Desapegar & Destralhar

Fotografia pessoal

«Desapego é sossego»

O peso do que nos mantém presos não fica mais leve. Muito pelo contrário. E as falsas raízes, que acreditamos serem genuínas e descomplexas, só nos atrasam. Por isso, a nossa vida tem fases. Tem processos. Tem ritmos. E tem capítulos que precisamos de avançar - ou de parar de escrever. Porque o desapego é poético, mas, caso não venha de dentro, é uma mera folha a esvoaçar sem direção. E eu sinto que estou numa etapa em que tenho que voltar a destralhar: a alma, o armário, o meu sentido.

É uma prática que tenho com regularidade. Apesar de ser muito apegada a certos objetos, peças e pessoas, priorizo bastante a minha paz interior. E há momentos em que é necessário reorganizar e libertar espaço. Portanto, e porque defendo que é crucial, primeiro, desapegar para, depois, destralhar, esforço-me por afugentar da minha bolha de segurança tudo aquilo que já não me move. E começo pelo lado mais fácil: a roupa, os acessórios, os objetos que poderão ser úteis a outro alguém. Assim, deixo sempre o mais delicado para o fim: as pessoas. Porque nem todas têm que permanecer. Nunca me esquecerei do que me trouxeram de maravilhoso, mas, sem as expulsar, abro a janela para que possam voar para outro lugar, se for essa a sua vontade. Porque existem caminhos que já não fazem sentido palmilhar em conjunto. E estou, cada vez mais, confortável nessa certeza. Na transição para 2019, sei que ficaram pontas pendentes. Mas fechei essa porta, visto que não tinha que acontecer. Embora corra o risco de parecer insensível, estou tranquila com este desenrolar das circunstâncias. E, sobretudo, da vida. Certamente, tudo tem uma razão de ser. E eu aprendo a cuidar melhor de mim quando paro de insistir no apego e deixo fluir. Só não fecho o coração.

Abri as gavetas - físicas e internas. E compreendi que está na hora de voltar a destralhar. Pois quero ser leve. Minimal. Sem exagerar no que me é essencial. E sem me comprometer. Porque o compromisso mais importante é o meu bem-estar. E a minha liberdade: sem correntes, sem tralhas, apenas com a bagagem certa.