O ADEUS AOS NOSSOS HERÓIS

Fotografia da minha autoria


«As lendas são eternas»


A vida é imprevisível. Mas, quando começamos a ser conscientes do processo que a envolve, compreendemos que há um destino transversal à humanidade: independentemente das nossas rotas, nascemos com um prazo de validade. Por mais angustiante que isso seja, a morte é mesmo a única certeza que permanece. No entanto, não deixa de ser assustadora. E, até, ingrata. Porque implica uma rutura - mas nunca o esquecimento.

Tenho 27 anos e conto com algumas despedidas na bagagem. E um dos aspetos que mais mexe comigo é aquele adeus - ou até já - que nunca conseguimos dizer. Porque fica preso na garganta. Ou, simplesmente, porque foi tudo repentino. E essa mágoa inquieta e abre feridas que demoram a sarar. Em simultâneo, é de uma brutalidade terrível aceitarmos que determinada pessoa deixará de estar presente, fisicamente, no nosso quotidiano. É cruel. De inúmeras maneiras que não sou capaz de definir. Contudo, procurando ser racional, sei que é um desfecho inevitável. E encontramos conforto na sensação de que as memórias nos manterão perto. E que as tornarão eternas no lado esquerdo do nosso peito. Mas essa dinâmica faz todo o sentido em relação a personalidades com quem estabelecemos uma relação próxima, umbilical. Porém, parece inconsciente quando a direcionamos a figuras públicas. Porque o elo que nos liga é, na maior parte dos casos, unilateral. Ainda assim, não se revela mais simples lidar com a perda.

A morte de Kobe Bryant abalou-me profundamente, uma vez que foi sempre uma referência no Basquetebol - desporto que me fascina desde que tenho plena noção de quem sou - e por toda a capacidade de entrega, de superação, de união. Pois só alguém verdadeiramente especial poderia criar a onda de amor que se fez sentir em todo o mundo. Depois do choque da notícia, chorei. Chorei muito. E em silêncio. A ler as homenagens que foram sendo publicadas e a recordar fragmentos da sua carreira brilhante. Nesses segundos de vazio, senti que éramos muitos a partilhar a mesma dor. A mesma dormência. A mesma incredulidade. A mesma admiração. E é impressionante como é que uma pessoa que apenas conheci à distância, na sua componente profissional, me marcou a este ponto, quase como se me tivessem arrancado um pedaço de chão. Pensando bem, é, do mesmo modo, esta a magia que reveste os nossos heróis.

Esta situação fez-me extravasar noutros sentidos. Para outros nomes e para a ausência que despertariam em mim. E permitiu-me, precisamente, refletir sobre a tristeza que subsiste quando nos despedimos de quem nos inspira. Naturalmente, o fosso emocional nunca será tão intenso como aquele que destinamos à morte de um familiar ou de um amigo. Mas acredito que esse afastamento mediático também dificulta o luto. Porque os nossos ídolos, as nossas referências, parecem sempre intocáveis. Insubstituíveis. Eternas. E este traço de finitude humaniza-as. E demonstra que, também para elas, chegará o dia de se elevarem a uma estrela no nosso céu. Só que, enquanto da nossa fortaleza podemos guardar pontos de contacto, objetos, recordações, delas fica só a imagem que construímos. O que não é tão pouco assim, porque há uma série de aprendizagens que se colam à nossa pele.

Custa-me imaginar o [meu] mundo sem profissionais - de várias áreas - que moldaram o meu crescimento. A minha passada. O meu caráter. Porque é surreal. Porque continuamos a insistir que não é possível. Não pode ser. E esta carência custará sempre. Mas sei que, onde estiverem, encontrarão uma maneira de não desaparecerem em definitivo. Pois fica o talento. A obra. As conquistas. E permanecemos nós, os eternos admiradores, a perpetuar os feitos. E a plantar aquela semente de luz, que cresce para inspirar. É por isso que as lendas nunca morrem.

«05 seconds on the clock
Ball in my hands
5... 4... 3... 2... 1»

Até sempre 🏀❤

Comentários

  1. Ninguém está preparado para aceitar a morte....

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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    1. Até porque há sempre uma ponta de esperança que nos orienta

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  2. Foi um choque a morte de Kobe Bryant uma referencia para muitos jovens.
    Continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  3. É sempre uma perda irreparável quando perdemos alguém que tanto admiramos, fragmenta-nos. Não conhecia o Kobe mas chocou-me a forma como ele e a filha morreram =(

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Fica um vazio difícil de definir e de gerir. Foi horrível :/

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  4. Acho que ninguém está mesmo preparado para nada, pois, não sabemos o dia seguinte,
    há pessoas que nos deixam bastante saudades
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  5. É sempre uma perda irreparável quando perdemos alguém que tanto gostamos e admiramos.
    Bjs

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  6. O meu desporto preferido desde os tempos da escola, eu era viciada na NBA e o meu jogador preferido era o Magic Johnson, da mesma equipa do Kobe mas anterior... também já tenho a minha ri-se perdas na vida, infelizmente e sem contar custa ainda mais... o que me conforta é a inspiração que estas pessoas nos deixam e saber que eles vivem para sempre nas nossas memórias ❤️
    Beijinhos, minha querida*

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    1. Adoro basquetebol, muito por culpa do meu primo. E, em parte, arrependo-me de não ter aproveitado a oportunidade de integrar uma equipa.
      Sim, sem dúvida, vale-nos essa inspiração que os mantém presentes na nossa memória e, também, nos nossos passos. Porque pessoas como ele são inesquecíveis *-*

      Beijinho grande

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  7. Todas as perdas são tremendas.
    Neste caso, pai e filha, não devia ser possível tamanha tragédia.

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  8. Desde o dia em que nascemos, estamos a caminhar para a morte. Sendo essa a realidade, de que não estamos a fugir da morte. Bom é não sabermos quando e onde ela nos separa!

    Tenha uma boa noite Andreia.

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    1. É das poucas certezas que temos nesta vida. Mas, sim, o melhor é mesmo não sabermos quando acontecerá, assim podemos aproveitá-la

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  9. Respostas
    1. Por mais que saibamos que irá acontecer, por mais que tínhamos a sensação de que o tempo se esgota, há sempre uma réstia de esperança

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  10. A morte deixa-nos sempre um vazio, seja um familiar nosso, um amigo, um conhecido ou uma figura pública, ainda que em intensidades e com lutos diferentes é algo que nos deixa um sabor amargo.
    Confesso que não acompanhava a carreira do Kobe ao pormenor, mas a morte dele deixou todo o mundo abalado de tão inesperado que era, a forma como ele e a filha morreram deixa-nos mesmo a pensar na efemeridade da vida e em como não sabemos nada dela. A morte assusta-me por isso, por haver a hipótese de não me despedir... e é por isso que tento dizer sempre às minhas pessoas que gosto delas.

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    1. É isso mesmo: os lutos têm intensidades diferentes, mas magoam na mesma. Porque há um profundo respeito e admiração pela pessoa em questão. E perdê-la é sempre doloroso.
      Parece surreal. Ainda hoje espero que não passe de um pesadelo. Cada vez mais corroboro a teoria de que somos instantes, por isso, temos que aproveitar a nossa vida ao máximo.
      Acho que essa parte é a mais angustiante. Não a morte em si, mas essa possibilidade de nos faltar um adeus ou um até já

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