2020 // 12 MESES, 12 LIVROS

Fotografia da minha autoria



«Livros são os mais silenciosos e constantes amigos»


A minha caminhada literária dividiu-se em capítulos extraordinários. Atendendo a que ultrapassei a meta inicial, acusei a pressão - boa - de selecionar apenas doze favoritos, porque cruzei-me com histórias arrebatadoras, que permanecerão na minha memória. E a verdade é que é este o super poder que mais me inspira na literatura, visto que nos transforma e que fomenta a nossa identidade - e não só a livrólica.

Os meus maiores pilares para manter um ritmo constante foram os clubes de leitura - Uma Dúzia de Livros e The Bibliophile Club -, porque abriram portas que, talvez, nem equacionasse sem esse impulso. Com o intuito de complementar a experiência temática que nos proporcionam, aliei-me a outros desafios - Ler é Conhecer e Ler é Respeitar a História -, uma vez que acredito que o propósito, para além de pertinente, é bastante estimulante. Em simultâneo, ao lançar o Alma Lusitana, também explorei obras que permaneciam em espera. Por consequência, sinto que alarguei horizontes, aprofundei conhecimentos e vivenciei novas realidades. Mesmo que as narrativas ficcionais tenham sido, novamente, as protagonistas, considero que foi possível estabelecer pontes com o meu contexto, intensificando aprendizagens. E como é especial aprender através da arte. E das palavras escritas.

Num ano em que me comprometi a comprar menos livros e a priorizar os que estavam guardados na estante, também assumi a missão de abraçar mais os nossos autores, o que me possibilitou descobrir novos registos e talentos. Portanto, ciente da viagem emocional que os livros deste ano me reservaram, estes foram os títulos que mais se destacaram.


JANEIRO


A Sombra do Vento // Carlos Ruiz Zafón: Este romance termina da mesma forma que se inicia, demonstrando o quanto a nossa evolução é cíclica. Através do seu final com notas de esperança, e atendendo a que aborda um pouco de tudo - mistério, morte, política, sexo, amizade -, compreendemos que há obras nas quais tropeçamos e que nunca mais nos abandonam. Porque, neste elo tão umbilical, fazem morada no nosso peito, marcando-nos eternamente [Uma Dúzia de Livros // Janeiro].


FEVEREIRO


1Q84 Vol. 1 // Haruki Murakami: O escritor japonês era um dos que mais curiosidade me despertava. Portanto, na Feira do Livro do Porto, em 2018, aproveitei para adquirir a trilogia 1Q84. O problema é que esteve guardada na estante até este mês, porque acreditava que ainda não tinha chegado o momento certo para mergulhar no seu mundo fantástico. Finalmente, aventurei-me. E a viagem foi espetacular. A atmosfera é distinta, original, e permite-nos deambular por realidades paralelas, com a certeza de que se cruzam em algum ponto. Neste primeiro volume ainda não é clara a dimensão desta componente, mas é um impulso estimulante. Em simultâneo, sinto que as descrições e as constantes reflexões interiores das personagens ajudam a tornar o enredo mais sólido. E cativante, até pela naturalidade do enredo.


MARÇO


Lá, Onde o Vento Chora // Delia Owens: A história da Kya deixou-me completamente sem palavras. Porque tem uma aparente simplicidade que nos angustia. Privada de amor, de companhia e de uma série de detalhes que, para a maioria de nós, são banais e intrínsecos à nossa existência, teve que aprender a sobreviver. A tomar decisões. A lutar contra o preconceito. E a sarar as feridas. Não estava, de todo, à espera do seu final. E isso desarmou-me. Além do mais, fiquei com a certeza de que, até onde o vento chora, é possível recomeçar. Esta obra é um testemunho de resiliência, que dificilmente esquecerei.


ABRIL


A Noite em que o Verão Acabou // João Tordo: Esta obra é altamente viciante. Imprevisível. E surpreendente. Porque é cheia de camadas e reviravoltas, onde nada é o que aparenta ser. Eu bem que tentei formular inúmeras hipóteses para solucionar o caso, mas foram todas deitadas por terra. É que o autor criou um fio condutor a transbordar de qualidade. Mesmo quando transita entre o passado e o presente.


MAIO


O Bairro das Cruzes // Susana Amaro Velho: Escrevi uma publicação no blogue com alguns livros de autores portugueses que gostaria de ter sido eu a redigir. Quando saiu, ainda não tinha terminado este, caso contrário, também figuraria nessa lista. Porque está fabuloso! A autora, com mestria e sensibilidade, conseguiu contar-nos duas histórias em simultâneo: a do Bairro das Cruzes e a da família de Luísa - e da Rosa. Senti cada pedaço desta narrativa. E não queria parar de ler. Porque tem dor, reviravoltas, um certo mistério e drama. Tem amor e alma. Tem Portugal antes da liberdade e uma lenda que não deixa de se fazer notar. Não gosto de dizer que têm de ler determinada obra, porque todos temos experiências literárias diferentes. Porém, contradizendo-me, se puderem, permitam-se descobrir este exemplar.


