A MINHA ESTANTE DE 30 LIVROS

Fotografia da minha autoria


«Vivemos melhor com menos, mas, cá entre nós, 
alguém vive melhor com menos livros?»


O minimalismo trouxe alguma paz de espírito à nossa casa interna e física, porque nos permitiu compreender aquilo que, efetivamente, nos pode ser útil. No entanto, somos feitos de emoções e temos uma capacidade singular para criar memórias nos mais diversos objetos e peças. Portanto, este processo nem sempre é intuitivo e célere. Requer desapego e auto-controlo. E uma perceção clara dos benefícios. Mas, quando o abraçamos, há um aconchego diferente. Há uma sensação de liberdade inspiradora e mágica. E acabamos por nos deixar ir, embalados nos seus resultados. Só que tudo isto muda de figura quando chegamos a um compartimento muito específico: a nossa biblioteca.

No momento em que percebi que necessitava de libertar espaço nas minhas estantes, senti um peso no lado esquerdo do peito, pois é uma despedida que custa sempre - mesmo que a leitura não tenha sido a mais satisfatória. Na Feira das Entrelinhas, coloquei vários exemplares à disposição, porém, continuo a ter as prateleiras bem compostas e coloridas, transmitindo-me uma segurança que só é possível na literatura. Embora tenha um profundo orgulho neste tesouro em ascensão, não descuro uma parte essencial: a sua arrumação, até porque é uma maneira de revisitar histórias que me completam e de contabilizar todas aquelas que ainda me faltam descobrir. E, no que diz respeito à organização, Marie Kondo tem tido uma palavra consistente, com o intuito de nos orientar no caminho da felicidade, desprendendo-nos do que não nos acrescenta, ao mesmo tempo que nos leva a priorizar um lugar onde apenas habite o que precisamos. O que sustenta a nossa identidade. O que mantém vivo este pulsar de amor.

Reduzir a minha estante a 30 livros parece-me surreal. E altamente improvável - pelo menos, num futuro próximo. Contudo, ao ver o vídeo da Beatriz [Suspiros da Bea], senti o desafio a correr-me na pele e sentei-me a analisar as obras que têm acompanhado o meu crescimento. Como já esperava, não foi uma decisão fácil. E ainda bem que é meramente hipotética. Porque há imensos livros que me trazem alegria. Além disso, não seria correto catalogar uma lista definitiva, porque tenho uma pilha por ler. Assim, seria sempre uma decisão em possível movimento. Por outro lado, foi um exercício emocionalmente interessante, porque coloca-nos em contacto com o verdadeiro impacto de algumas narrativas - só de observar o nome, há uma energia que nos inquieta por dentro. E nem todos nos despertam essa sensação. No método que esta especialista - e autora - nos apresenta, «tudo encontra o seu lugar», desde que nos traga uma luz positiva. E, talvez, transformadora. Porque se foca na nossa essência.

Esta tarefa não deixa, ainda assim, de ser ingrata. E de cortar as asas à nossa biblioteca. Mas também nos garante uma certeza: cada livro que fica tem uma mensagem especial. E o dialeto com que nos comunica permanecerá para lá do termino da sua leitura. Portanto, após bastante ponderação, e sem qualquer ordem específica, se tivesse que manter somente 30 livros, as minhas escolhas seriam as seguintes:

1. Como é Linda a Puta da Vida, Miguel Esteves Cardoso;
2. Equador, Miguel Sousa Tavares;
3. O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry;
4. Orgulho & Preconceito, Jane Austen;
5. O Pinto Debaixo do Lava-Loiças, Afonso Cruz;
6. A Desumanização, Valter Hugo Mãe;
7. As Flores Perdidas de Alice Hart, Holly Ringland;
8. O Quebra-Nozes, Hoffmann;
9. A Bela e o Monstro, Disney;
10. A Criança Que Não Queria Falar, Torey Hayden;
11. Debaixo de Algum Céu, Nuno Camarneiro;
12. Diário da Tua Ausência, Margarida Rebelo Pinto;
13. O Pintassilgo, Donna Tartt;
14. Travessuras da Menina Má, Mario Vargas Llosa;
15. Capitães da Areia, Jorge Amado;
16. Contos da Cidade das Pontes, João Pedro Mésseder [org.];
17. Onde Vivem os Monstros, Maurice Sendak;
18. A Vida Num Sopro, José Rodrigues dos Santos;
19. A Casa Torta, Agatha Christie;
20. Crónica de Uma Morte Anunciada, Gabriel García Márquez;
21. A Persistência da Memória, Daniel Oliveira;
22. O Sol e as Suas Flores, Rupi Kaur;
23. Harry Potter e a Pedra Filosofal, J. K. Rowling;
24. Sintonia, Cláudia S. Reis;
25. Cinco Quartos de Laranja, Joanne Harris;
26. Diogo Piçarra em Pessoa, Diogo Piçarra;
27. Os Homens que Odeiam as Mulheres, Stieg Larsson;
28. Bons Sonhos, Meu Amor, Dorothy Koomson;
29. Somos Todos Idiotas, Diogo Faro;
30. A Que Sabe a Lua?, Michael Grejniec.

