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Fotografia da minha autoria |
Gatilhos: Referência a Suicídio
As novelas gráficas da Marjane Satrapi alugaram um lugar vitalício no meu coração. Na realidade, ainda só li duas, mas foi o suficiente para querer descobrir mais histórias da sua autoria. E, recentemente, fui para aquela que, para mim, tem o título mais curioso/sugestivo.
um misto de dor e de amor
Frango com Ameixas conta-nos a história de Nasser Ali Khan, um famoso músico de tar. Por causa de uma discussão familiar, o instrumento musical é partido e há uma transformação no protagonista, ao ponto de o vermos a perder o gosto pela música.
O tom autobiográfico não é tão evidente nesta obra, até porque Satrapi «só aparece de passagem», mas isso não invalida os traços catárticos, já que acompanhamos o quotidiano do seu tio-avô, durante um período curto de tempo: uma semana antes do seu final de vida. E, genuinamente, sinto que é neste elo que autora brilha, porque consegue unir o lado pessoal com a história do Irão, consegue atar os nós de modo a sentirmos que um dos lados não existe sem o outro. E fâ-lo sempre com um sentido de humanidade fascinante.
«Na noite de 19 de novembro de 1958, um silêncio tenebroso reinava sobre a sua casa. Nasser Ali Khan tinha razão. Alguém orava por ele»
Tal como uma melodia, somos embalados pelos sonhos de Nasser, pela angústia, pelo passado que tanto lhe pesa e por esta noção de perda paralisante, como se os dias deixassem de fazer sentido. Foi triste ver todas as sombras que o cobrem, toda a incompreensão e o tom de quem já não tem forças, nem vontade, para resistir.
Não sei se este é ou não o livro mais maduro de Satrapi, mas senti que é dos mais melancólicos que já li, sobretudo, pelas promessas do que poderia ter sido e não foi. Frango com Ameixas tem, ainda assim, diálogos com algum humor, para além de toda a poesia que os reveste. E o final, que me desorganizou por dentro, deixou-me a pensar que uma decisão/resposta diferente, num determinado momento, poderiam mudar a nossa história.
🎧 Música para acompanhar: La Journée de Nasser, Olivier Bernet
📖 Outros livros lidos: Persépolis | Bordados
4 Comments
Fiquei com muita vontade de ler este livro.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Beijinho grande, minha querida!
Aconselho, minha querida
EliminarNão conhecia
ResponderEliminarSe gostares de ler novelas gráficas, esta pode ser uma boa aposta
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