O QUE APRENDI SOBRE MIM NA QUARENTENA
Fotografia pessoal |
«Dançar ao som de valsas imaginárias»
O mundo dentro da minha cabeça não serena, porque são demasiados os pensamentos em movimento. E a verdade é que não necessito de circunstâncias que nos isolem para refletir sobre inúmeros aspetos pessoais, atendendo a que vou fazendo essa análise quase de imediato. Porém, é quando o silêncio se destaca que a minha voz interior fica mais audível. E, por consequência, torno-me mais consciente de mim.
Neste período de quarentena, foram várias as oportunidades que encontrei para me sentar comigo e compreender as mudanças que estava a viver. Algumas mais profundas do que outras, é certo, mas todas parte do meu crescimento. E se houve dias mais desafiantes emocionalmente, também consegui estabelecer pontos de equilíbrio para manter a mente sã. Portanto, sem desvalorizar o quanto é importante gerirmos as nossas inseguranças e quedas, porque não estamos bem o tempo todo, foquei-me naquelas particularidades que, não sendo imprescindíveis, ajudam a desanuviar e, talvez, a reunir um pouco mais de motivação.
O conhecimento da minha essência fica guardado numa gaveta especial, pois reforcei a pessoa que sou perante as reviravoltas e adversidades que o futuro nos reserva. Mas, no desenrolar deste percurso incerto, consegui elencar um conjunto de trivialidades que também me definem.
GOSTO DE LER COM MÚSICA
Curiosamente, sempre estudei bem com música. Aliás, era parte essencial do processo. Contudo, para ler, não era capaz de ligar o rádio ou qualquer plataforma digital, porque sentia que me distraia da história, focando-me mais na letra das canções. Nos últimos meses, tem sido uma peça fundamental para me manter concentrada. E é extremamente agradável descobrir um livro com a banda sonora apropriada como fundo.
E GOSTO DE LER NO CHÃO
Alterno sempre entre a cadeira do computador e a minha cama, mas tenho encontrado outro conforto a ler no chão, perto da estante. Não sei explicar o motivo, mas tem sido uma escolha bastante recorrente.
O PODER DAS SESTAS
Sempre tive grande dificuldade em dormir durante a tarde - e até considerava um desperdício de tempo. No entanto, como acordo cedo e adormeço tarde, reservar 20/30 minutos para uma sesta tem sido uma espécie de salvação. Não o faço todos os dias, mas parei de resistir quando o cansaço se torna mais evidente [e tenho essa possibilidade]. Porque nem é sinal de fraqueza, nem é um atraso na vontade de ser produtiva. É, sim, uma demonstração de respeito pelo meu bem-estar.
ESTOU MAIS CONSCIENTE DO MEU CORPO
Quer no que diz respeito aos limites físicos, quer à alimentação e, inclusive, ao seu formato. Numa altura em que preciso de reorganizar o meu armário e não é possível experimentar roupa, comprar as peças apenas com a ajuda do meu olhar e daquilo que considero que me ficará bem é um risco e não me deixa, propriamente, confortável, pois prefiro sempre ver na loja antes de apostar nesse investimento. Contudo, tudo o que adquiri não precisou de ser trocado/devolvido, deixando-me mais segura das minhas escolhas. E com a certeza de que me conheço melhor.
AFINAL, GOSTO DE FAZER EXERCÍCIO FÍSICO
Não passou a ser a minha atividade favorita, nem descobri toda a magia que alguns testemunhos espelham, mas a verdade é que tem sido uma parte importante do meu dia, pois permite-me desligar dos meus pensamentos periclitantes e sentir-me mais desperta para abraçar outras tarefas. Além disso, e mais importante, sei que estou a cuidar da minha saúde. Não entro em competições e respeito tanto o meu corpo, como o meu ritmo. Mas vou-me desafiando a ser sempre mais ativa.
PASSAR O DIA DE PIJAMA NÃO INTERFERE - EM NADA - COM A MINHA PRODUTIVIDADE
Apesar disso, arranjar-me, quase como se fosse sair, trouxe-me uma sensação de normalidade no meio do caos. Por essa razão, ainda que adore estar de pijama todo o dia, tenho mantido a rotina que me esperava, caso fosse necessário ir à rua. E passar algum tempo fora de casa. É tudo uma questão de predisposição. E temos de dar forma às estratégias que nos deixam mais confortáveis, mesmo que os demais não as compreendam. Porque não são eles que têm de as entender.
