Sedução obsessiva

Imagem retirada do google

«Obsessão é uma paixão negativa», Paul Carvel

Portas contíguas. De números ímpares. Escondendo histórias singulares, dentro de quatro paredes irregulares, cujos fragmentos carregam a escuridão de almas feridas.

De repente, uma vontade louca de aventura. Corpos que se reconhecem pelo toque ardente de quem não se conhece, mas que ignora o perigo da surpresa. E sem se darem conta, o hábito de fugir a meio da noite para se encontrarem numa cama alheira ganha contornos obsessivos.

Lentamente, a camisa de dormir cai, deixando a nu um corpo feminino e frágil. Tapada pela sombra de um corpo alto e musculado, igualmente sem roupa. Um clique. Uma expressão de desejo. E, no fim, um sorriso tímido, completamente contraditório a toda a atitude dominante que encheu o quarto 23 há escassos minutos. 

- És a minha musa! És minha...

As palavras sussurradas não esconderam todo o controlo presente na voz. Ao mesmo tempo que o procurava libertar, ia prendendo um corpo que não era seu. Aprisionando-o, usando, sempre que lhe apetecia. As marcas eram visíveis. E aquilo que parecia uma procura inofensiva, tornou-se numa perseguição silenciosa. 

- Toma cuidado. Ainda te vais magoar.

E ignorando os avisos, a porta voltava a abrir-se. Os gemidos de prazer com um completo estranho silenciavam as inseguranças que pareciam ensurdecedoras à luz do dia. Um novo clique. E instala-se o medo. A porta está tão perto. Mas a distância parece infinita. Sufoca. E sem mais poder fugir, as marcas negras de horror tornam-se visíveis. E chocam. Mas o grito de socorro continua a tardar.

É à noite que a verdadeira identidade se revela. Até ao dia em que por baixo da porta 23 uma mancha vermelha começou a alastrar-se pelo chão...