SÉTIMA ARTE //
A FLORESTA DAS ALMAS PERDIDAS

Fotografia da minha autoria


«Terror à portuguesa»


A motivação para assistir a um filme pode ser a mais óbvia ou a mais impensável, porque dependerá sempre do nosso estado de espírito e da quantidade de ofertas. Portanto, aprendemos a definir filtros que nos auxiliem neste processo de seleção. Na reta final de janeiro, voltei a privilegiar a sétima arte, abraçando uma obra cuja ação se desenrola a partir de um lago que conheço [quase] como a palma da minha mão.

A Floresta das Almas Perdidas é uma longa metragem de José Pedro Lopes. Filmada a preto e branco, intensifica a energia inquietante do argumento, transportando-nos para um lugar ficcional, «numa zona fronteiriça entre Portugal e Espanha», que tem como fundo o Lago de Sanabria. Neste contexto, por ser isolado e sombrio, é o sítio escolhido por muitas pessoas para terminarem com a sua vida. Automaticamente, recordei Homens Imprudentemente Poéticos, de Valter Hugo Mãe, tendo em conta que a sua narrativa foca Aokigahara, onde homens e mulheres entram para cometer suicídio. E é nesta fusão entre o misticismo e uma componente mais íntima que se estabelece uma alegoria sobre a dor, a solidão, a finitude e o valor da existência. 

Numa floresta densa e remota, como é caracterizada, dois estranhos cruzam-se. Ele porque vai à procura do local exato onde a filha se matou. Ela para alimentar o seu fascínio pela morte. Mas um deles não é quem diz ser. E rapidamente compreendemos que a relação entre ambos é improvável. Dicotómica. Apenas vinculada por um ponto em comum. Por essa razão, é interessante como, de um modo subtil, através dos diálogo que partilham, nos levam a refletir sobre temáticas tão centrais como as redes sociais, a teoria da convicção, a psicopatia e o lado descartável do ser humano. No entanto, senti a sequência um pouco confusa e, até, desconexa. Talvez por não existir uma verdadeira motivação a sustentar determinados comportamentos. A premissa é clara e bem explorada, mas senti-me perdida em certos momentos, porque é extremamente complicado desconstruir a essência algo perversa de um dos protagonistas. O filme está conotado como sendo de terror. E, acredito, não tanto pelas imagens, mas pela ausência de um propósito. E acho que é essa carga emocional que nos incomoda, porque é desumana.

A Floresta das Almas Perdidas explora a melancolia, a depressão, a mentira e o drama inerente da chegada à vida adulta. Além disso, há um revisitar mórbido dos corpos que permanecem ao abandono. Embora não me tenha arrebatado, é inegável o poder da sua mensagem, porque nunca será demasiado alertar para o suicídio e para a saúde mental. Quantas almas perdidas não vagueiam ao nosso lado? Estaremos livres de sermos uma? Indiscutivelmente, há silêncios que precisamos de aprender a ouvir, pois há sempre alguém a sentir que não pertence a este mundo.

Comentários

  1. Respostas
    1. Cruzei-me com este filme por acaso, confesso, muito por causa do local das filmagens

      Eliminar
  2. Não me parece que seja bom para mim ver agora, no entanto não deixo de achar super interessante!!

    A foto está brutal!!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Compreendo, é daquelas obras que requerem a predisposição emocional certa. Mas tem uma mensagem com impacto

      Eliminar
  3. Nunca tinha ouvido falar deste filme e fiquei curiosa, tenho que vê-lo.

    Beijinho grande!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Gostava que tivesse outro desenvolvimento, mas é interessante

      Eliminar
  4. super bacana sua indicação,confesso que nunca vi mts filmes portugueses, mas já quero ver esse

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

    ResponderEliminar
  5. Fiquei com muita vontade de ver o filme :)
    Muito obrigada por esta excelente sugestão :)
    Beijinhos*

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sinto que merecia outro desenvolvimento, mas até gostei 😊

      Eliminar
  6. Posso dizer que ainda não conhecia
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

    ResponderEliminar
  7. «Indiscutivelmente, há silêncios que precisamos de aprender a ouvir, pois há sempre alguém a sentir que não pertence a este mundo.» às vezes está mesmo ao nosso lado e não damos conta, este tema precisa de ser tão ouvido e tão verdadeiramente falado!

    Não conhecia o filme, talvez o veja em breve :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso é o mais assustador: estarmos perto e, mesmo assim, não percebermos as mudanças. Confesso que é das coisas que mais me assusta.
      Sem dúvida. E devemos fazê-lo as vezes que forem precisas, até que, finalmente, compreendemos todos o seu verdadeiro impacto.

      Esperava mais coerência entre cenas. Ainda assim, tem aspetos interessantes

      Eliminar

Enviar um comentário