THE BIBLIOPHILE CLUB // JULHO

Fotografia da minha autoria


Tema: Um livro relacionado com culinária
[pode conter spoilers]


A cozinha é uma das divisões em que passo menos tempo. No entanto, sinto que tem uma energia diferente, onde nos podemos sentir, de facto, em casa. Porque não se trata apenas de preparar uma refeição, como um processo automático e desprovido de emoções. Neste espaço acontece a magia da partilha - introspetiva ou social. Nasce uma história com distintos protagonistas. E sentimos o amor a adquirir uma forma deliciosa. Porque cozinhar para os nossos significa cuidar. E é mesmo um dos atos mais generosos que podemos ter para com os demais.

Perante o tema de julho, para o The Bibliophile Club, confesso que hesitei na minha escolha, até perceber que já tinha lido os livros certos para esta categoria, pois, ainda que de um modo subtil, a culinária aparece como uma espécie de terapia, realçando o nosso lado vulnerável, empático e confortável, atendendo a que nos encontramos num lugar seguro, no qual os nossos pensamentos deambulam livres ou em conversas que se tornam mais profundas e confidentes. Nesse sentido, regressei à minha estante para revisitar a trilogia A Todos os Rapazes que Amei, que foi escrita com uma alma tão simples. E muito doce.

Jenny Han criou uma narrativa - em três volumes - que equilibra lugares comuns com assuntos mais sérios. E é por essa razão que a considero tão fascinante e estimulante. Sobretudo, porque faz-nos refletir sobre os grandes amores, sobre a pressão do secundário, sobre o aprender a estar numa relação, sobre os fantasmas do passado. Mas também sobre as perdas, as conquistas, o perdão, a solidão, a amizade, os diferentes laços afetivos e, claro, sobre a comida. Além disso, coloca-nos em contacto com a multiculturalidade. O feminismo. E o poder do amor próprio. Recheadas de drama, humor e crescimento, estas obras permitem-nos aprofundar várias inseguranças e compreender o quanto a comunicação e a confiança são imprescindíveis em qualquer relação - familiar, profissional, amorosa. Pois são a base de verdade com que interagimos com os outros e os acolhemos na nossa vida.

Contrariamente ao que priorizo, assisti primeiro aos filmes. No entanto, sinto que até foi positivo, uma vez que me concedeu a oportunidade de visualizar as reações e o desenvolvimento dos acontecimentos com outro conhecimento. E uma das características que mais apreciei na construção literária centra-se na inteligência de não cair no extremo de ter um protagonista completamente petulante, enquanto o outro se deixa pisar constantemente. Pelo contrário, encontramos personagens reais e problemas genuínos. Por consequência, revi-me em inúmeros comportamentos, dúvidas, anseios e decisões, mesmo estando a ler a história de pessoas com, no mínimo, menos dez anos do que eu. E isso demonstra bem o seu lado credível. Proximal. Memorável.

Há uma aura de responsabilidade em crescendo. E verifica-se um nível emocional evolutivo, quando transitamos para o volume seguinte. Apesar disso, sinto que o primeiro é mais cómico, o segundo mais maduro e o terceiro mais introspetivo. E reconhecer estas sucessivas transformações torna a viagem bastante completa, permitindo-nos aprender sobre os vários tipos de amor, a desconstrução de certezas, o impacto das memórias e a aceitação do outro tal como ele é. E, claro, clarificar que nenhuma das partes tem que se anular para estar numa relação saudável. Portanto, acredito mesmo que esta trilogia transborda mensagens maravilhosas e que deve ser lida por todos aqueles que procuram adicionar um pouco mais de encanto à sua jornada.


 OS PONTOS ALTOS 


A TODOS OS RAPAZES QUE AMEI

A premissa é original e envolvente, mostrando-nos 
o quanto a escrita funciona como um aliado.

O início catastrófico, em consequência das cartas enviadas. A aproximação de duas pessoas, aparentemente, tão diferentes, mas que conseguem conversar com tanta naturalidade e descontração. E eu sinto que é a transparência entre Lara Jean e Peter Kavinsky que cativa. Os sentimentos que, posteriormente, se farão sentir, mas que ambos parecem ignorar, tornam o romance amoroso, porém, é a empatia e a abertura das suas conversas que nos fazem apaixonar pela sua relação.

«Guardo as minhas cartas numa caixa de chapéu verde-azulada que a minha mãe me trouxe de uma loja de antiguidades da Baixa. Não são cartas de amor que alguém enviou. Não tenho dessas. São cartas que eu escrevi. Há uma por cada rapaz que amei» [p:7].


P.S. AINDA TE AMO

O aprender a confiar, a estar numa relação e a partilhar inseguranças não é assim tão intuitivo, sobretudo, quando há um passado e a sensação recorrente de se ter de competir com ele.

Este livro começa com uma promessa. E termina com ela a ser quebrada. Embora saibamos que as promessas são para cumprir, ainda bem que esta se desfez. Porque só os levou a magoarem-se. A perderem a capacidade de comunicar sem filtros. E, pior, a tentar construir algo que não existe: um relacionamento perfeito. E esta é, para mim, a caminhada mais significativa e valiosa da narrativa, pois coloca-os à prova em diversas circunstâncias, desconstruindo aquilo que consideram essencial. Em simultâneo, é o ponto em que se fecham algumas feridas.

