Novembro. Um mês que passou como um sussurro. Eu sei que esta referência soa sempre a um lugar comum, mas a verdade é que mal dei por estes trinta dias. E nem foram, particularmente, preenchidos com projetos e/ou tarefas urgentes e entusiasmantes, levando-me a perder a noção do tempo. Ainda assim, reservaram-me fragmentos reconfortantes, equilibrando a atmosfera desconcertante deste 2020 tão atípico.
«Acordei com o pé esquerdo
Fora da cama e a constipação
Outro dia a acordar cedo
À procura da sorte
Que fugiu da mão
Fotografia da minha autoria
... Calamares!
[Estas argolas de lulas fritas faziam as minhas delícias, quando era criança. Embora não fossem uma refeição recorrente, marcaram as memórias que preservo da infância, sendo sempre feliz de todas as vezes que a minha avó as preparava para o almoço ou para o jantar. Depois de anos sem comer esta iguaria, há umas semanas trouxe uma embalagem, para matar as saudades, e senti-me a recuar no tempo. Se há comida que significa conforto, esta é um exemplo fiel disso mesmo].
Fotografia da minha autoria
«Tenho essa mania de amar o que está longe»
Eu sei: não convinha ter-me apaixonado por ti. Ainda para mais, quando foste tu a afirmar que não carregavas no olhar a mesma paixão com que te vejo. Mas também sei o quanto te magoa não a poderes retribuir.
Fotografia da minha autoria
«O primeiro (e provavelmente o último) livro de anti-ajuda»
Os livros de auto-ajuda figuram sempre no topo das vendas, porque tendem a conquistar uma vasta quantidade de leitores. Por princípio, oferecem uma série de dicas, técnicas, pensamentos e filosofias que permitem que o ser humano se descubra e, por consequência, se aprimore. No entanto, como estava desiludida com as obras deste género, Joana Marques decidiu escrever um livro de anti-ajuda, que promete mudar a nossa vida. Apenas não garante que seja para melhor.
Fotografia da minha autoria
«Por ruelas e calçada»
A música do Rui Veloso chega-me sempre em surdina, quando me aproximo da Serra do Pilar. No entanto, desta vez, não atravessei a ponte para redescobrir o meu Porto Sentido. Desci pelo Jardim do Morro, passeando pelo Cais de Gaia. E, em casa, atenuando esta saudade de deambular livremente, abri o álbum de memórias e encontrei alguns registos no fundo do baú, de uma altura em que a nossa liberdade não tinha tantos condicionantes. Erradamente, afirmam que o melhor de Gaia é a vista para o Porto, mas isso só pode vir de alguém que nunca se aventurou do nosso lado da margem. Que privilégio é ter este horizonte encantado.
Fotografia da minha autoria
Tema: Um livro com mais de 400 páginas
O tamanho de um livro pode enganar. Se, por um lado, os mais curtos são considerados rápidos de ler, por outro, os mais longos impõem um certo respeito. No entanto, é sempre relativo, pois depende do ritmo da narrativa e do quanto nos envolve. Por essa razão, sinto ser pertinente desconstruir esse estigma, para que o número de páginas não nos distancie de uma história. Tendo em conta o tema de novembro do The Bibliophile Club, abri os abraços à obra de estreia de Íris Bravo.
Fotografia da minha autoria
«Há sempre uma primeira vez»
A magia das primeiras vezes é irrepetível, porque implica uma certa inocência que torna a experiência genuína. A primeira vez a mergulhar numa história, a abrir um livro como quem abre a porta de casa, a sentir o aroma doce das páginas pinceladas a palavras são sensações que nos proporcionam conforto e que estimulam os nossos sentidos, as nossas emoções e a nossa vontade de viver anexados a uma estante, para que nunca se esgote esta chama que acalenta a nossa alma livrólica.
«Se tu não quiseres, eu não insisto
Depois de tudo o que vivemos sobrou isto
Eu estou fora de mim, mas dentro do teu ciclo
Como é que tu não tens visto?
Fotografia da minha autoria
Tema: Por que motivo[s] escreves?