SOBREVIVO SEM REDES, MAS NÃO SEM O BLOGUE
Embora utilize as minhas redes sociais diariamente, não usufrui mais delas por estar em casa. E sei que consigo desligar deste universo em rede com mais facilidade, até porque o telemóvel não está sempre ao pé de mim. Já o blogue é uma das minhas fontes de sanidade, uma vez que implica que escreva, que fotografe, que reflita, que seja criativa e que comunique. Portanto, para mim, tem um caráter muito mais imprescindível. Sei que todas estas componentes também podem ser realizadas noutras plataformas, mas no blogue tenho mais liberdade para desenvolver as minhas ideias/pensamentos e isso é aliciante.
Num apontamento mais sério, esta quarentena também me demonstrou o quanto é fácil resguardar-me na minha bolha. Porque não quero incomodar, nem cair naquele ponto saturante do disco riscado. Mas a verdade é que o silêncio pode soar a ausência e interferir com os nossos laços de amizade. Não sendo, de todo, esse o objetivo, não podemos descurar esse cuidado com os nossos. Não precisamos de conversar todos os dias, porém, convém não desaparecermos do mapa.
36 comments
Olá Andreia!
ResponderEliminarEsta quarentena trouxe-nos auto-conhecimento em áreas completamente diferentes.
Também passei vários dias de pijama e se ao inicio ainda me sentia "culpada" por isso, deixei de sentir tal coisa, passado algum tempo.
Passei a escrever mais no blog, mesmo estando em teletrabalho!
Assim que pude volte a fazer as minhas caminhadas, para o meu bem estar físico e principalmente psíquico!!
Beijos e abraços.
Sandra C.
Bluestrass
Isso é tão bom!
EliminarSinto que isso acontece, porque ainda se associa muito o andar de pijama como uma forma de desleixo. E não tem de o ser. Se a pessoa está em casa e lhe apetece andar assim vestida, qual é o problema? Não é a roupa que a condiciona na produtividade, é a predisposição.
Foram belas descobertas :)
Não fiz conhecimento da minha essência durante o período da QUARENTENA.
ResponderEliminarQue prescindo de beijos e abraços já o sabia antes.
Embora sejamos mulheres muitíssimo diferentes, gosto da tua maneira de escrever.
Na qualidade de pessoa que adora abraços, essa parte tem-me custado bastante :/
EliminarMuito obrigada!
Olá Andrea, tudo bem?
ResponderEliminarEu já praticava algumas coisas antes da quarentena, como ficar sem redes sociais (nas últimas semanas tive o meu celular clonado então, fiquei uma boa parte sem whatsapp), ficar o dia todo de pijama eu já ficava então, não tive nenhum surtinho que outras pessoas tiveram que passam os dias trancados em casa sem poder ver o que está acontecendo nas ruas. Nesse momento da pandemia estou trabalhando fora, eu preferia estar dentro de casa enquanto outras pessoas pensam em sair.. é até meio doido isso. hahaha
Beijos
www.purestyle.com.br
A forma como funcionamos perante as mesmas circunstâncias é fascinante :)
EliminarClaro, compreendo, até porque estava mais segura
Olá Andreia querida
ResponderEliminarAdorei a postagem.
Me vi nela em várias situações.
Acho que estamos passando por tempos difíceis e é muito bom aprendermos um pouquinho mais de nós mesmos.
Beijos
Ani
Muito obrigada! Fico contente por esse retorno :)
EliminarSim, sem dúvida
Dá para nos conhecermos melhor.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Completamente :)
EliminarObrigada e igualmente, Francisco
Tenho em comum contigo a descoberta do exercício físico que surgiu durante o confinamento. O meu pai adquiriu uma bicicleta estática quando fez uma cirurgia ao joelho e eu comecei a pedalar lentamente. Os treinos fazem agora parte da rotina todas as manhãs, com banda sonora a acompanhar. :)
ResponderEliminarTambém descobri na quarentena o prazer de ler ebooks, alguns autores e editoras disponibillizaram ebooks e eu fui aproveitando. Numa semana decidi aproveitar para ler as histórias que tinha guardadas no computador e foi muito bom.
Beijinho grande!
Nem de propósito, há uns dias mencionei que queria adquirir uma :) de certa forma, conseguem deixar-nos mais relaxados.
EliminarIsso é mesmo muito bom!
Acho que nesta quarentena nos fez refleir em bastante coisas e pensar em outras que agora com isto tudo damos mais valor ao que não podemos fazer duarente esse tempo que estavamos em casa.
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Sinto que nos ajudou, sobretudo, a priorizar muitos aspetos centrais. Sim, sem dúvida :)
EliminarA pandemia só veio reforçar os hábitos que eu já tinha quando fui forçada a parar por motivos de saúde, e ouvir o corpo foi um deles 🧡 Trabalhei muitos anos sempre na companhia da rádio, primeiro da RFM, depois da Comercial, e no meu último emprego senti a falta pois o meu chefe dizia que o rádio era uma distração 😔
ResponderEliminarTambem
Gosto muito de ler sentada no chão da varanda 🥰
Ouvir o nosso corpo é mesmo fundamental!
