a maldição de rosas, diana pinguicha

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Autoflagelação, Distúrbios Alimentares e Homofobia


A literatura fantástica não tem tido espaço nas minhas leituras. E não é que isso aconteça por um motivo transcendente, é só porque tenho querido explorar outros géneros que me fascinam mais. No entanto, o livro da Diana Pinguicha deixou-me com vontade de quebrar esta tendência e sair da minha zona de conforto.


maldição vs bênção

A Maldição de Rosas é um retelling da lenda do milagre das rosas, protagonizado por Isabel de Aragão, que consiste na transformação de pães em flores. Certo dia, D. Dinis decide surpreender a rainha durante uma das suas caminhadas e pergunta-lhe o que esconde no regaço. Isabel responde-lhe «são rosas, meu senhor». Nesta narrativa, a premissa respeita o mesmo propósito, mas acrescenta-lhe uma abordagem audaz: afinal, «uma futura rainha não se deveria apaixonar por uma mulher».

Achei muito interessante esta decisão, sobretudo depois de ler a nota da autora. Ter histórias que apostem em vários tipos de representatividade é importante, até para evitar que tantas crianças, tantos adolescentes cresçam a acreditar que são estranhos, que há algo de errado consigo, que não há um lugar que lhes pertença. Descobrir quem somos já é um processo demasiado complexo, não é necessário perpetuar estereótipos que nos obriguem a esconder a nossa verdadeira identidade. E creio que a literatura pode ser uma via muito válida para quebrarmos esses muros. Confio que a história da Isabel consegue abrir essa porta e ajudar a que não se sintam oprimidos - ou, pelo menos, que comecem a encontrar mecanismos para se fazerem ouvir.

Outro aspeto que achei fascinante foi a reflexão entre maldição e bênção, e a forma como a nossa perspetiva nos pode posicionar mais de um lado do que de outro. Portanto, gostei de acompanhar o crescimento da protagonista neste contexto e ver como aprendeu a transformar uma condição aparentemente adversa, quase de desgraça, num benefício em prol da sociedade e dos mais desfavorecidos.

«E porque é que tinha tanto medo de descobrir as respostas a todas aquelas perguntas?»

No entanto, acabei por não me relacionar em pleno com a narrativa, porque senti o início demasiado lento. A segunda parte foi mais dinâmica e envolvente, mas a primeira ficou muito presa à mesma ideia, transmitindo a sensação de estarmos a andar em círculo. Por consequência, fez com que a concretização e a parte central desta história carecesse de mais detalhe. Aprecio muito quando o autor não nos conta tudo e nos vai mostrando conforme o encadeamento da ação, porém, aqui, precisava que me tivesse contado melhor algumas decisões, alguns acontecimentos.

A Maldição de Rosas não foi tudo o que pensei, mas foca aspetos como a culpa e o processo de aceitação. No mesmo enredo, aborda temas como a autoflagelação, a homofobia e os distúrbios alimentares, mas também como a solidariedade, a compaixão e a condição da mulher. Senti falta de um pouco mais de equilíbrio entre as duas partes, mas guardo aquilo que, para mim, foi o melhor: o desabrochar de Isabel.

Por vezes, só precisamos de um pouco de magia para nos redescobrirmos. E essa magia pode ser o olhar de quem nos aceita ou a audácia de não calarmos a nossa voz.


🎧 Música para acompanhar: The Curse, Agnes Obel


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

8 Comments

  1. Já ouvi falar muito da autora e deste livro.

    Vou levar a sugestão.

    Boa semana, minha querida! Beijinho grande!

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    1. Para mim, teve algumas fragilidades, mas não deixa de transmitir uma mensagem bonito e de ter aspetos interessantes

      Boas leituras, minha querida!

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  2. Já ouvi falar, mas ainda não tive a oportunidade de ler!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  3. O Milagre das Rosas é dos meus momentos preferidos da Historia de Portugal *.* Fiquei bastante curiosa com esta adaptacao :)

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  4. Conheço, mas ainda não li. Penso que o tenha algures no kobo.

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