celebrar abril

Fotografia da minha autoria



«(...) viver em cooperação e não em concorrência»


Os meus cravos não são vermelhos, mas simbolizam abril: no legado, na essência, na esperança, na luta por uma liberdade que, conhecendo os limites do respeito, nunca poderá ser condicionada pela segregação, pela divisão, pela falácia. Nesta liberdade conquistada, valorizada, não pode haver espaço para o preconceito.

Os cravos que crescem na minha jarra de vidro não são vermelhos, mas fazem-me pensar, por um lado, na força coletiva e, por outro, na fragilidade que os envolve, no quanto um gesto simples os pode estilhaçar, quebrando a sororidade e a empatia que precisam de ser regadas para crescer e nunca arrancadas.

Os meus cravos não são vermelhos, mas persistem numa vivacidade que me faz acreditar que, por mais dura que seja a batalha, continuamos a não largar a mão de ninguém. Hoje, neste 25 de abril, nestes 50 anos de democracia que muito estimo, quis celebrar a data com sugestões que recordam o lugar de onde vimos, que nunca podemos dar por garantido, e que nos fazem refletir sobre a morada que queremos habitar.


 para ler

 utopia, raquel varela & robson vilalba
Utopia é narrado por José, um jovem da periferia de Lisboa, a viver em plena década 1960. Por isso, direta ou indiretamente, acaba por vivenciar os finais do Estado Novo, o impacto do embarque para a guerra de África, as cheias de 1967, a clandestinidade e o desabrochar para questões políticas e culturais. Nestes submundos que se interligam, vai moldando a sua personalidade e os valores que procura que o movam.

 revolução, hugo gonçalves
O que foi não volta a ser e isso fica claro nesta saga familiar. Ainda assim, a memória tem peso e embala-nos neste enredo, que é melancólico, trágico e cómico em simultâneo; que nos agarra da primeira à última página. Se o comecei em alvoroço, terminei-o quase no mesmo estado, porque o final desarma, comove. A Revolução não se fez só na rua, fez-se de dentro, no coração de cada um destes protagonistas que nos guardam e que alimentam um «labirinto de luz, sombras, crueldade e benevolência» (opinião completa aqui).

antes do 25 de abril: era proibido, antónio costa santos
«Já imaginou viver num país onde:

tem de possuir uma licença do Estado para usar um isqueiro?
uma mulher, para viajar, precisa de autorização escrita do marido?
as enfermeiras estão proibidas de casar?
as saias das raparigas são medidas à entrada da escola, pois não se podem ver os joelhos?
não pode ler o que lhe apetece, ouvir a música que quer, ou até dormitar num banco de jardim?

Já nos esquecemos, mas, há 50 anos, feitos agora em Abril de 2024, tudo isto era proibido em Portugal. Tudo isto e muito mais, como dar um beijo na boca em público, um acto exibicionista atentatório da moral, punido com coima e cabeça rapada. E para os namorados que, num banco de jardim, não tivessem as mãozinhas onde deviam, havia as seguintes multas».


 para ouvir

O Expresso tem um podcast muito especial nestes 50 anos da Revolução. Com episódios escritos por Lourenço Pereira Coutinho e narrados por Teresa Amaro Ribeiro, serão 25 os Retratos de Abril, que pretendem recuperar os «sons da época» e tentar «fixar aquele tempo histórico». Além disso, o objetivo passa não só por focar nos militares e políticos, mas também nos civis que se opuseram ao Estado Novo.

Neste podcast, Raquel Morão Lopes e Francisco Sena recordam-nos de um Portugal sem liberdade, ao mesmo tempo que refletem sobre os próximos 50 anos de democracia.

Todas as quartas-feiras, temos acesso à história de alguém que mergulhou na clandestinidade e que recuperou a sua liberdade - e nome - com o 25 de abril.


 para ver

Minissérie documental de quatro episódios: «A história da resistência ao Estado Novo em Portugal nunca estará totalmente contada. Existiram uma multiplicidade de acontecimentos, de estórias individuais, pequenas/grandes lutas que o tempo se encarregou de ir apagando sem que os seus protagonistas tivessem deixado qualquer testemunho. De entre os acontecimentos esquecidos, grande parte estão ligados aos milhares de mulheres que, com a sua participação ativa, persistente e corajosa, deram um contributo decisivo para que a noite negra que o nosso país viveu chegasse finalmente ao fim depois de quase cinco décadas».

«Portugal hoje é muito diferente do que era há 50 anos. Quase cinco décadas depois, que mudanças profundas aconteceram no país? E que lições devemos retirar para melhorar o futuro? A Fundação Francisco Manuel dos Santos tem um extenso programa para refletir sobre o que mudou e o que é preciso garantir para melhorar a democracia nacional. No âmbito deste programa, a Fundação lança a primeira temporada de uma série de oito minidocumentários, dirigidos especialmente a jovens que já nasceram depois do 25 de Abril, sobre o que mudou no país desde então, que vão permitir pensar e construir o futuro coletivo».

«Portugal celebra 50 anos de vida em democracia - um sistema político que mudou profundamente o nosso país. O documentário Viva a Democracia - 50 Anos e o Futuro convida-nos a uma viagem pelos avanços nos direitos civis, políticos e sociais das últimas décadas, mas também pelos desafios que persistem neste caminho inacabado. Liberdade, Igualdade, Escolha e Participação são os quatro princípios desta reflexão, construída a partir da análise de sete especialistas em diferentes áreas e do olhar de doze cidadãos. Nunca é demais repetir que Democracia representa liberdade, igualdade de oportunidades, justiça social e o futuro. Das conquistas aos desafios, como vemos hoje a nossa democracia e o que esperamos do amanhã?»


«resistimos, agora e sempre» ♥

8 comments

  1. Viva a Liberdade!

    Nos livros acrescentaria a Anatomia dos Mártires do João Tordo que tem como personagem principal a Catarina Eufémia.

    Beijinho grande, minha querida.

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    1. Esse ainda não li, vou adicionar à lista!
      Feliz dia da Liberdade, minha querida!

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  2. Feliz Dia da Liberdade *.* O meu menino foi para a escola a dizer que ia falar à professora que hoje é o Freedom Day in Portugal :) Haverá melhor sensacao de dever cumprido? :) Mas ainda ha muito a fazer :) Ontem estivemos a ver o documentario da RTP Exilios no Feminino e recomendamos :) Quero muito ler os 3 livros que sugeres :)
    Viva o 25 de Abril!

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    1. Owww, que riqueza *-*
      Sem dúvida, a luta continua! Vou acrescentar esse à minha lista também
      Feliz dia da Liberdade, minha querida

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  3. Viva a Liberdade! 😍

    www.amarcadamarta.pt

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  4. Viva a Liberdade sempre, boas indicações pra ler e ver bjs.

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