a época das rosas, chloé wary

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Sexismo


O futebol esteve sempre presente na minha vida. Principalmente, enquanto adepta, mas também passei vários intervalos a jogar à bola. Visto que nunca tive talento, nunca ambicionei levar isto para um plano profissional, mas sempre foi evidente que as oportunidades para mulheres futebolistas eram menores, face ao futebol masculino. E essa realidade é explorada no livro de Chloé Wary.


 uma luta por mudanças

A Época das Rosas é uma novela gráfica inspirada na experiência da própria autora, que foi futebolista no Clube FC Wissous (França). Portanto, temos uma visão muito mais próxima, direta, da problemática.

Nestas páginas, acompanharemos as Rosas de Rosigny, uma equipa feminina de um bairro dos subúrbios, cujo principal objetivo é a qualificação para o campeonato nacional. No entanto, perante os cortes nos subsídios, a diretora do clube retira-as da qualificação, porque o investimento centra-se todo na equipa masculina. A partir deste ponto, torna-se claro o tipo de discurso que se perpetua, mas as Rosas não vão desistir sem dar luta. Aliás, vão unir-se ainda mais, até porque lutar é a única opção que têm.

A diferença de tratamentos marca o tom da história e gostei que não se fechasse dentro do relvado. Através de Bárbara, a capitã, Chloé Wary explora não só as desigualdades de género, mas também a adolescência, a descoberta sexual, as ligações interpessoais e a frágil relação familiar com a mãe. Além disso, deixa clara a importância da comunicação (dentro e fora de campo), de estabelecer prioridades e do trabalho em equipa.

«Sabes o que acontece a quem só sonha?»

Achei muito interessante o contraste de uma cidade sempre em movimento com o alvoroço emocional de quem sente o seu mundo a descambar. Por outro lado, também achei curiosa a pintura, fazendo-nos lembrar as que fazíamos com canetas de feltro, que trazem um impacto mais vibrante e, até, dramático.

Numa sociedade que se move por comportamentos machistas, a autora trouxe uma crítica pertinente para esta narrativa, destacando a emancipação feminina, a magia da sororidade e a possibilidade de redenção. Há um traço emocional que nos aproxima das dificuldades desta equipa e que nos leva a torcer pelas suas conquistas.

A Época das Rosas foca-se, ainda, nas desilusões e na esperança, na capacidade de sonhar, mesmo quando tudo nos parece levar a desistir, nos conflitos internos e na ausência. Embora gostasse que algumas temáticas tivessem um pouco mais de desenvolvimento, sinto que é feito de pessoas e espaços facilmente reconhecíveis em qualquer parte. Também gostava que o final fosse menos célere, mas não diferente, porque é um retrato credível do que ainda acontece, nos dias de hoje. Por isso é que é imperativo continuar a lutar por mudanças.


🎧 Música para acompanhar: Mulheres, Edmundo Inácio


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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