Optei, previamente, por selecionar só uma obra de cada autor, caso contrário, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Sousa Tavares e Torey Hayden ocupariam todos os lugares disponíveis. Pelo mesmo princípio, não incluí sagas completas, apesar de saber que não seria capaz de abdicar dos volumes da Millennium. Logo, concentrei-me na componente sentimental, que não se encerra na história escrita, mas que traduz toda a história do livro. E todos os que enumerei têm um lugar cativo nas minhas estantes. E na minha vida. Para sempre.


E vocês, quais seriam os 30 livros que mantinham?

Comentários

  1. Quando compro um livro novo, ponho um antigo na vitrine.
    Embora sofra muito com isso, tenciono colocar até ao Natal uns 50 livros na vitrine.

    Mantenho toda a obra de William Shakespeare, de Johannes Wolfgang von Goethe, de Thomas Mann. Summa Summarium: os clássicos. Assim como todos os livros portugueses, mesmo dos que não gosto.

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    1. Por vezes, é necessário reorganizar as nossas estantes, por muito que isso custo. Assim também vamos dando espaço a novas leituras.

      É tão bom quando há livros que nos ficam para sempre *-*

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  2. Tenho bastante dificuldade em me desfazer dos livros, até porque espero que o eu filhote os leia um dia. No entanto é verdade que o destralhe nos ajuda a alma, mas por ora estou a fazer o mesmo noutras áreas dentro de casa lol!

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    1. Só de pensar nessa possibilidade, até me dá um aperto no coração!
      Essa passagem de testemunho, no fundo, é tão bonita *-*
      Tal e qual ahahah já que na biblioteca não mexe, vou reformulando no resto

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  3. Nunca tinha pensado em reduzir a biblioteca...normalmente pensa-se em aumentar!

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  4. Confesso que é uma escolha difícil de fazer principalmente porque os livros do José Luís Peixoto ocupam grande parte da estante. Talvez me dividisse entre José Luís Peixoto, Nicholas Sparks, E.L.James e Miguel Esteves Cardoso.

    Beijinhos!

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    1. Compreendo, também teria muita dificuldade nesta tarefa. Até porque sei que seria impensável desfazer-me dos livros de MEC, MST, Torey Hayden, Afonso Cruz... E já nem incluí os da Margarida Rebelo Pinto, caso contrário, o número teria excedido bastante

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  5. Reduzir livros é sempre complicado, mas acho que fizeste uma boa escolha! Tenho curiosidade com algumas dessas obras! :D

    www.amarcadamarta.pt

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    1. É uma tarefa bastante ingrata e difícil. Muito obrigada :)

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  6. Acho que as escolhas nunca são fácil de fazer, mas para quem tem muito livro é uma boa sugestão, não só nessa área, mas em outras
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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    1. Fazê-lo nos livros é mesmo muito complicado, até porque a tendência é querer aumentar a biblioteca e não diminuí-la :p

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  7. Menos é mais, mas ainda não consigo fazer isso em relação aos livros, até porque ainda tenho alguns por ler :)
    Temos alguns em comum e Desumanização é um deles :)
    Eu agora ficava aqui toda a vida a falar deste post :)
    Beijinhos

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    1. Em relação aos livros também ainda não sou capaz, apesar de já ter selecionado alguns para vender. Mas quando as histórias não nos marcam, acaba por ser mais fácil. Agora, quando têm um impacto tão especial, é praticamente impossível.
      Adorei esse livro!

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  8. É um desafio bem interessante que também só conseguiria fazer hipoteticamente, sou incapaz de me desfazer dos livros que li, sei que mais cedo ou mais tarde os volto a ler!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. Esse caráter hipotético deixa-nos mais tranquilos, porque só de pensar na questão até se fica de coração apertado :p
      Há livros que também sei que, mais cedo ou mais tarde, acabarei por revisitar

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  9. Respostas
    1. Já foi suficientemente difícil fazê-lo numa brincadeira. Passar a uma ação efetiva seria impossível :o

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  10. Adoro!!
    Obrigada por teres aceite o desafio. De facto, só o faria se fosse na imaginação.
    A Criança Que Não Queria Falar é um excelente livro e agora senti-me mal por não ter adicionado à minha lista xD
    Beijocas!!

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    1. Eu é que agradeço pela inspiração :)
      Enquanto for só na imaginação, estamos bem ahahah
      Foi o livro que me fez despertar, verdadeiramente, para a leitura. Depois, fiquei completamente fascinada por todo o trabalho desenvolvido pela Torey Hayden

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  11. A leitura é um bom ensinamento. Acho que comprar bons livro para ler, não é dinheiro mal empregue.

    Tenha uma boa noite Andreia.

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    1. Também acredito nisso. Investir em livros, é investir na nossa formação *-*

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  12. Nós não conseguimos ver a nossa estante resumida a tão poucos livros... Não! Isso nem pensar!!

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    1. Também não conseguia! Que dor no coração só de imaginar :o

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  13. Ui, que decisão tão difícil! E, como dizes, ainda bem que é hipotética, mas percebo o princípio, perceber quais os livros que realmente fazem parte de nós :)

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    1. Acredito que todos os livros nos marcam, mas há um grupo deles que se cola à nossa pele. Ainda assim, ter que abdicar de alguns deles seria duro.

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