O meu peito podia ser um caderno, porque é feito de palavras, palavrinhas e palavrões - porque não? -. Há um vínculo quase umbilical, porque é o dialeto que me completa e impulsiona, sobretudo, quando me expresso por escrito. Aí, sou eu em pleno. Sem barreiras e sem hesitações. Apenas com vontade de fazer voar a minha imaginação.
Fotografia da minha autoria
«A inspiração existe»
A minha relação com o Instagram é bastante descomplicada. Embora usufrua desta rede social diariamente, até porque crio conteúdo para a mesma, encaro-a sempre pela sua vertente de lazer, porque é o compromisso que, para mim, faz mais sentido. Portanto, permite-me comunicar, mas também explorar uma das minhas paixões: a fotografia. E é neste intermédio que me vou cruzando com partilhas que me inspiram.
Fotografia da minha autoria
«À noite, olhavam ansiosos para o céu»
A literatura infantil tem um traço tão benigno e estimulante, que me apaixona em cada exemplar que descubro. Porque, com a dose certa de magia e de imaginação, leva-nos por uma viagem de aprendizagens infinitas. Portanto, creio que seríamos seres humanos ainda mais completos, se concedêssemos espaço nas nossas leituras a obras que, sendo destinadas aos mais novos, potenciam um contacto direto com o verdadeiro sentido da vida, tal como no livro de Michael Grejniec.
Fotografia da minha autoria
Tema 21: Baleia + Óculos
A mesa estava reservada para o meio-dia. Tinham combinado no antigo restaurante O Baleia, na zona central da Avenida das Tulipas, por ser de fácil acesso - para chegar e para fugir, se a conversa azedasse. Portanto, pelo menos nesse aspeto, não havia necessidade de sucumbir aos nervos, que mal o deixaram dormir, por idealizar o pior cenário.
Fotografia da minha autoria
«Participe na causa»
O número de crianças e jovens a viver em casas de acolhimento é bastante elevado. Atendendo a que é urgente responder a uma série de necessidades prioritárias, os recursos nem sempre abundam e, portanto, há escolhas que precisam de ser feitas e, como é compreensível, determinadas questões não figuram na equação. Ainda assim, a literatura não deixa de ser um vínculo de aprendizagem e ter acesso a livros é a estrada que os pode conduzir a uma educação mais completa.
Fotografia da minha autoria
«Adormeça na dormência»
A minha alma está dormente
Numa ausência calculada
Que me desestabiliza as emoções
«Pensa rápido
Do berço à lápide há velocidade
Não há um mês apático
Nem um ano sabático para a felicidade
Não fico lazy com o êxito ou alucinado
Eu leio ideias em papéis emocionado
Impulsionado por amor até à morte
Fotografia da minha autoria
... Música!
[De manhã à noite. Enquanto escrevo ou me dedico a outras tarefas. Através da rádio, de cd's, do Spotify ou do Youtube. A música é parte essencial dos meus dias, em particular, e da minha vida, no geral, porque traduz muitos dos meus pensamentos, dos meus sentimentos e das minhas emoções. Aliás, creio mesmo que, sem esta arte, não seria tão feliz, pois é palco de inúmeras partilhas. E, por falar em palco, morro de saudades de marcar presença num concerto. Mas que continue a existir música. Porque, neste embalo, há sempre esperança no amanhã].
Fotografia da minha autoria
«Uma longa viagem começa por um pequeno passo»
A magia do Natal vai chegando devagar, quase num sussurro, para nos contagiar no seu embalo. Embora acredite - e defenda - que os seus valores têm uma base muito mais altruísta e humana, a verdade é que adoro mimar os meus com artigos físicos, que possam ser mais ou menos úteis no momento, mas que sinta que se adequam às suas personalidades e contextos, porque os presentes também são demonstrações de afeto.
Fotografia pessoal
«Um manifesto»
A sociedade, por definição, é um conjunto de pessoas de uma mesma esfera, unidas pela mesma origem ou leis comuns. Além disso, na sua componente civil, ainda que sem ligações ao Estado, possui capacidades de intervenção pública e social. Portanto, apesar de, enquanto seres autónomos, podermos divergir em determinados aspetos, há questões que não podem ser exclusivas de um grupo. Se implicam a humanidade, têm de preocupar a comunidade por inteiro. E é por isso que livros como o de Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser são fundamentais.