EliminarA sério? Que desconsolo :( é tão bom ter a companhia da rádio, parece que as tarefas fluem melhor.
Que maravilha *-*
Teremos que aceitar, com humildade, as mudanças,
ResponderEliminarimpostas pelo bicho, mau, que dizem ser chinês
não devemos de forma alguma perder as esperanças
outros obstáculos já foram vencidos pelo povo português.
Gostei de ler essa bela cronica que escreveu. Com sinceros desejos de uma boa tarde para si Andreia.
Isso mesmo, Edumanes. Temos de manter a esperança :)
EliminarMuito obrigada!
Cada dia que passa é sempre uma contínua aprendizagem, não é mesmo?
ResponderEliminar.
Abraço
Sem qualquer dúvida. E ainda bem que é assim :)
EliminarTambém descobri imensa coisa sobre mim na quarentena!
ResponderEliminarE não, passar o dia de pijama não é sinal de menor produtividade.
https://voltaemeiaa.blogspot.com/
É tão bom fazermos essas descobertas pessoais :)
EliminarNão mesmo! E, na maior parte das vezes, só penso que se significasse isso, então, não conseguia adiantar grande parte das publicações semanais durante o fim de semana, que é quando passo mais tempo de pijama ahahah
Vou experimentar ler no chão :P
ResponderEliminarTenho adorado a experiência :D
EliminarMas que bem, ler no chão também gosto xD
ResponderEliminarSabe mesmo bem :D
EliminarEsta quarentena foi dura em vários aspectos. Foi super mau para mim, fiquei esgotada em todos os sentidos, e muitas vezes fui-me abaixo. Detesto enfraquecer, mas cada vez mais, não me aguento e sinto-me mal. Vou-me tentando conhecer, saber o que quero verdadeiramente, se não estou a optar por um caminho que não é o meu, só porque quero escapar do mundo em que atualmente vivo. Custa parar. A quarentena parou-me a todo o custo, quando o que mais queria era correr e voltar à normalidade (que está longe de voltar a ser como antes).
ResponderEliminarGosto também de ler no chão. Se for ao ar livre melhor ainda. Deixei-me ficar em pijama muitos dos dias e senti-me mal por isso. Ando a arranjar-me cada vez menos e desgosto por completo na versão que estou a assumir. Há coisas que têm de ser mudadas mas digo sempre que tenho tempo. Talvez, um dia, esse tempo me falte. 🤐 adorei a tua reflexão! 😍
Esta quarenta foi um desafio a vários níveis, a começar pelo mental/emocional. E nem sempre é fácil passar de um extremo ao outro, porque acabamos por não encontrar um equilíbrio que nos faça bem.
EliminarAh! Sim, sem dúvida, ao ar livro é ainda melhor *-*
Eu ia-me arranjando, pela questão que mencionei no texto, mas, confesso, não me incomoda nada passar o dia de pijama.
No teu ritmo, vais ver que encontrarás uma versão de ti que te preencha <3
gostei muito da reflexão. não comprei roupa durante a pandemia e descobri o exercício físico em casa. nunca tinha feito o semelhante. prefiro o exterior/aulas de ginásio :)
ResponderEliminarMuito obrigada! Eu como não tenho grande feitio para ir ao ginásio, descobrir exercícios que podem ser facilmente executados em casa foi maravilhoso :D
EliminarSó grandes aprendizagens! É "engraçado" como situações fora do normal nos fazem aprender tanto sobre nós mesmos. Vou tentar fazer um exercício semelhante sobre a minha quarentena.
ResponderEliminarA Sofia World
Por muito dispensáveis que estas circunstâncias fossem, a verdade é que nos obrigam a parar e a olhar mais para nós. Se, até aqui, vivíamos sempre ligados à ficha, agora, sentimos a necessidade de nos conhecer, de nos ouvir. E isso é mesmo importante.
EliminarFico à espera :D
Acho que todos nós tivemos algum tipo de revelação esta quarentena. Talvez por causa do tempo para reflexão ter sido superior ao normal :)
ResponderEliminarÉ um tema bastante interessante para fazer uma publicação!
Acredito que sim e, em parte, ainda bem que assim foi, porque é sinal de que nos estamos a escutar mais :)
EliminarAcho que todos acabámos por refletir um bocadinho sobre nós nesse período. E conhecermo-nos e aproximarmo-nos mais de nós só nos faz bem, não é? Fico mesmo feliz por ti, por teres encontrado coisas que te preenchem e que te fazer ser ainda mais Andreia. No meio do caos é bom encontrar paz <3
ResponderEliminarTambém tenho essa ideia e acho maravilhoso que seja assim, porque implica crescimento e autoconhecimento!
EliminarNão diria melhor, minha querida. É mesmo isso <3