véspera, carla madeira

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Luto, Linguagem Explícita


A escrita da Carla Madeira é irrepreensível e traz sempre uma grande carga emocional para a ação. Podemos não nos identificar, podemos não nos rever, mas é muito difícil não sentirmos a dor e a urgência das personagens. Como me conquistou nos outros livros, chegou a altura de descobrir o que me faltava.


 uma constante ferida aberta

Véspera começa num ponto de rutura, num sufoco que nos transporta de imediato para a narrativa: Vedina, presa a um casamento destroçado, traumatizada, tem um momento de descontrolo e abandona o filho de cinco anos. Assim que arranca com o carro, arrepende-se, mas, ao regressar ao local, Augusto já não está. É a partir daqui que a história avança e que vamos compreender que será pautada por duas linhas narrativas.

Num plano passado, ficamos a conhecer os irmãos Abel e Caim. Apesar de não estarem relacionados com as figuras bíblicas, acabam por sofrer o peso dessa realidade. E achei mesmo interessante a forma como isso se foi tornando evidente, porque também é uma maneira de demonstrar o impacto que certos aspetos têm em nós, como há decisões - que não tomamos - que parecem moldar tudo o que somos. Por isso, fiquei a questionar-se sobre o seguinte: seremos mais o resultado das nossas ações ou daquilo que não controlamos?

Houve passagens muito dolorosas, porque são vívidas e porque me envolvi como se fosse parte daquelas vidas. Por esse motivo, apeteceu-me interagir em várias situações. Por outro lado, também senti o coração apaziguado, quando o Padre Tadeu ou o Parede entravam em cena. Foi (muito por) eles que acreditei que o amor se «infiltra pelas mãos das coisas miúdas», pela pureza que transparecem.

«Podiam distanciar-se, mas nunca tirar deles o que foram. Não era apenas eles que sentiam saudades, era a saudade que os fazia sentir»

Para além de ser um livro que cruza duas linhas narrativas, gostei que a própria estrutura nos deixasse com a sensação de nos estarmos a aproximar de algo, que ainda não sabemos bem o que será. Num meio onde a violência e as relações familiares disfuncionais são bastante audíveis, achei as personagens muito credíveis: não são totalmente boas, nem totalmente más. São pessoas com medos, com falhas e com crenças que as norteiam. Através delas, percebemos que as circunstâncias impactam a pessoa em que nos tornamos.

Véspera expõe muitas feridas abertas e temas fraturantes. Fiquei com pequenas questões e confesso que não adorei o final, mas senti que houve perspetivas mais coesas nesta obra.


🎧 Música para acompanhar: Ferida Aberta, Paulo Novaes

📖 Outros livros lidos: Tudo é Rio | A Natureza da Mordida


Disponibilidade: Wook | Bertrand

NotaEsta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

10 comments

  1. Já li comentários muito positivos aos livros da autora, vou levar a sugestão para ler. *.*

    Beijinho grande, minha querida!

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  2. Mais uma sugestão que vou guardar.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  3. Fiquei bastante curiosa com esta sugestão *.* Guardei no sitio do costume :)

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    1. Tão bom 😍 aconselho tudo desta autora. Acho que até a lista de compras recomendaria

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  4. Ainda não li livros desta autora, fiquei com muita curiosidade.
    Tenho um problema, não tenho onde arrumar tantos livros😆
    Bjs

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    1. Aconselho muito 😍
      Percebo, querida Amélia, sofro do mesmo problema ahahah

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  5. Acho que já me cruzei com este livro, mas ainda não li.🫣

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