As minhas viagens de metro #61

Fotografia retirada do tumblr

«Tenho em mim todos os sonhos do mundo», Fernando Pessoa

A tua voz enrouquecida disse-me, um dia, que somos do tamanho dos nossos sonhos. Assim, sem qualquer explicação, apenas como um sopro tão certeiro como as imprevisibilidades da vida. E, naquele momento, imaginei-me estupidamente alta, porque, em toda a extensão do caminho que percorri até aqui, fui colecionando sonhos, como quem colhe amores-perfeitos do jardim.

 

No meu intimo, muitas vezes inconscientemente, ambicionei realizá-los a todos, plantando sementes, arrancando as ervas daninhas, substituindo as que não brotavam, acrescentando novas. Reguei-as. Tratei-as com amor. E floresci! Cresci a sonhar com as mais pequenas coisas: a primeira troca de olhares, o primeiro beijo, o diploma de curso, o dia do meu casamento, o primeiro livro, o primeiro emprego, o primeiro filho... Aprendi a ser maior do que me julgava. A olhar mais longe. A correr mais rápido. Conheço-te há uma vida inteira. E sei que foste tu, nessa inocência de quem dá sem cobrança, que me permitiste crescer ainda mais. Desenlaçaste o nó das minhas asas. E abriste-me a janela para que eu pudesse voar. 

Há dias em que me sinto a flutuar nas minhas divagações. Porém, a culpa é tua por teres as palavras certas no momento exato. E isso é tão natural em ti. A tua alma é feita de paz. De luz. De um sossego que contagia. E sempre que te ouço, é como se o meu corpo se transportasse para uma realidade paralela, de onde não quero sair. És feito de dúvidas nas tuas certezas e não te escondes das tuas fragilidades. E eu penso, de todas as vezes que te observo, que não existe lugar algum no mundo que seja mais deslumbrante e aconchegante que o interior do teu abraço. E tão leve como uma pena, viajo por esse olhar terno, que me acalma só por estares do outro lado da cama, a olhar para mim.

Se somos do tamanho dos nossos sonhos, tu foste o maior com que sempre sonhei, mesmo quando ainda não tinha descoberto que eras tu que queria do meu lado. Mas tu sabias. E esperaste. Não me apressaste. E quando me deixaste ir, foi quando eu percebi que só me fazia sentido ficar. Sou, agora, tão alta como tu; tão grande como me ensinaste a ser. E tenho a fiel certeza de que passaremos a vida a sonhar. A dois!

M, 05.03.2015