13 Reasons Why

Fotografia da minha autoria

«Não podes parar o futuro. Nem voltar atrás ao passado. A única maneira de perceberes o mistério... É carregando no play»


Os comentários sobre 13 Reasons Why [Por Treze Razões] foram-se multiplicando gradualmente. No entanto, esta obra só me despertou genuíno interesse quando ouvi as minhas pessoas do bem a falarem tão fervorosamente sobre o assunto. Inicialmente, limitei-me a escutar as suas apreciações. Posteriormente, acabei por lhes pedir que me explicassem, em traços gerais, o conceito e o porquê de estar a atrair tanto público. E decidi aventurar-me, para tirar as minhas conclusões. Começar a fazê-lo pela série era suficientemente aliciante. Porém, optei primeiro pelo livro. Agora que já conheço ambas as componentes, reconheço-lhe mérito!

A decisão de contar a história através de cassetes confere uma dinâmica muito própria ao enredo. Pela sua diferença, pelo seu interesse e pela sua originalidade. Apesar disso, não deixa de ser confrangedor imaginar que uma pessoa [que, neste caso, já faleceu] escolhe este meio para revelar a alguém que é um dos motivos do seu suicídio. Ultrapassada esta questão, a verdade é que a ideia-base é um excelente alerta para assuntos bastante sérios e delicados - como o bullying, por exemplo -, que podem adquirir proporções assustadoras e irreversíveis. Paralelamente, demonstra o quanto determinadas situações nos desgastam. E o que pode acontecer quando, por falta de solução, todas elas passam a uma fonte de preocupações inesgotável. Contudo, mesmo tendo atribuído quatro estrelas na plataforma Goodreads, houve aspetos que me desiludiram. 

Quando iniciei o livro, apreciei o facto de transmitir logo a certeza de que ocorreu algo grave, mas sem retirar o mistério. A própria organização dos capítulos cativa-nos. E é interessante acompanhar a alternância entre o discurso gravado de Hannah Baker e o de Clay - o que nos leva, automaticamente, a pensar na razão pela qual foi ele o escolhido. O problema é que, ao avançar na narrativa, senti falta de mais intensidade. E fiquei mesmo com a sensação de que certos momentos foram poucos explorados. Talvez se tivessem mais detalhes o impacto fosse outro. Consequentemente, questionei-me se alguns dos motivos apresentados seriam assim tão "válidos"; se não houve algum dramatismo exagerado. Por outro lado, e correndo o risco de me contradizer, entendo que nem todos encaramos as circunstâncias da mesma maneira. E que aquela reação não foi devido a um ato isolado, mas à acumulação de vários. Portanto, consigo aceitar [se é que é o melhor termo] os motivos de Hannah. Mesmo apresentando, para mim, esta discrepância [se calhar pela tal falta de mais pormenores], é um texto que vale a pena conhecer. Pela imprevisibilidade [não sabemos quem são os visados, a sua ordem e o porquê de constarem da lista], pela dureza, pelas temáticas [o efeito dos boatos, os consequentes rótulos, a importância atribuída à opinião dos outros, a hipocrisia humana], por deixar questões em aberto e por também transmitir a ideia de que os sinais estavam todos lá, mas que somos demasiado desatentos em relação ao outro [a não ser que seja para julgá-lo]. Em simultâneo, seguimos de perto o conflito interior de Clay, a sua revolta, a sua culpabilização e o quanto toda esta experiência o afeta fisica, emocional e psicologicamente.

Finda a leitura, precisei de ver a série, até para encontrar algumas respostas. Em primeiro lugar, é necessário não esquecer que é uma adaptação. Em segundo, por me parecer que existe intenção de lhe dar continuidade, a história terá que sofrer mudanças que sustentem essa extensão. Como tinha suposto previamente, é muito mais intenso ouvir as cassetes. Ademais, neste registo visual conseguimos ter uma noção das [possíveis] reações de todos os elementos envolvidos. Há um antes e um depois. E não ficamos limitados ao trajeto de Clay. E foi isto que me faltou no livro: descobrir, aprofundadamente, o impacto que este acontecimento teve nas suas vidas. Uma particularidade interessante é que nos faz refletir sobre outras questões, como o facto de a pessoa mais popular também carecer de empatia e aprovação ou, então, sobre o quanto um lar desestruturado pode condicionar as nossas ações. Nós somos sempre a consequência de algo. E, por vezes, ainda que isso não desculpabilize certos atos, acaba por lhes atribuir um sentido. À semelhança da componente escrita, encontrei algumas divergências, que me deixaram com dúvidas: porque é que Hannah não procurou evitar a violação de Jessica? [isto porque não fiquei com a impressão de que estivesse assim tão alterada por causa da bebida]; Porque é que se deixou ficar na piscina com Bryce, sobretudo quando já conhecia o seu historial? Mas depois, uma vez mais, procurei colocar-me no lugar da personagem principal e percebi que ela já tinha desistido da vida. Por isso, chegou ao ponto em que valia tudo, porque as consequências deixariam de a afetar. Caso não tivesse visto a série, muito provavelmente, a imagem que criei do restante elenco não sofreria uma reviravolta. Todavia, considero que Zach e Justin não eram miúdos genuinamente maus. Simplesmente, enquanto o primeiro teve uma atitude mais imatura perante uma rejeição, o segundo tinha um enorme sentido de divida para com Bryce, fazendo tudo para o compensar. Isso, naturalmente, não minimiza a crueldade das coisas que fez, mas compreendemos que existe um propósito.

