limpa, alia trabucco zerán

Fotografia da minha autoria



O primeiro livro de Alia Trabucco Zerán publicado em Portugal já estava no meu radar há algum tempo e o facto de a Rita o ter escolhido para o Livra-te, em fevereiro, aumentou a minha vontade de o descobrir. Apesar de ter adiado esse encontro, foi uma das minhas primeiras reservas na BiblioLED e acabei a lê-lo mais cedo do que estava à espera. Terá compensado?


uma forte crítica social

Limpa traz-nos a história de Estela García, uma jovem que arranja trabalho na casa do casal Jansen, enquanto empregada doméstica e ama. Durante sete anos, a sua realidade é pautada por tudo o que acontece dentro daquelas quatro paredes e pelo crescimento de Julia, numa rotina repetitiva, por vezes invisível, que quase nos faz acreditar na possibilidade de existir algum tipo de proximidade. Mas percebemos a falácia dessa imagem, até porque sabemos desde o início que a menina está morta e que há limites impossíveis de serem transpostos.

O início, que tem tanto de despojado como de provocador, que parece sussurrar-nos as coisas para ficarmos inquietos, conquistou-me e, inclusive, recordou-me de Crónica de Uma Morte Anunciada, pela questão de sabermos o desfecho, mas não o que nos levou ali. No entanto, acabou por não me arrebatar como estava à espera. Sendo-vos franca, não sei o que esperava ao certo do livro, mas tomou um rumo que não foi bem o que idealizei.

«A palavra raiva, por exemplo, tem apenas cinco letras. Cinco letras, só cinco. E, no entanto, o meu peito ardia»

Adorei que a narradora fosse pouco confiável e que, dentro da mesma casa, contactássemos com realidades distintas, mostrando-nos que o conflito de classes e os preconceitos se manifestavam em subtilezas. Aliás, acho que um dos pontos fortes da narrativa é mesmo a sua crítica social e o quanto a discriminação vai subindo de tom conforme nos aproximamos da tragédia. No plano oposto, admito que o facto de me ter sentido a andar em círculos condicionou a minha experiência. Consigo compreender o propósito e, em parte, até acho que ajuda a caracterizar Estela e o ambiente, mas preferia que tivesse menos divagações.

O curioso é que terminei a leitura há uns dias e ainda a tenho muito presente. Será daqueles casos em que o livro crescerá com o tempo? Terei de aguardar para descobrir. Oscilando entre solidão, cuidado e segredos, para mim, Limpa destaca-se pelas reflexões da narradora sobre morte, sobre perda e sobre a área cinzenta que são as memórias e aquilo que não vemos.


notas literárias
  • Gatilhos: Linguagem explícita, maus tratos a animais
  • Lido entre: 24 e 25 de fevereiro
  • Desafio: Clube do Livra-te
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Romance
  • Pontos fortes: A crítica social e as reflexões sobre a morte
  • Banda sonora: Asfalto, João Couto | Araucária, Aldina Duarte | Strangers, Kenya Grace | Paranoia, Arem Ozguc, Arman Aydin & Koolkid | Bullet, Nander, Daniel McMillan & The High

Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)
Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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