JUNHO


Sou Um Crime // Trevor Noah: As palavras tornam-se escassas para fazer justiça a este livro. Pois consegue deixar-nos com sentimentos mistos. Por um lado, a escrita de Trevor é espetacular, viciante, com traços de humor que nos serenam as emoções. Mas, por outro, destrói-nos por completo. Porque a sua história faz-nos perceber a injustiça, o abuso de poder, a discriminação, a descredibilização da mulher. E, ainda, o quanto é fácil julgarmos determinados comportamentos quando temos opções de vida. Além disso, não posso deixar de destacar a transparência no seu discurso, atendendo a que poderia ter ocultado as atitudes pouco abonatórias que teve ao longo do seu crescimento, mas abriu essa porta. E refletiu sobre cada uma delas. Espelhando a realidade que o acompanhou desde o berço. Sou Um Crime é duro. É comovente. Não deixa de ser engraçado. E é, também, uma prova de amor.


JULHO


O Jardim das Borboletas // Dot Hutchison: Um thriller psicológico. Doentio. Marcante. E, surrealmente, belo. No entanto, parece quase errado assumir esta última qualidade, porque o enredo tem contornos horríveis, que nos fazem questionar os limites do ser humano e o quanto desconhecemos as pessoas que nos rodeiam. Enquanto a vida continuava o seu ritmo natural, dentro de uma mansão isolada aconteciam os atos mais hediondos. E cada descrição revolta-nos. Desassossega-nos. Passei a maior parte do livro com o coração em alvoroço, mas a verdade é que não conseguia deixá-lo, porque as personagens são cativantes e o desenrolar da ação desperta-nos a necessidade de saber mais. De compreender as motivações e como é que tudo se processou. Com um final surpreendente, esta história pode chocar - e muito. Mas é uma autêntica obra de arte. Quero ler mais!


AGOSTO


O Homem que Plantava Árvores // Jean Giono: A história é simples, alternando entre palavras e ilustrações. E lê-se num sopro. Contudo, tem uma mensagem inspiradora, que dificilmente esqueceremos. Porque nos mostra que a nossa pegada, quando motivada pelos valores certos, pela perseverança e pelo desejo de conservar a natureza, faz toda a diferença no mundo. Em 1913, um jovem atravessou os Alpes franceses para encontrar paz e conheceu um pastor com uma missão particular. A maior aprendizagem deste convívio é a certeza de que a generosidade e a consistência têm a capacidade de recuperar o que está perdido.


SETEMBRO


Nem Todas as Baleias Voam // Afonso Cruz: Levanta várias questões, porque a sua mensagem é maior do que nós. Enquanto nos incentiva a encontrar equilíbrio, apelando a uma articulação entre a fantasia e a racionalidade, somos envolvidos num tributo às artes e numa gestão emocional, que coloca o desamparo amoroso, o medo, a amizade, as cicatrizes e um ligeiro sadismo no mesmo plano. Com um final que arrepia, apesar de não o aparentar de imediato, há uma pergunta a acompanhar-nos sempre em surdina [Uma Dúzia de Livros // Setembro].


OUTUBRO


Apneia // Tânia Ganho: Esta obra literária conquistou-me pela capa lindíssima, mas contrastante com a dureza da mensagem que guarda no seu interior. Partindo do testemunho de várias mulheres, que partilharam as suas experiências de divórcios litigiosos e de idas aos tribunais de família e menores, somos confrontados por uma sensação de revolta e de angústia recorrente, atendendo a que evidencia problemas fraturantes da nossa sociedade - que, aparentemente, evoluída continua a falhar nos cuidados mais básicos. De quantas provas necessitamos mais para, então, impedir tragédias? [Uma Dúzia de Livros // Outubro].


NOVEMBRO


Racismo no País dos Brancos Costumes // Joana Gorjão Henriques: A autora é jornalista, branca, ciente dos seus privilégios e sem a pretensão de falar pelos outros. No entanto, a sua consciência social fá-la querer servir de plataforma, como a própria refere, «para um grupo heterogéneo de pessoas que é alvo de discriminação a vários níveis». Embora esta obra parta de uma série de reportagens publicadas no jornal Público, em 2017, continua a ser atual e a evidenciar o mito do não-racismo. Assim, baseada em histórias reais, é revoltante a dualidade de critérios, o desrespeito e os obstáculos acrescidos, porque a cor ainda influencia o acesso aos direitos humanos. Cru, objetivo e conciso, Racismo no País dos Brancos Costumes mostra a urgência de expormos casos como aqueles que são escritos, porque, enquanto não mudarmos a estrutura, o problema continuará irreversível.


