Entrelinhas #34

Fotografia da minha autoria

«(...) é um inspirador livro de memórias a que ninguém fica indiferente. Cheio de revelações, tocado pela surpreendente magia da sua escrita, mostra o percurso de trabalho e sacrifício de Cristina na busca determinada pela realização de um sonho»

Há profissionais que nos cativam, pelos mais variados motivos. E os quais passamos a acompanhar com atenção. Cristina Ferreira é um exemplo desses casos. E aquilo que me fascina nela é a sua capacidade de superação. É o facto de se entregar em pleno aos projetos que abraça. E, além disso, é a verdade com que nos chega. Quando soube que iria lançar um livro, a minha curiosidade foi imediata!

Habituei-me a vê-la no Você na TV. Segura, sem vedetismos, sem ter medo de ser como é. E isso conquistou-me automaticamente, porque admiro pessoas genuínas, que nunca se esquecem das suas origens. Depois disso, comecei a visitar o Daily Cristina, onde me rendi à sua escrita simples, direta e envolvente. Mais tarde, tornei-me leitora da sua revista, pela diferença e por ser um produto feito de pessoas para pessoas. Agora, os livros são um mundo à parte, com uma atmosfera muito própria. Por isso, admito, tinha um certo receio de ficar desiludida. É que quando admiramos alguém, inevitavelmente, elevamos as expectativas. E acreditamos que tudo terá o mesmo grau de excelência. Por outro lado, é de Cristina Ferreira que estou a falar: uma profissional no verdadeiro sentido do termo. E isso descansou-me, por ter a forte convicção de que encarou este passo com consciência, assumindo um compromisso com toda a seriedade. E querem que seja sincera? Passei a olhá-la com ainda mais respeito e admiração!

Sentir é uma viagem pelos seus sentimentos, onde o passado se intercala com o presente. É uma obra intimista, mas não biográfica. É uma coletânea que nos abre a porta do seu mundo e nos releva mais partes de si, mas sem o fazer em demasia, uma vez que há coisas que, por serem muito nossas, não têm necessidade de serem expostas. Estruturalmente, o livro está dividido por temas distintos, que acabam por se complementar. Os textos não são extensos, mas aconchegam, focam o essencial, fazem-nos viajar e deixam-nos com vontade de saber mais. Outro detalhe importante - até porque este livro é feito disso mesmo, detalhes - é a presença de fotografias, que ajudam a pintar os cenários, a torná-los mais próximos e [quase] palpáveis. Honestamente, sinto que é a simplicidade que torna este trabalho tão maravilhoso e inspirador, pois nota-se que foi escrito e produzido com todo o coração.

Este Sentir é cheio de verdade. Transparência. Onde se sente o poder das palavras e das emoções. E isso percebe-se logo no prefácio, que é uma mensagem da mãe da apresentadora. A partir daí, a escrita flui. Prende-nos, ao mesmo tempo que nos dá asas e nos liberta. Dá-nos esperança. E também nos convida, discretamente, a refletir. E muito! Emocionei-me com muitas das suas histórias. Revi-me em algumas das suas opiniões. E, por essa razão, não posso deixar de mencionar que «Do amor ao ódio» é um dos meus textos favoritos! É fascinante acompanhar o seu percurso através das memórias que partilha. E, talvez por isso, a leitura torna-se fácil e bastante agradável. É notório que não se deixa deslumbrar, que não tem medo de arriscar, que o respeito pelo ex-marido nunca esteve em causa, que não se deixa corromper e que a sua postura é despretensiosa e vertical.

Com humor, com amor, com conquistas, com dissabores [que também fazem parte] e sem perder a humildade, Sentir é mesmo a cara de Cristina Ferreira. E ainda bem!

Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«A certeza do colo da minha família dá-me o aconchego necessário para poder correr o risco de falhar» (p:12);

«Mas poderão os de fora olhar o amor? Podem, mas nunca o conseguirão ver na sua plenitude. Poderão os de fora ver coisas que quem ama não vê? Podem, mas são apenas coisas. Coisas que nunca farão diferença num coração ligado a outro coração» (p:19);

«Naquele momento percebi como é tão importante uma mensagem. Um telefonema. Um "gosto de ti". Foi em Julho de 2016. Aos 38 anos senti que me tornei melhor amiga. Senti que não basta lembrar. É mesmo preciso abraçar» (p:58);

«Provou-se que a vontade pode ajudar à sorte e que não é a casa de partida que nos condiciona as metas» (p:93);

«Claro que tudo tem um lado menos bom. Nem todos estão preparados para a diferença. A mesma novidade que surpreende também assusta. Mas o importante é não nos desviarmos do caminho» (p:146).