os crimes do verão de 1985, miguel d'alte

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Violência, Alcoolismo, Saúde Mental; Linguagem Gráfica e Explícita


O passado nem sempre fica onde tem de ficar, porque há detalhes que o recordam e que mudam a forma como o conhecemos. Muitas vezes, pelo que é omitido. E, afinal, quantos segredos pode esconder o mesmo lugar? Com o livro do Miguel d'Alte, vamos perceber que até um sítio fictício é capaz de ficar submerso neles.


uma narrativa cheia de camadas

Os Crimes do Verão de 1985 faz-nos recuar ao ano em que duas crianças (5 e 8 anos) e a adolescente que tomava conta delas (16 anos) desapareceram sem deixar rasto, na Ilha de Poço Negro. O caso tornou-se mediático, mas, apesar de todos os esforços, não se soube onde estariam os corpos. Entretanto, há um culpado condenado e a vida segue... até que, 27 anos depois, uma pista obriga a reconsiderar todas as provas.

Ademar Leal, jornalista caído em desgraça, regressa à ilha que o viu nascer, longe de imaginar que se voltaria a envolver nesta história trágica. Embora tenha resistido, num momento inicial, a obsessão pela verdade falou mais alto e é neste ponto que o passado e o presente se cruzam, se fundem. Mesmo que nada se altere, torna-se impossível ignorar os factos: e se o verdadeiro criminoso continuar em liberdade?

Tentei entrar na narrativa devagar, para saborear o embalo e todos os pormenores que pudessem surgir nas entrelinhas. Sendo este um policial/thriller, nunca nada é o que aparenta, portanto, seria a minha abordagem para procurar levantar questões, criar teorias e, inocentemente, desvendar o mistério que continua a pairar sobre um período doloroso, onde a desconfiança passou a imperar. Mas não fui capaz, porque chegou a uma altura do enredo em que já só queria unir todas as pontas soltas.

«Procurei todo o sucesso que obtive. Nessa altura, achava que escrevia para salvar o mundo, hoje percebo que procurava encontrar-me em tudo o que escrevia»

É uma narrativa cheia de camadas e gostei que explorasse temas como a linha ténue entre a ascensão e a queda, os abusos de poder, os privilégios que abrem portas e transmitem uma certa impunidade e o luto que nunca se faz em pleno, quando há algo que falta. Além disso, gostei da ideia de existirem coisas que não conseguimos largar, independentemente do tempo que passar e das circunstâncias - não sei se havia essa intenção prévia por parte do autor, mas fiquei com esta imagem muito presente.

Houve alguns detalhes que me pareceram excessivos, porque não acrescentam consistência à história, não trazem mudanças significativas. Ainda assim, gostei da forma coerente como transitou na linha cronológica e como nos procurou confundir sempre, fazendo-nos duvidar de tudo e de todos. Por vezes, a verdade está a um palmo de nós, mas descobri-la, para além de poder potenciar perdas, pode revelar-se dilacerante.


🎧 Música para acompanhar: Space Age Love Song, A Flock Of Seagulls


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

6 comments

  1. Nunca tinha ouvido falar desse autor. Vou guardar a sugestão. Boa semana!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Foi uma excelente descoberta. Fiquei cheia de vontade de ler o outro do autor 😍

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  2. Já ouvi falar muito deste livro. Quero muito ler, adoro um bom thriller.

    Obrigada pela partilha.

    Beijinho grande!

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    1. Acho que ias gostar, lê-se muito bem! Só queres descobrir tudo 👌🏻

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  3. Conheço de vista, ainda não li :)

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