Gira-discos | Mishlawi

Fotografia da minha autoria


«I wanna make it bigger than I thought I would»


A nossa vida é marcada por rituais, desde os mais simples aos mais complexos. E eu não sou exceção. Sendo a música uma parte bastante significativa da minha personalidade, não consigo andar de carro sem ter o rádio ligado. E, quando entro em casa, depois de me colocar confortável, abro o Spotify e deixo que a sonoridade das minhas playlists me envolva num abraço apertado. E há artistas que nos resgatam e que nos fazem sentir que este é o nosso lugar certo. Numa simbiose perfeita, deixo-me levar. E desfruto sem rede.

É curioso como há nomes que desconhecemos, por mera distração, mas cuja obra nos acompanha. Perdi-me inúmeras vezes a ouvir a All Night sem ser capaz de a atribuir ao seu criador. E o mesmo aconteceu, mais tarde, com a Limbo e com a Ignore. Mas existe sempre um sinal familiar que nos capta a atenção. E, assim que dei conta do traço transversal, compreendi que estava perante o mesmo artista: Mishlawi. Ele foi abrindo a porta devagar, conquistando o meu gosto aos poucos. Porque houve, em mim, uma fase de transição, recuperando a identificação com o rap e o hip-hop. Foi, sem qualquer incerteza, através da Afterthought que, finalmente, me rendi a todo o seu talento e passei a escutá-lo com uma regularidade diária. E tem sido uma viagem fabulosa descobrir o seu trabalho e verificar o quanto tem crescido e construído uma identidade coesa, com uma mensagem poderosa e inspiradora. E a sua postura inteligente, matura, humilde é um trunfo, porque o deixa um passo mais perto da genialidade.

Quando partilhei as minhas palavras-chave, não foi por acaso que contornei um pouco as regras e inclui o seu nome. Porque foi um privilégio [re]encontrar a sua música. Por isso, e porque acredito que terá um futuro ainda mais promissor, fazia parte daquele grupo que ansiava pelo lançamento do seu primeiro álbum. Enquanto admiradora do seu percurso e, principalmente, da sua arte, sentia que estava na hora dessa conquista pessoal e profissional. Era justo e inteiramente merecido - para ele e para o público que partilhava um desejo comum. Mas enche-me de orgulho perceber que não acelerou o processo; que respeitou o seu ritmo e a sua ambição. E Solitaire, que não terá representação física, invadiu as plataformas digitais, no passado dia 8 de fevereiro. Que álbum fabuloso! Valeu a pena saber esperar.

Consciente na procura da sua imagem, do seu nicho, traçou temas que alternam entre «o seu lado mais melódico, o rap mais acelerado e o R&B sensual». Talvez seja a minha visão romantizada e imaginativa, mas sinto sempre que há uma história entre músicas, que leva a que o alinhamento adquira uma lógica própria, apaixonando-nos quando o escutamos. Era esse um dos grandes objetivos de Mishlawi - «procurar uma linha, uma combinação que fizesse sentido» - e, por muito suspeita que eu seja, tenho a certeza que conseguiu. Além disso, alcançou, também, um registo distinto, que o destaca e que o permite ser reconhecido - pela voz, que adoro, e pelo estilo de escrita. Defendo que a identidade de um artista pode permanecer em desenvolvimento, dependendo das vertentes que pretende explorar, mas a essência é inquebrável. E a dele é bem visível.

