SE EU SOUBESSE O QUE SEI HOJE

Fotografia da minha autoria


«A essência do conhecimento consiste em aplicá-lo»


A corda que nos permite equilibrar na vida é sempre ténue. Escorregadia. Imprevisível. Porque nos alerta para a importância de estudarmos o chão que pisamos, compreendendo o peso dos nossos passos. Mas esta aprendizagem requer tempo e compromisso. E, mesmo assim, permanecerá a dúvida de termos seguido - ou não - a rota certa. Nunca o saberemos na totalidade, uma vez que existem inúmeras hipóteses. Portanto, não é justo analisarmos o passado com o filtro do presente, até porque as nossas ferramentas divergem. E a nossa maturidade vai-se construindo pela experiência. E pela dicotomia tentativa-erro.

Se eu soubesse o que sei hoje, reformularia vários aspetos da minha jornada. E começaria por não estar sempre tão disponível para os outros. Não que me arrependa de tudo o que dei de mim, pois cresci com dois princípios basilares: dar sem cobrar e «fazer o bem sem olhar a quem». Porém, esta postura acaba por nem sempre ser saudável para ambas partes, sobretudo, se carecer de limites. E um não dito no momento oportuno é, também ele, uma prova de amizade. De empatia. De amor. Toda a minha vida acreditei que as pessoas só estavam, de facto, conectadas se mantivessem a porta constantemente aberta, como se as relações necessitassem deste ritmo frenético e excluíssem a individualidade dos envolvidos; como se deixássemos de ter um espaço só nosso e uma voz. Mas isso não poderia estar mais errado. Porque a união tem que representar companheirismo e não obrigatoriedade.

Eu não amo menos as minhas pessoas por recusar um convite ou por priorizar o meu tempo. Simplesmente, aprendi a escutar-me e a orientar-me pelo caminho que sinto ser o mais indicado. No entanto, com as emoções à flor da pele, tenho que ser sincera: houve alturas em que me questionei se o desgaste sentimental compensou, porque o retorno adquiriu uma forma de muro ou de ingratidão; questionei-me se valeu a pena lutar tanto por determinadas ligações, quando algumas já nem permanecem na minha vida. E isso fez-me, ainda, pensar se as pessoas não se acomodam à nossa entrega, ao nosso peito pronto para as balas. E, pior, se não esperam que sejamos nós a ser consumidos pelos seus problemas. Em consequência, compreendi - tarde, mas ainda a tempo de evitar uma desordem e um caos plenos - que é crucial resguardarmos o nosso coração. Para evitarmos desilusões desnecessárias. E para impedirmos que nos cobrem algo que cedemos por generosidade, por carinho, por serem tão especiais para nós: a nossa presença, mesmo quando não pode ser física. Chega a um ponto em que parece que somos prisioneiros nestas relações e não é isso que se pretende. Porque temos que nos mover pela partilha e não por uma espécie de hierarquização, onde uma das partes é mais importante do que a outra.

As pessoas vão até onde as permitimos. E também não é correto estender o tapete e, mais tarde, retirá-lo sem piedade. É necessário equilíbrio. Comunicação. E transparência. Além disso, é mesmo fundamental não termos medo de dizer não, porque isso não indica que lhes estamos a falhar, muito pelo contrário, é sinal de que as respeitamos, abrindo o jogo e colocando tudo em evidência. Logo, se soubesse o que sei hoje, teria feito por colocar um travão mais cedo. Mostraria a minha predisposição, porque nunca deixaria de estar perto e de ser colo, mas sem me esquecer de que preciso de cuidar de mim. E de perceber qual é a ocasião certa para ficar ou para recuar. E, aos poucos, vou procurando fazer isso mesmo. É claro que a meta permanece longe, porque é um trabalho para toda a vida. Mas sinto-me cada vez mais segura da minha mudança de paradigma. Porque, de um modo consciente, não me ausento em definitivo, mas também já não me anulo.


[Inspirada nesta publicação da Rita da Nova]

Comentários

  1. Vamos aprendendo com os erros e a vida encarrega-se de nos mostrar outros caminhos. Dizes aí umas verdades.

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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    1. Tudo é aprendizagem, desde que consigamos retirar a mensagem de cada situação. Muito obrigada!

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  2. Li um livro de um escritor suíço, no qual o protagonista regressa ao passado e comete os mesmos erros‼‼

    Errar é humano, não é verdade⁉

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    1. Muitas vezes, também acontece isso. Identificas o erro, mas acabas por cair no mesmo.

      Sim, é verdade

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  3. a minha reflexão de viagem, esta manhã, também foi algo semelhante a isto que disseste.

    Muito porque há uns semanas, uma amiga sofreu um grande desgosto. Estive sempre disponível para a ouvir e estive sempre que considerei importante e ela aproveitou essas oportunidades todas. Também lhe dei espaço quando achei que ela assim necessitava, para reflectir e seguir em frente.

