GIRA-DISCOS // THE BLKBRDS

Fotografia da minha autoria

«Ambiente retro com uma pitada futurista»

A minha transição da infância para a adolescência ficou marcada por uma série muito específica - Morangos Com Açúcar - e por uma banda em particular - os D'ZRT. Como menina em crescimento, encontrei neste grupo uma referência de perseverança. Um refúgio. E uma maneira de expressar tudo o que batia no peito. Embora fossem quatro elementos, estabeleci uma identificação imediata com dois deles, mantendo-me atenta aos seus percursos desde que apareceram no grande ecrã.

O caminho dividiu-se por inúmeras rotas. Houve um luto imprescindível. E, depois, uma redescoberta. Houve silêncios. Manifestações artísticas distintas. Pausas. E inovações. No meio de altos e baixos, o talento prevaleceu sempre, valorizando o traço camaleónico. E sendo o Vitor Fonseca [Cifrão] um homem de palco, com música no corpo, não me surpreende o quanto se reinventa. Por isso, foi de sorriso largo que li a novidade referente ao seu mais recente projeto, que o coloca ao lado de Vasco Alves - fundador da Jukebox Crew. Através da mente criativa destes dois amigos, nasceu um conceito singular, «personificado na dança», mas com «uma presente bagagem musical».

Os The BLKBRDS são uma banda com influências electro, funk, hip hop e rock dos anos 80, com a clara intenção de recuperar essa essência mais antiga, modernizando-a e construindo-lhe uma ponte para o futuro. Como resultado desta fusão tão desafiante e rítmica, lançaram um álbum homónimo, que nos inquieta, convidando-nos a dançar. Sem receios. Sem inseguranças. Apenas pela paixão do movimento. Além disso, transmite toda a sinergia e todos os vínculos que se estreitam, comprovando o quanto há dialetos musicais que se podem unir. Marcando o presente, mas abrindo portas para um tempo que ainda estará para chegar.

A Call Me Up é o meu tema favorito do disco. No entanto, foi impossível não ser conquistada pelo tom transversal aos restantes, uma vez que esta obra auditiva - tão original e irreverente - é coerente. Madura. Libertadora. E transcendente. Porque o[s] The BLKBRDS proporciona[m]-nos uma experiência cheia de estímulos. E uma viagem alucinante, da qual não queremos saber o fim - só que continue.