Fotografia da minha autoria
«Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa
por ouvir cuidadosamente»
A minha personalidade introvertida permitiu-me potenciar uma das características que mais aprecio em mim: a capacidade de escutar os outros. Por muito que me entusiasme envolver-me numa boa conversa, gosto ainda mais de ouvir o que os intervenientes têm para partilhar. Por essa razão, sou uma consumidora assumida de podcasts, atendendo a que funcionam num formato que, para mim, é bastante estimulante.
Fotografia da minha autoria
Tema: Um livro relacionado com comida
As histórias podem ser doces, mas também podem ter um travo mais picante, dependendo dos condimentos que o artista quiser utilizar como trunfo. Mas, tal como na culinária, acredito que o resultado é mais saboroso quando há um certo equilíbrio na escolha de ingredientes, para que a experiência seja memorável. Assim, para o tema de novembro de Uma Dúzia de Livros, quis regressar a Dorothy Koomson, aventurando-me num exemplar que ansiava que combinasse o melhor de dois mundos.
Fotografia da minha autoria
«Reserve os espaços da sua casa para os itens que você ama»
A leitura encanta-nos na mesma medida que nos preenche. E segurar um livro nas mãos é abrir a porta de um mundo mágico, que nos desperta sentidos, sentimentos e emoções. Por isso, mantemos uma relação tão especial com as nossas estantes: porque são a representação física de todas as vidas com as quais nos cruzamos, de todos os lugares que visitamos sem sair do lugar, de todos os momentos que ultrapassamos através das palavras. O único senão é quando o espaço começa a ser pouco para a quantidade de obras que vamos acomodando nas prateleiras.
«Faz essa viagem, meu bem
Que as tuas mãos livres venham cheias
Que teus pés descalços ganhem vidas
Serenem no alívio dessa estrada
Fotografia da minha autoria
Tema: Escrever uma carta anónima a um estranho
a detalhar as coisas que aprendeste sobre a vida
Do lado de dentro da janela, 2020
Querido estranho, gostava de te escrever sobre alguns pensamentos que pairam no meu peito inquieto e sempre desejoso de encontrar o Norte.
Fotografia da minha autoria
Não me interessa o que pensam. Interessa-me o que eu sinto!
«O fantástico é contado com a naturalidade do quotidiano»
A partilha literária proporciona descobertas e debates muitos interessantes. Embora não priorize tanto o empréstimo de livros, tenho feito algumas trocas com o meu vizinho e foi assim que regressei à escrita de José Luís Peixoto, cuja obra continua a despertar-me imensa curiosidade, pois sinto que tem a capacidade de nos transportar para mundos distintos, fomentando a sensação de sermos parte do enredo.
Fotografia da minha autoria
«Presta atenção na cena»
O outono convida a inúmeros programas caseiros, com um toque de aconchego que nos aquece a alma. Sempre desfrutei de atividades entre portas e, neste ano tão atípico, tem sido imprescindível. Embora tenha muitos aspetos negativos associados - e acredito que estamos todos conscientes deles -, houve algo de bom a retirar desta pandemia, a título pessoal, porque passei a priorizar mais a magia da sétima arte.
Fotografia da minha autoria
«O que é meu inimigo? Eu mesmo!»
Fico fechada no meu mundo
Delimitado em quatro paredes rugosas
A imaginar como seria
Se utópica e expectante
As pudesse[s] derrubar
Fotografia da minha autoria
«Somos o resultado dos livros que lemos»
A idade não me influencia, porque, assim como nunca quis ser mais velha, também não me assusta envelhecer. É um número, um passo mais vincado de maturidade, mas sem pressões - ou ambições - desmedidas. Portanto, em jeito de consequência, distanciei-me sempre da ideia de alcançar determinados objetivos dentro de uma faixa etária específica, porque acredito que tudo tem o seu momento certo. Apesar disso, inspirada pela partilha da Patrícia Lobo, decidi abraçar uma exceção.
O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá