LER É CONHECER // FIGURAS HISTÓRICAS

Fotografia da minha autoria


«Os Arquivos Secretos e a sua alucinante caça ao assassino»


A intenção depositada nas tarefas com as quais nos comprometemos devolve-nos sempre diferentes experiências. Porque é dependente daquilo que procuramos sentir. A leitura é uma ponte que atravesso para me perder noutros lugares. Noutras pessoas. Noutras histórias. No entanto, é, simultaneamente, uma possibilidade para aumentar os meus conhecimentos em determinada área. Para crescer. Para aprender a ser melhor. Por isso, decidi participar no projeto Ler é Conhecer, criado pela Bárbara [@olhaoqueeujali] e pela Maria Inês [@bookwanderlustt].

Há, no total, quatro temas, desprovidos de qualquer ordem invariável. Portanto, optei por iniciar a minha jornada com Figuras Históricas, seguindo um caminho, talvez, não tão óbvio, tendo em conta que selecionei Stieg Larsson - Os Arquivos Secretos. Desde que me cruzei com a Saga Millennium que fiquei particularmente interessada no jornalista e escritor sueco. Não só pela obra em si, mas também pela luta social que fez questão de travar até falecer, vítima de um ataque cardíaco. A sua voz teve peso. Teve impacto. E tornou o mundo num lugar um pouco mais seguro, ainda que a caminhada permaneça longa. E, para mim, se há personalidades que merecem homenagem são aquelas que procuram repor a verdade, munindo-se das armas e dos valores certos.

A premissa desta narrativa não se foca só em Larsson. Aliás, parte de outro nome: Olof Palme, primeiro ministro da Suécia, cujo assassinato continua indecifrável. É impressionante como uma pessoa pode despoletar semelhante ódio, marcando toda a identidade de uma nação. Porque os nossos atos têm consequências. E, quando vão de encontro a objetivos de entidades influentes, o resultado tende a ser perigoso. Nefasto. Evidenciando o pior lado da humanidade. Enquanto Palme procurava combater a corrupção, a xenofobia e o apartheid, assistiu-se ao seu hediondo homicídio, em praça pública, que desencadeou uma série de perguntas sem resposta. A resolução do crime, por seu lado, transmite traços da própria situação política - tão questionável. Por isso, a conspiração e o jogo de interesses são uma constante.

É complicado definir onde reside a verdade, até pela quantidade de pistas e suspeitos. E, com tantos avanços e recuos na investigação, persiste a sensação de que houve pressões externas para ocultar alguns pormenores. Em paralelo, é quase palpável a desorientação da polícia, obstinada com um único caminho. No meio deste caos, Larsson, que era um forte ativista contra a intolerância, a injustiça e a extrema direita, iniciou uma pesquisa particular. Embora não tenha podido concluí-la, comprovou que a teia era bem mais densa do que aparentava, cruzando nomes e organizações que funcionavam como fachada.

Jan Stocklassa tem, então, um papel determinante na sequência desta história, uma vez que recupera os dados inquiridos e decide reunir as peças. Entre silêncios, negociações falhadas, entrevistas e becos sem saída, o jornalista dedicou-se a oito anos de um trabalho intenso e, por vezes, inglório, sustentado noutros «trinta de teorias, hipóteses e contra-hipóteses», que se revelaram inúteis. Olof Palme, ao denunciar o regime de segregação racial, também estava «a condenar e a expor os negócios à volta do petróleo e das armas que passavam pelo Irão e pela Nicarágua», sendo suficiente para conquistar inimigos. Desta forma, e com vista a compreender melhor estas ligações, Stocklassa deslocou-se à República Checa, ao Chipre e à África do Sul, conversando com antigos agentes de serviços secretos. Na tentativa de fortalecer a sua tese, compreende que a maioria dos factos encontram-se cobertos «por uma camada obscura de presunções e mentiras».

Stieg Larsson - Os Arquivos Secretos é um misto de ensaio, jornalismo de investigação e romance de espionagem. Com um ritmo alucinante e conspirativo, considero fantástico o facto de o autor não se ter focado apenas no homicídio, mas de ter estabelecido um contexto social e político, ao mesmo tempo que desencadeou um paralelismo com a vida do criador da Millennium e da sua, tornando o relato mais fidedigno e entusiasmante. Assim, abre uma espécie de caixa de pandora, não nos apresentando uma resposta [até porque essa responsabilidade é da força policial], mas encaminhando-nos no sentido certo. E este livro, segundo o próprio, não é a última palavra. Porém, pode levar à frase que todos pretendem escutar: detivemos o homem que matou Palme.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«O material que estes arquivos continham era demasiado importante para não ser retomado. Mas eu ainda não sabia até onde esse material me levaria, nem que as minhas investigações me iriam pôr em perigo, a mim e a outros» [p:21];

«Antes de descobrir os arquivos de Stieg as minhas próprias investigações já me tinham levado a alguém que tinha sido suspeito do homicídio, mas que a polícia tinha deixado de lado e em quem os meios de comunicação social nunca falaram muito» [p:92];

«As negociações de Wedin eram vigorosas, convincentes» [p:288];

«- O que Vic disse acerca do facto de existir apenas uma única lista...
- Sim - disse eu.
- Não é verdade. Há duas listas, claro» [p:335];

«Devia existir em algum lado uma descrição de uma arma e do local onde ele a tinha escondida. E poderíamos encontrar aí, sem dúvida, o revólver que matara Olof Palme» [p:450].


// Disponibilidade //
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Comentários

  1. Das coisas que mais gosto nas minhas leituras :) Conhecer e aprender :)
    Beijinhos*

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  2. Ando muito preguiçosa no que diz respeito a leituras....

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  3. Já ouvi falar do autor, mas nunca li nada. Tenho que ler a saga Millenium.

    Beijinho grande!

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  4. Querida Andreia
    Neste ano de 2020 quero alinhavar no meu blog Sonhos e Poesia um projeto intitulado "Café Poético" onde no último dia de cada mês será apresentado na minha página uma pérola poética de sua autoria à sua escolha para que possa ser apreciado pelos nossos amigos e amigas leitores. Maiores informações no meu blog. Passe por lá, leia a postagem e sinta-se à vontade para aceitar ou recusar o convite
    Beijinhos

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  5. Gostamos muito deste tipo de obras. Deixa-nos presos de início ao fim, sempre a fazer apostas de como será o final. Pareceu-nos uma excelente sugestão!

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    1. Deixa-nos sempre em movimento, a equacionar múltiplas hipóteses. Embora o final deste seja em aberto, é mesmo interessante perceber como tudo se desconstrói

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  6. Nestes tempos não tenho feito em ler um livro, mas acho bastante importante, mas esse parece ser uma boa sugestão
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  7. Gosto desse tipo de leitura, narrar factos históricos e compreender a história.
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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  8. Não li, mas deve ser mesmo muito interessante.
    Andreia, continuação de boa semana.
    Beijo.

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  9. Parece-me interessante! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  10. Para se saber o que não se sabe,
    a leitura será o caminho certo
    sem ser preciso muita velocidade
    para se poder alcançar o sucesso.

    Boa noite e bons sonhos Andreia.

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    1. Aprende-se imenso através da leitura, é inegável!

      Obrigada e boa sexta

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  11. Não fazia ideia do percurso de Stieg Larsson, nem dessas ligações... a saga Millennium é brilhante!

    Bjs,
    Anita On Blog

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    1. É um percurso muito interessante! Das minhas sagas favoritas *-*

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  12. Na altura em que o livro saiu escrevi sobre ele e estou muito curiosa para o ler. Comprei o ebook há umas semanas e, depois disto, estou com ainda mais vontade de o ler!


    A Sofia World

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    1. Andava em pulgas para o ler e esta foi a desculpa perfeita :) quando o fizeres, depois diz-me o que achaste

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