    Recentemente precisei dela, disse-lhe algo em tom de desabafo. a única coisa que me disse foi: há coisas piores... e pronto.

    às vezes não são os outros que não se preocupam, somos nós que se preocupamos demasiado com o bem estar dos outros. Foi a conclusão a que cheguei.

    Beijinho e um bom dia!

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    1. É essa desconsideração que não consigo compreender, porque não é correto. Temos que saber estar para os outros como eles estão para nós. E eu entendo que todos temos formas diferentes de dar colo, mas há um princípio de lealdade básico que não pode ser esquecido.

      Pois, se calhar o problema é mesmo esse :/

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  4. Só me ocorre dizer que gostei do que li e aproveito para desejar a continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  5. Foi uma lição que aprendi bem, e hoje em dia, só dou o meu tempo a quem o merece, inclusive a mim. E se alguém que eu decidi que o merece me desilude, também não perco tempo em lho dizer. Esta coisa do tempo e dos filtros têm muita coisa que se lhe diga!

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    1. Tem mesmo. E nunca é linear! Mas quando interfere com a nossa sanidade, temos mesmo que aprender a não facilitar

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  6. É na fase adulta que reflectimos sobre o que ficou para trás e percebemos que com o nosso amadurecimento e experiência, faríamos coisas diferentes.

    Concordo plenamente com o teu texto.

    Beijinho graande!

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    1. É quando começamos a ter mais maturidade e ferramentas para analisar as várias situações, faz parte.

      Muito obrigada!

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  7. Oh minha querida como eu te entendo, acredita... leste-me a alma com este título e este texto...nem te digo nem te conto se eu soubesse o que sei hoje... eu preciso de estar bem para ajudar os outros a estarem bem e para isso preciso dos meus momentos ❤️

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    1. Estarmos bem é mesmo fundamental, caso contrário não conseguimos auxiliar quem precisa, nem mesmo a nós.

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  8. com certeza a vida vai nos ensinando muito e mudando nosso jeito de encarar algumas situações

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

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  9. Como gostei de ler este texto.
    Será que ainda estou a tempo de saber dizer não em certas ocasiões?
    Muitas vezes digo se soubesse o que sei hoje mudava muita coisa, por fim sou uma tola volta ao mesmo.
    Beijinhos, continuação de boa semana

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    1. Muito obrigada!
      Acredito que sim, vamos sempre a tempo de o fazer
      Por vezes, faço exatamente o mesmo

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  10. Gostei de ler o que nesse seu texto li. Estou de acordo com o que escreveu. Bem como da forma que diz estar procedendo. Também digo, se eu soubesse o que sei hoje, não me tinha deixado levar em falsas lengas-lengas!

    Tenha um bom dia de Quarta-feira Andreia.

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    1. Muito obrigada, Edumanes!
      Quando temos mais conhecimentos e experiência é sempre mais fácil

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  11. A vida é um livro de aprendizagem a cada dia que passa
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  12. É importante sabermos dizer não, é algo que também estou a trabalhar comigo mesma.

    Beijinhos | danielasilva-oficial.blogspot.com

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  13. Ótimo texto. Você aprendeu algo muito importante, mas precisou seguir um caminho, uma jornada até chegar a estas conclusões. Portanto, não se arrependa pelo tempo que passou, pois não foi tempo desperdiçado: foi tempo de aprendizado.

    E mesmo que tenhamos apenas mais cinco minutos de futuro (e tenho certeza de que você ainda tem muitos anos), terão valido a pena todas as cabeçadas que demos e que farão com que saiamos daqui um pouco melhor do que quando chegamos.

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    1. Muito obrigada, Ana!
      Não me arrependo, de todo, até porque todos os nossos erros e tropeções servem para aprendermos. E é mesmo imprescindível passarmos por determinadas situações para compreendermos as mudanças que necessitamos de abraçar

      Sim, sem dúvida, concordo

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  14. Eu cometi esse erro e,no momento que mais precisei vi-me sozinha, porque a outra parte estava habituada a ser, tal como dizes, superior na hierarquia.
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. É isso que não pode acontecer numa relação, seja ela de que tipo for. Porque a noção de companheirismo tem que ser respeitada.

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  15. Muitas pessoas têm vergonha ou medo de se colocarem em primeiro lugar, não querem criar à sua volta rótulos de egoísmo superioridade, mania, etc.
    Não percebem que para gostar dos outros temos que gostar primeiro de nós e que a auto estima é uma mais valia na relação entre pares.

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    1. Temos tendência para brincar com o slogan «se eu não gostar de mim, quem gostará?», mas a verdade é que temos mesmo que gostar de quem somos. Temos que estar bem connosco, para conseguirmos estar bem com os outros. Caso contrário, vamos acabar por cobrar aquilo que sentimos em falta.
      Colocarmo-nos em primeiro lugar não é egoísmo, é uma postura imprescindível! Pena que nem sempre o compreendamos.
      Concordo totalmente contigo, Magui

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  16. Completamente d'accordo con il tuo testo.
    Buon venerdi.

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