Bairro da Ponte | Stereossauro

Fotografia da minha autoria

«E se perguntarem o número da nossa porta, diz que a nossa casa é na asa de uma gaivota»

O conceito de ponte é um dos que mais me fascina: pela aproximação, pela segurança, pelo estreitar de laços e pela infinidade de travessias - internas e externas - que podemos realizar. Porque as diferenças tornam-se mínimas quando se desconstroem certos muros e se desmistificam certezas que não são inflexíveis. E isso é válido para a vida, no geral, e para determinadas componentes, em particular. Atravessar a ponte nunca nos deixou tão perto como agora. E o melhor de tudo é que não tem que acontecer num sentido literal, nem presencial. Basta estender a alma e abrir o coração.

A música, a par de outras manifestações artísticas, é capaz deste elo de fusão. E sinto que é aquela em que mais se verifica a praticabilidade desta simbiose de registos e identidades. Como admiradora desta dinâmica, considero que é uma mais valia cultural, não só pelo desafio, mas também pelo lado imprevisível. Surpreendente. E potenciador de uma abordagem singular. Além disso, é a prova de que a música, enquanto arte, preserva uma transversalidade muito maior do que aquela que, por vezes, achamos possível. Porque não alimenta barreiras. Há, sim, artistas a comunicar emoções comuns, independentemente do género que abraçam.

Bairro da Ponte, do DJ e produtor Stereossauro, mistura fado com hip-hop e eletrónica, combinando a tradição com a modernidade. Para tal, foram convidados 20 músicos brilhantes e inspiradores, de áreas distintas, o que proporcionou uma partilha de talento e de saberes muito mais intima, significativa e impulsionadora dessa aliança. Juntos, deram forma a um trabalho absolutamente genial, onde cada canção é uma explosão de sensações. Partindo de «masters originais de Amália e Carlos Paredes», Stereossauro criou uma «linguagem muito própria», relacionando estilos, gerações e personalidades, ao mesmo tempo que desenvolveu uma sonoridade familiar. Mas porquê Bairro da Ponte? Porque a palavra «bairro significa pertença. É a nossa identidade, o nosso lugar [...] e a ponte é o elemento de ligação entre duas margens, entre o antigo e o novo, o acústico e o digital». E eu apaixonei-me por este disco no primeiro segundo, porque cada detalhe é precioso. Porque a mensagem derruba muros. Toca-nos. E torna a música portuguesa ainda mais característica e generosa. Nesta conjugação de mundos, aparentemente, distintos, a qualidade é inegável, bem como a atração destes «corpos musicais».

Em suma, «se estás à espera de encontrar um bairro de fado, não podias estar mais perdido. Na tasquinha da esquina, as raízes da música portuguesa cantam ao som do hip-hop e nunca se faz silêncio. É numa desgarrada ensaiada que a guitarra portuguesa se junta ao rock com uma batida eletrónica. Um bairro cheio de artistas, onde 19 temas acabam com a distância de estilo e idade. E se ouvem em velocidade cruzeiro, sem pressas e nem apitadelas. O Bairro da Ponte não é apenas um álbum. É a nova voz de uma velha cidade que pede para ser ouvida».