GIRA-DISCOS || VAMOS CONVERSAR

fevereiro 08, 2021

Fotografia da minha autoria

«Prometo que amanhã vou estar aqui»

A melodia ecoa memórias distantes, reproduzindo nomes que se perderam do meu enlaço - ou, então, fui eu que os larguei da mão. Enquanto apreciadora de programas de talentos, procuro manter-me atenta aos participantes que mais me marcaram, quando transportam a sua arte para além desse contexto. Porém, nem todos permanecem com esta proximidade.

Mimi Froes foi uma das concorrentes do Fator X [salvo erro, em 2014] e eu recordo-me da doçura da sua voz. Ela levantou voo para outros palcos e eu acabei por não a acompanhar nessa transição. Mas o destino dá sempre muitas voltas e, recentemente, graças a uma partilha do João Couto, fui à descoberta do tema Não Faz Mal Não Estar Bem. E foi com uma enorme surpresa que verifiquei que era uma das canções do seu EP de estreia. Lançado em outubro, do ano transato, é composto por seis músicas. Portanto, de peito aberto, mergulhei nesta sua viagem sonora.

Vamos Conversar é o desabrochar de um casulo, de um emaranhado de riscos e rabiscos, que transformam a alma em letras intimistas e com tanto mundo dentro. Cantando-nos sobre derrubar medos, sonhos [e pessoas que nem sempre podem sonhar], ser colo e as indecisões que nos desorganizam, a Mimi convida-nos para escutar um discurso honesto, sereno, como o qual é tão simples relacionarmo-nos. Porque há situações transversais que podiam representar parte da nossa história.

Se fechar os olhos, sinto-me quase protagonista dos seus enredos. E creio que este é um dos aspetos mais generosos de um artista: quando abre o seu coração e constrói uma ponte com aqueles que se encontram do outro lado da margem, mesmo que nunca venha a descobrir quem são. Por isso, revi-me em pensamentos e senti a frustração, o desgosto, a gratidão, a determinação em ir, a consciência e o afirmar de uma identidade que se alimenta de passos ponderados e com tantas camadas.

Vamos Conversar marca o começo de uma jornada bonita. E que espero que floresça com o devido reconhecimento. Porque, aqui, a Mimi abriu as asas e mostrou-nos a sua essência. Com muita emoção. E sem filtros.