Auxiliando-me nas palavras de Gonçalo Correira, presentes neste artigo que aconselho, Solitaire é «um álbum conciso, coerente, melódico, que flirta com o trap e o R&B, misturando-os». E apresenta «rimas percetíveis, algumas das quais engenhosas, e melodias cantadas com precisão, por cima de camadas sonoras difíceis de tirar da cabeça». Cada faixa é um mundo com várias desconstruções e mensagens subliminares. Há muita verdade. Vulnerabilidade. Cicatrizes. É tão pessoal, que quase nos sentimos expostos. E esse, sinto, é o lado mais poderoso da música: é alguém ter a capacidade de, através de uma letra, de uma sonoridade, retratar uma realidade que não se encerra no artista - ainda que possa preservar muita da sua experiência. Numa componente mais individual, apesar de ser extremamente complicado selecionar canções favoritas, porque estão todas incríveis, Win Some Lose Some, Uber Driver, Honor Roll e Selfish ocupam um lugar de destaque. Porém, reafirmo, cada uma das restantes é um autêntico pedaço de arte. E tenho que as ouvir em sequência. Solitaire, seguramente, será um dos álbuns do ano - pelo menos, para mim, já o é. 

O seu estilo tem sofrido [maravilhosas] metamorfoses. E a sua música tem cada vez mais impacto, o que se comprova, igualmente, pela necessidade de haver uma segunda data no Hard Club, no Porto. Mas, claro, o principal fator prende-se a toda a qualidade dos seus temas. À sua evolução. E à sua visão artística - sem esquecer aqueles que foram fundamentais na sua afirmação. E eu já só anseio pelo momento em que o poderei ver a atuar ao vivo. Mishlawi está pronto para os grandes palcos. E vai conquistá-los a todos!

Comentários

  1. Eu confesso que tenho andado um pouco distanciada da música.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  2. Também não consigo viajar com o rádio desligado, aliás assim que dou à chave do carro o rádio liga-se automaticamente e gravito sempre entre a Antena 1 e a 3 passando pela Antena 2, aproveito para desejar uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Sinto que as viagens fluem melhor ao som da música :)
      Eu vou alternando entre a Mega e a Cidade

      Obrigada e igualmente*

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  3. good post 😊 would you like to follow each other? if the answer is yes, please follow me on my blog & i'll follow you back. https://camdandusler.blogspot.com

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  4. Eu faço quase tudo ouvindo música. Cozinhar, comer, às vezes tomar banho, ir ao mercado, até mesmo ler e escrever, dependendo do tipo de música, ou simplesmente caminhar pelas ruas com os fones de ouvido. A música é, para mim, uma das melhores companhia. Não conheço o som de "Mishlawi", mas como sou curioso e gosto de conhecer novos artistas, vou procurar! :)

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    1. Somos dois! Também faço acompanhar as minhas rotinas com música :)
      Espero que te surpreenda pela positiva!

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    2. Se chegar a ouvir, depois diga-me o que achou :)

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  5. O que mais adoro é quando estou a fazer algo em casa ou arrumar tem de ter sempre musica, mas quando vou de carro nem o sempre tenho ligado porque opto por por a conversa em dia
    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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    1. Parece que as coisas se fazem melhor ao som de música :) também converso muito no carro, mas sempre com som de fundo ahah

      Beijinhos

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  6. Ca em casa adoramos música e o meu filhote adora imitar o Freddie Mercury Hehe :) fico toda babada a olhar para ele:)
    Beijinhos minha querida*
    https://matildeferreira.co.uk

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  7. A música é algo intrínseco a nós, acho mesmo que não conseguiria viver sem ela!
    E através dela conseguimos ver-nos, perceber as nossas mudanças e fases na vida.

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    1. Tem um peso e uma energia extraordinários *-* sim, sem dúvida!

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  8. Ultimamente não tenho andado a ouvir quase musicas nenhumas. Ou quando ouço é no caminho para a faculdade para ir distraída e coloco qualquer musica que esteja em primeiro no spotify.

