ideal é, tal como dizes, adequar às necessidades de modo a que também não hajam gastos excessivos :P

    Nem mais, nem menos <3

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  24. Verdade, pena que muitas vezes as pessoas se esqueçam disso...

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  25. Concordo contigo, devemos saber ouvir e ser ouvidas e discutir gostos ou temas variados faz com que aprendamos sempre alguma coisa. Beijinhos*

    PS: segui!

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  26. Sempre se ouviu dizer que os gostos não se discutem,há pessoas que têm uns gostos,outras pessoas têm outro tipo de gostos,por isso,não há nada a dizer sobre isso!!

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  27. Eu e o David somos a prova de que os gostos se discutem, sim. Somos diferentes em quase tudo mas temos liberdade para falar um com o outro sobre os nossos gostos. Eu falo-lhe de educação e música, ele fala-me de carros e bonsais. Isso faz com que alarguemos os nossos horizontes. Quando estou com um grupo de pessoas também expresso os meus gostos e acho bom que exista uma partilha. Não gostamos todos de amarelo e é engraçado ver as opiniões das outras pessoas!

    Olha, por exemplo... Numa das últimas aulas o meu professor de violino disse-me para eu escolher a música que eu queria aprender a seguir. Resisti à tentação e disse-lhe que preferia que fosse ele. Dessa forma saio da minha zona de conforto e descubro coisas novas. Deu-me uma música de jazz, algo que eu nunca teria escolhido. E aquele pormenor da música clássica é falso. Eu até gosto de ouvir mas não sou consumidora assídua. Não é por isso que não entendo de música. Ou que não a sinto. Entender a música não é apreciar um estilo em específico.

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  28. Amei conhecer o teu blog. Vim parar a ele através do Minorkisses. Confesso que quando olhei para o tamanho do texto, fiquei entro o ir e o ficar. Acho que já estou aquele tipo de pessoa que anda a correr na blogosfera rsrsrsrssrsr Mas foi bom parar, entrar em slow motion, e deliciar-me com este texto. Assino por baixo cada palavra tua. (Sabes, depois desse pensamento, ocorreu-me outro: este é o tipo de blog para leitores que querem desfrutar do prazer de ler um bom texto; leitores que não querem saltar de blog em blog, mas terem uns quantos que seguem de perto, e os quais visitam com fidelidade, porque sabem que vão acalmar a mente com uma leitura que toca o interior. Boa continuação!)

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