rugas, paco roca

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Alzheimer


As memórias que amealhamos através de inúmeras vivências parecem pertencer-nos até ao fim dos nossos dias, mas podem esvair-se, podem tornar-se tão distantes, que já não as conseguimos reconhecer. E é esta fragmentação que vamos acompanhando no livro de Paco Roca.


 uma viagem pelo envelhecimento

Rugas centra-se em Emílio, um antigo bancário, que começa a evidenciar os primeiros sinais de Alzheimer. Na impossibilidade de a família cuidar dele, por várias razões, há a necessidade de ser colocado num lar. E é a partir deste ponto que o tempo se torna fugaz.

A narrativa divide-se, então, em dois pontos centrais: a rotina/a vida no lar e a demência. Compreender como é que estes pólos se interligam e influenciam, e como é que, num mesmo espaço, existem tantos quadros clínicos a precisarem de atenção, desarma. E desarma porque o autor tem muita sensibilidade no traço e na forma como transmite cada emoção.

Inspirado em histórias reais, também gosto como nos vai confundindo, como nos faz hesitar entre o que é real e o que poderá ser um produto de recordações difusas, presas a uma época que já não existe, o que evidencia o quanto é ténue a linha que separa a lucidez da confusão.

«É o mundo virado do avesso»

Acredito que nada nos prepara para a ausência de nós e perder essa faculdade de reconhecimento e, posteriormente, de autonomia é angustiante, é assustador. Através do protagonista vamos explorando esta questão, vamo-nos tentando aproximar desta realidade e desconstruir o seu impacto. Em simultâneo, sentimos o desespero do envelhecimento e da falta de esperança, enquanto vamos conhecendo mais personagens com um contributo imprescindível para o ambiente e para o enredo: por trazerem mais credibilidade e por equilibrarem o tom pesado da obra.

Rugas é, também, um retrato encantador sobre amizade e sobre a importância de cuidarmos do outro, apesar de existir um vazio, uma barreira que impede o entendimento. Foi inspirador ver a evolução desta história, porque, apesar de não ser sobre um tema fácil de gerir, mostra que podemos ser sempre um pouco melhores e que, no meio da escuridão, também existem pontos de luz e circunstâncias cómicas.

Houve dois momentos em particular que me comoveram e que me fizeram acreditar que, se calhar, nem tudo se perde. Estes fragmentos vão-se unindo como se fossem uma manta de retalhos irregular, mas que nos leva a refletir sobre o que levamos de mais importante. Porque as rugas são imagens subtis de tudo o que vivemos. E levando na pele a nossa história, construímos a nossa morada, mesmo quando já não soubermos onde fica.


🎧 Música para acompanhar: Demência, Alda


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

10 comments

  1. Quero muito ler! Muito obrigada pela partilha desta sugestao *.*

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    1. É um tema que me interessa bastante por muitos motivos, pela minha mae e por mim que ja nao vou para nova... da que pensar...

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    2. É um novela gráfica extraordinária!

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    3. Acho que ias gostar muito de a ler, minha querida!

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  2. Quero ler! Aborda um tema cada vez mais atual.

    Vou já acrescentar à lista da WOOK.

    Beijinho grande, minha querida!

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  3. Estou muito curiosa com este livro!

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  4. Não conhecia, mas gostei da foto :)

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