Em suma, o livro lê-se bastante bem. E a série torna-se viciante. Não obstante serem trabalhos que se legitimam por si só, têm mais força em conjunto, pela informação que nos permite desconstruir determinados pensamentos e perceções. E até a ambiguidade provocada pelas ligeiras contradições não deixa de ser curiosa, porque mostra-nos que nem tudo é linear. Estava, ainda assim, à espera de mais. Principalmente, de mais intensidade e de mais pormenores que justificassem as suas conclusões/decisões. Ou de, pelo menos, não sentir que, a partir de certa altura, esta jornada de Hannah Baker se tornou numa espécie de vingança, em vez de ser um apelo à consciência de cada uma das pessoas que, inevitavelmente, marcaram o seu caminho. E, consequentemente, o seu futuro.

Comentários

  1. Hummm,acho que vou começar pelo livro também!!

    Tenho a dizer que escreves espectacularmente bem!!

    Beijinhos
    https://atitica.wordpress.com/

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  2. Muito interessante talvez optasse por começar primeiro pela leitura.
    Um abraço e boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  3. Fiquei com mais vontade de ler o livro do que de ver a serie :)
    Realmente para a frente e que o caminho, sem duvidas, desde os meus 20 anos que tenho essa certeza ;) Nao vale a pena contrariar o sentido da vida :)
    Beijinhos*
    https://matildeferreira.co.uk/

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  4. Concordo plenamente com tudo o que disseste da série. Também de certeza que concordo relativamente ao livro, mas nuna o li. No entanto, despertaste-me a vontade de o ler!
    E quanto ao que disseste da continuação da série realmente alguma coisa terão de mudar para isso acontecer,e até agora não sei bem o quê

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  5. Já ouvi falar muito quer do livro, quer da série. E a curiosidade adensou-se depois de ler esta tua resenha.

    Tenho que resolver isso =)

    Beijinhos :*

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  6. Bom dia. Fica a minha curiosidade em ler :)) Adorei

    Hoje; Do Gil que se econtra ainda um pouco combalido, motivo por qual sou eu a visitar...»» Amor:- Essa dor Oculta

    Bjos
    Votos de uma boa Terça-Feira.

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  7. Ainda só vi a série, e concordo contigo em muitos aspetos - já tínhamos até trocado algumas ideias quando eu falei da série no blog.

    Acredito que existe uma falta de pormenores enorme, daí achar a Hannah um bocadinho dramática. Não querendo desvalorizar os motivos dela, visto que somos todos diferentes e temos diferentes formas de reagir às coisas, percebo que foi um acumular de situações, mas há ali algumas coisas que se fosse na vida real, dariam muito pano para manga, há pessoas que merecem mas ao mesmo tempo não merecem estar na lista, não sei explicar.
    Com a situação das cassetes, fico na dúvida, tal como tu, se a ideia dela seria alertar as pessoas a quem deixou as cassetes para não voltarem a fazer ou provocar situações parecidas ou se a ideia dela foi mais no sentido de "matei-me por tua causa", culpando-os totalmente pelo sucedido.
    Acho que há muitas divergências, no entanto a série é boa, vicia e alerta-nos para questões reais, que podem mesmo levar a um final trágico.

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  8. Já vi alguns episódios da série, mas nao me cativou. Pelo menos as razoes que vi, também eu sofri isso na escola... Mas lá está, acabei por nao ver toda, por isso nao sei o que aconteceu a seguir.
    Um beijinho grande*
    Vinte e Muitos

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  9. Que maximo amei a postagem, obrigado pela visita.
    Blog: https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
    Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

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  10. Fiquei com bastante vontade de ler o livro! :)

    amarcadamarta.blogspot.pt

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  11. Eu vi metade da série, mas depois não consegui ver mais. O facto de saber, à partida, qual seria o destino da Hannah começou a fazer-me confusão. É um assunto que, infelizmente, pode ser tão real... eu sabia que se visse até ao fim, ia ficar bastante afetada e triste, então tomei a opção de parar. Mas reconheço o excelente trabalho da produção no desenvolvimento da série :) quanto ao livro, também nunca cheguei a ler...