DEZEMBRO


Uma Dor Tão Desigual: A Ordem dos Psicólogos propôs um desafio a oito autores portugueses, para que escrevessem contos relacionados com as perturbações. Porque ainda é necessário consciencializar e ultrapassar o estigma associado a doenças do foro mental. Assim, deambulamos por narrativas distintas, que poderiam representar a história de qualquer um de nós ou daqueles que nos rodeiam, explorando a perda, a solidão, os medos, a depressão, os delírios e a dificuldade em pedir ajudar - muitas vezes, porque não somos capazes de reconhecer que precisamos dessa mão que nos salve da escuridão. Portanto, Afonso Cruz, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Joel Neto, Maria Teresa Horta, Nuno Camarneiro, Patrícia Reis e Richard Zimler, com escritas muito particulares e uma imaginação fascinante, procuraram combater o preconceito e contribuir para encontrarmos, juntos, mais uma saída. Este livro, sem qualquer dúvida, tem uma premissa promissora e uma mensagem de extrema importância, permitindo-nos compreender melhor as dores do outro. Só por curiosidade, «Jaca» e «Chameada de Pássaros» foram os textos que mais me marcaram. Mas qualquer um dos oito contos é uma autêntica chamada de atenção, desmistificando conceitos e colocando a bandeira neste pensamento: não precisamos sofrer sozinhos.


Que livros marcaram o vosso ano?

Comentários

  1. Adorei todas as recomendações 🧡 O do Trevor Noah e incrível e tenho o 1Q84 em lista de espera para ler 🧡

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi uma leitura impressionante! Sinto que temos de estar predisposto para o ambiente de 1Q84, mas vale tão a pena *-*

      Eliminar
  2. "Regresso a Casa", José Luís Peixoto; Harry Potter, trilogia Just One, O regresso, Nicholas Sparks, O que nos magoa, Diogo Simões.

    Beijinho grande!

    ResponderEliminar
  3. Os mais marcantes deste ano foram Vamos comprar um Poeta e O pintor debaixo do lava louça, de Afonso Cruz, O espião inglês, de Daniel Silva e A Piscina, de Libby Page.

    A sombra do vento... Livro, lindo ❤️

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O Pintor Debaixo do Lava-Loiças tem o meu coração ❤️ também adorei o Vamos Comprar Um Poeta!
      Tenho de ler A Piscina :)

      Eliminar
  4. Não é mesmo que tens aí umas boas sugestões de livros, nem todos conhecia, mas sim quem sabe não me dedique a leitura de livros

    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

    ResponderEliminar
  5. Andreia boas sugestões de livros, são livros incríveis que você leu, eu ainda não li livro estou precisando ler, Andreia desejo um Feliz Ano Novo, bjs.
    http://www.lucimarmoreira.com/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Recomendo qualquer um deles, Lucimar :)
      Obrigada e igualmente!

      Eliminar
  6. Confesso que não li ainda nenhum dos livros que recomendaste, no entanto, fiquei curiosa com o primeiro! :)

    www.amarcadamarta.pt

    ResponderEliminar
  7. Estou atualmente, a ler o último livro da saga O Cemitério dos Livros Esquecidos de Carlos Ruiz Zafón e sair do seu mundo é difícil! São livros muito viciantes e impossíveis de parar de ler. A Sombra do Vento foi dos meus favoritos! O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu foram grandes surpresas! Estou ainda nas 100 páginas do 1Q84 (no primeiro volume) e não sei se é a ação que se desenrola muito devagar, ou se é a escrita do autor que não me entusiasma, mas está a ser uma complicação chegar ao fim. Aborreço-me muito facilmente, mas não desisto! Só espero que no fim, valha a pena.
    Quero muito ler Lá, Onde o Vento Chora e O Jardim de Borboletas! Li 38 livros este ano, mas ainda assim, tenho tantos por ler e por adquirir. Em 2020 espero conseguir ler uns quantos! 🥰 Adorei as tuas escolhas e deve ter sido mesmo muito complicado escolhê-los de tantas outras obras incríveis. Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quero muito completar a coleção *-*
      Acredito que 1Q84 é um pouquinho mais exigente, no sentido em que tem uma sequência narrativa que nem sempre é fácil de acompanhar por em nada se assemelhar ao que vivemos. No entanto, quando aceitamos esse lado mais surreal, é fabulosa!
      Foram duas leituras incríveis, acho que ias gostar.
      Espero que consigas alcançar o teu objetivo <3

      Eliminar
  8. Adorei estas recomendações, pois ainda não li nenhum dos livros. Já ouvi falar de vários e a maioria consta na minha lista de livros que quero ler. Fiquei a conhecer O Bairro das Cruzes que me deixou bastante curiosa e me pareceu ser muito interessante.
    Beijinhos e Feliz Ano Novo,

    Six Miles Deep

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aconselho bastante, Daniela, é um livro fantástico *-*

      Obrigada e igualmente

      Eliminar
  9. Já li alguns deles, outros tenho na minha estante por ler e ainda alguns que gostava de comprar 🥰

    ResponderEliminar

  10. Olá, boa noite!

    Que este ano de 2021, seja próspero, desconfinado e sereno!


    Saudações minhas!

    ResponderEliminar
  11. Não conheço nenhuma das obras. Mas sempre tive curiosidade nos livros de João Tordo.
    Um dia destes aventuro-me...

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    Bluestrass

    ResponderEliminar
  12. Coloquei alguns livros para a minha lista ;)

    ResponderEliminar

Enviar um comentário