    Beijinhos :D

    http://damselme.blogspot.com/?m=0

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  9. Já ouvi mais música do que ouço agora mas no carro é cada vez mais imprescindível! Beijinhos*

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  10. Tal como tu preciso de música em todos os momentos da minha vida até mesmo para dormir, beijinho

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  11. Eu sou daquelas que me perguntas "conheces a cantora x" e eu digo-te que não, ai começas a cantar e eu descubro que afinal sim. Raramente consigo associar a música ao seu cantor.

    https://www.sonhamasrealiza.pt/

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  12. eu sou viciada em música, e Spotify é a "minha vida" todos os dias ouço música. É algo que sem dúvida alegra a nossa vida :)

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  13. revi-me nas tuas palavras!

    um beijinho,

    https://skylykika.blogspot.com/

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  14. A minha publicação de hoje responde ao que eu penso | sinto pela música, portuguesa ou não. Claro que da portuguesa ainda gosto menos 🐦

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    1. Daqui a pouco já faço uma visita para ler :)
      Sou o oposto: prefiro muito mais a música portuguesa

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  15. Não passo sem música, posso esquecer-me do telemóvel mas nunca do leitor de música e é sempre bom quando a biblioteca musical se preenche de novos artistas. Não conheço muito o trabalho de Mishlawi mas gostei das músicas que ouvi aqui :).

    Beijinhos grandes!

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    1. A música é tão camaleónica que pode adquirir a inspiração que pretendemos *-*
      Fico contente por teres gostado. Espero que, se tiveres curiosidade em descobrir mais, ele te surpreenda pela positiva

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  16. Adoro música.
    Tenho que ir descobrir este artista.
    Beijinho

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  17. Conduzir deve ser a única atividade que consigo levar a cabo ao mesmo tempo que ouço música. O rádio do meu carro está configurado para começar a tocar assim que ligo a ignição e só parar quando retiro a chave.
    Já quanto a RAP, sabes bem a minha opinião. Não é por nada, mas faz-me confusão ir a acelerar e o RAP dar-me a sensação que tenho o motor ao ralenti. Ainda por cima o meu carro é a gasolina e o RAP só imita o ralenti de um motor diesel. eheheheheheheheheh

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    1. O meu deve ter uma configuração idêntica :p
      Sei, sim. Isso é porque não andas a ouvir o rap certo ahahahah

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  18. Gosto de todo o tipo de musica. Depende muito do estado de alma. Conduzir com musica é o melhor, mas não a muito alta:))

    HOJE, DO GIL ANTÓNIO :- Cintilantes olhos verdes

    Bjos
    Votos de uma óptima Noite.

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    1. Bem observado, até porque o nosso estado de alma acaba por ter uma grande influência na escolha musical :)

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  19. Por acaso à noite enquanto ando nos blogs, deixo tb o youtube a rolar :)

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  20. Ando a ouvir muito música brasileira e francesa, e não conhecia, mas parece-me bastante interessante!
    Beijinho, Ana Rita*
    BLOG: http://www.margheritablog.com/ || INSTAGRAM: https://www.instagram.com/rititipi/ || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/

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    1. Também gosto muito de música brasileira :)
      Sou suspeita, mas aconselho-o!

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  21. Even i love the music , sometime i like to listen slow melodious songs and sometime like in gym i like to listen songs full of energy. Basically it depend upon what i am doing on that time.
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    1. Sim, acontece-me o mesmo! Depende muito do momento, da tarefa e do próprio estado de espírito :)

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  22. Sem dúvida, meu bem!

    Posso estar dias sem ouvir música - coisa que é muito rara -, mas em viagens acho essencial. :) O mais engraçado é que eu tenho várias playlists para as várias ocasiões e estados de espírito!

    NEW CITY BREAKS POST | PORTINHO DA ARRÁBIDA @SETÚBAL!
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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    1. Isso é ótimo, porque assim consegues adequá-las a cada momento :)

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  23. Já o enumeraste tanto por cá que eu tenho mesmo de pesquisar e ouvir mais, para ver se se encaixa em mim :)
    A forma como escreves sobre a música é tãoooo incrível!

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    1. Sou suspeita, mas aconselho imeeeenso, minha querida *-*
      Se ouvires, depois diz-me o que achaste!
      Oww, obrigada ♥

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