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  12. Limitou-se a escutar,
    sobre o assunto inicial
    eu me preso de comentar
    esse texto tão especial!

    Tenha uma boa tarde Andreia.

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  13. Ultimamente não ando com cabeça para ler, por isso estou muito desejosa para ver :b Gostei imenso da tua review querida

    Beijinhos,
    BLOG DEZASSETE

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  14. eu vi a série, e fiquei viciada :)

    r: nosso aqui usamos : #finalistapodetudo
    e estou mesmo a aproveitar.

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  15. Vi a série mas não li o livro. Senti que todas as razões foram válidas porque só quem passa por algo do género sabe. Quando ela é violada, ela própria diz que deixou de se importar. Chega a um ponto, em que na série, vemos que ela deixa de se debater com Bryce e fica numa posição "mole" e quase literalmente "morta". A cena para mim que me fez chorar rios foi a dança com o Clay em que dançaram ao som de The Night We Met. adorei a série em geral. Ótima review! Beijinhos

    www.carolinafranco.pt

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  16. Mistério!! hummmm adooorooooo :) A foto está fabulosa.
    Beijinho linda.

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  17. Já vi a série, o livro não li :)

    r: dentro deste mês/início do próximo vou ter algumas publicações do género :) eu já tenho o mês todo organizadinho e agendado, caso surja um tema mais actual posso sempre agendar a publicação que estava nesse dia para mais para a frente.. é sempre uma vantagem e ter o blog sempre activo :)

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  18. Para mim isto é mais uma novidades cultural xp é que eu venho ao teu blog descobrir coisas.. isto não é normal x) mas parece ser muito bom o livro, como a serie :p
    beijinho querida ** <3

    r: muito obrigadaaaaa! :)
    1h30min a rir é muito bom! é de ficar com a barriga e o maxilar a doer ahah

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  19. R: Há coisas que ficam um bocado sem resposta. E na cena da violação, é certo que ela já tinha deixado de se importar, supostamente, mas quando ela vai falar com o professor ou psicólogo - já não sei bem - pelo que entendi ele poderia ter "mudado" o desfecho da história se lhe dissesse outras coisas, por isso, ela no fundo ainda não tinha desistido completamente.
    Também não concordo muito com o facto de o Zack estar lá, então o Clay é que não mesmo, mas é como dizes, faz sentido ele estar lá por ser o único que gostava dela.
    Teve partes muito boas, mas outras que ficaram muito longe das expectativas.

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  20. Já tinha ouvido falar e na verdade tenho muita curiosidade, quer em ler, quer em ver a série. É uma temática que me desperta muita curiosidade no sentido de querer abordar mais e melhor alguns assuntos desta natureza...
    Um beijinho*

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  21. Estou em crer que vais gostar muito. Pelo preço, vale super a pena :D

    Lembro de falarem imenso da série e de ter ficado curioso por a ver. Contudo, ler, tem sempre um outro encanto. É diferente, não sei bem :D
    Pela tua crítica, denoto que é um livro que, a par de desmistificar alguns assuntos, ajuda a pensar. Logo, à partida, é uma das obras que entrou para a minha lista de livros obrigatórios este ano :D Já estou a cumprir com o objetivo de ler mais. Comecei por (re)ler o Diário de Anne Frank. Sinto que, nesta altura da minha vida, o estou a ler de outra forma... e que incrível que isso é!

    NEW OUTFIT POST | INDEFINITION IS MY DEFINITION.
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  22. Vai haver sempre muita polémica em volta do livro/série. Eu li o livro depois de ver a série e não sei de qual gostei mais, fiquei bastante dividida.
    Devo dizer que adorei a tua foto super original! *0*

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  23. Esta série/ livro tem muito, muito por onde pegar para escrutinar diversos temas incrivelmente importantes. É que é tão real quanto assustadora. É incrível como algumas pessoas a acham tão distante e quão perto desta realidade estamos... Vivemos numa sociedade fútil, de aparências, sem verdades totais. É um mundo assustador o que é descrito... mas também muito verdadeiro!

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  24. Tu tens uma forma tão própria, pessoal e única de escrever e dar a tua opinião que me sinto culpada, de só agora, a perceber. Gostei mais deste post sobre 13 Reasons Why, do que qualquer um que já li - e eu gostei imenso da série.

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