«Há uma palavra coreana que a minha avó me ensinou. Chama-se jung. É a ligação entre duas pessoas que não pode ser cortada, mesmo quando o amor se torna ódio. Continua-se a ter aqueles sentimentos antigos por essa pessoa; nunca se consegue sacudi-los completamente; sempre se terá ternura por essa pessoa» [p:252].


AGORA E PARA SEMPRE

O último capítulo. As emoções estão todas à flor da pele, atendendo a que se avizinham grandes alterações

Lara Jean descobre, por fim, a sua voz. E percebe que colocar-se em primeiro lugar não faz com que ame e estime menos as suas pessoas. Simplesmente, compreende que é digna desse mesmo amor. Esperam-se grandes mudanças. E a maior delas acontece de dentro para fora.

«- Acho que o magoei de tal forma que ele nunca me vai perdoar. Ele não deixa as pessoas entrar na sua vida com muita facilidade. Para ele, o mais certo é eu já nem existir» [p:256].


Uma das maiores belezas dos livros é a certeza de que Lara Jean e Peter Kavinsky estão a crescer. Enquanto seres autónomos. E enquanto casal. E este amor tem tudo para vencer qualquer adversidade. O primeiro volume é, sem dúvida, o meu favorito. E admito que estava à espera de uma sequência diferente no terceiro, o que me deixou com várias questões. Ainda assim, o que fica é uma história inspiradora.

A trilogia A Todos os Rapazes que Amei sabe a cupcakes, a bolos, a bolachas de chocolate negro. Sabe a casa. A abraços. E a amor.


// Disponibilidade //

A Todos os Rapazes que Amei: Wook | Bertrand
P.S. Ainda te Amo: Wook | Bertrand
Agora e Para Sempre: Wook | Bertrand

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Obrigada ♥

Comentários

  1. Respostas
    1. Recomendo imenso esta trilogia. Faz-nos passar um bom momento :)
      Obrigada e igualmente, Francisco

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  2. Ora aqui está uma forma original de abordar este tema! Ainda por cima faz todo o sentido, porque a LJ até passa bastante tempo na cozinha.

    Fico tão contente por teres gostado dos livros! É uma forma diferente de perceber a Lara Jean e o Peter e os livros são tão fofinhos!


    A Sofia World

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    1. Não é? Senti-me um bocadinho iluminada depois de decidir falar desta trilogia, porque, realmente, a Lara Jean e a cozinha têm uma relação muito próxima :p ahahah

      Adorei! Acho que a história, para além de estar bem conseguida, tem tanto para nos ensinar. E consegue ser mesmo proximal, eu via todo aquele drama/aqueles problemas a acontecerem sem grande dificuldade. Depois é inegável a química entre os protagonistas.
      Sem dúvida.

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  3. Não perco tempo a ler livros fofinhos!!

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  4. Boa tarde:- Decerto um livro muito interessante para quem gosta de cozinhar.
    .
    Cumprimentos poéticos

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    1. Gostei bastante de todos. E, embora não sejam direcionados à culinária, até podemos tirar algumas ideias :)

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  5. Cozinha não é comigo...
    Mas as sugestões de leitura já são e parecem-me boas.
    Bom fim de semana, querida amiga Andreia.
    Beijo.

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    1. São muito agradáveis de se ler :)
      Obrigada e igualmente, Jaime

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  6. Vi esta semana uma booktuber a dar a opinião sobre esta trilogia. Nunca li, mas fiquei curiosa.

    Beijinho grande!

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  7. Eu confesso que não gosto nada de cozinhar....

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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    1. Eu até gosto, mas não sou um ás, nem nada que se pareça :p

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  8. Confesso que não é de todo o que mais gosto de fazer, mas quando se tem de fazer quem que ser
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  9. Adoro cozinhar 🥰 E tenho a sorte do Rui também gostar 🧡
    Deixaste-me curiosa com está sequela💛

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  10. Na cozinha estou safa o meu marido adora cozinhar e comer bemmmm, de vez em quando faço uma surpresa e todos adoram.
    Bjs

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  11. Quero muito ler essa trilogia e envolvendo culinária melhor ainda!! Adorei o formato que adaptaste para esta review! 😍 ficou muito gira!! Adorei!

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    1. Acho que vais gostar, está mesmo um amor de trilogia *-*
      Oh, obrigada!

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  12. Olá Andreia
    Esses biscoitos de chocolate fizeram-me salivar :D
    Escolheste muito bem os livros, adorei a história, é simples, é doce, é mágica, tem tanto da nossa adolescência, é muito bonita. Também fiz como tu, não resisti e vi primeiro o filme. Vi apenas o primeiro filme e depois li os dois livros, não sabia que tinha saído o terceiro livro, vou ver se o compro em Agosto.
    Vou acabar primeiro o que ando a ler da Jude Deveraux "Máscaras ao Luar" (sou fã incondicional desta série de livros de Edilean, em que a autora consegue ligar todas as histórias e trazer as personagens das histórias anteriores aos livros seguintes, são deliciosos, bons para quem gosta de se sentir a "derreter" com um romance) :D
    Um grande beijinho

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    1. Esta trilogia é mesmo tudo de bom *-*
      Andava há imenso tempo a querer lê-la, mas outros livros tornaram-se prioritários. Até que, em abril, aderi ao desafio cinematográfico da Lyne e acabei por ver os filmes. Viciei de tal maneira na história que não perdi mais tempo e comprei logo todos ahahah
      Concordo totalmente! É mesmo um enredo bastante completo, que facilmente nos cativa.
      Essa série não conheço [só li um livro da autora], mas vou procurar. Obrigada pela dica

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