Entrelinhas #23

Fotografia da minha autoria

«Caso queira adquirir-lo ou oferecê-lo a alguém, certifique-se de que não o faz a uma terça-feira, às quinze horas e vinte e sete minutos»


Nilton é humorista, faz rádio e também escreve. Há uns anos, ofereceram-me um dos seus livros, O Pai Natal Não Existe, mas não o li no imediato. Aliás, passou algum tempo até decidir fazê-lo. De tanto olhar para ele, a curiosidade foi ficando maior. E acabei por render-me a esta obra de humor!

Como facilmente podemos verificar na sinopse, vamos encontrar várias histórias, desde «o homem que descobriu que o sentido da vida é para a esquerda», até «ao carteiro que só entregava notícias assim-assim». Mas há muitas outras personagens que vamos conhecendo pelo meio. E, como seria de esperar, mesmo não sendo um livro que se foque na época natalícia, não falta a explicação para a não existência do Pai Natal. A diversidade de temáticas torna a leitura fluída, agradável e descontraída. E é mesmo interessante perceber que os assuntos abordados continuam bastante atuais.

Importa, ainda, salientar que os diversos textos não são meras ideias soltas. Estas crónicas reflexivas sobre tudo um pouco funcionam, igualmente, como críticas sociais. Apesar de todo o lado cómico que nos apresentam, conseguimos detetar pontos mais sérios, levando-nos a analisar as situações de outra perspetiva. A particularidade é que se parte de um momento mais grave e se constrói uma narrativa que acaba por aligeirar o ambiente e retirar toda a potencial carga dramática do mesmo. Além disso, também coloca em evidência o ridículo de certas ocorrências. E demonstra que o final raramente é aquele que perspetivamos. Tanto naquilo que estamos a ler, como na vida.

A interação que o autor estabelece com o leitor em algumas partes da obra aproxima-o do episódio narrado e cria uma dinâmica muito própria. Naturalmente, há histórias mais engraçadas do que outras, mas, no geral, é um livro interessante, que nos permite abstrair da nossa realidade e desanuviar!


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«Choraram até a campainha tocar. No silêncio, deram-se abraços fortes e, com uma coragem de adultos, abriram a porta. Saíram e já dentro da carrinha fizeram um adeus longo.
Os miúdos retribuíram e voltaram a casa. Nunca é fácil dar os pais para adopção» (p:5);

«- Pois, não dá. Preciso de algo que me dê para faltar ao trabalho, mas que me permita ir para fora. Tenho uma namorada nova, sabe.
- Porque é que não leva uma febre?
- Já a levei o mês passado.
- Alergia?
- O meu patrão não vai nessa!» (p:11);

«- Um acha que tem mais saída, o outro defende que os clientes vêm cá por causa dele.
Nada a fazer. Definitivamente, o "prato do dia" não se dá nada bem com a "especialidade da casa". Feitios» (p:23);

«Gervásio era pobre, quão pobre alguém pode ser.
Cobiçava a riqueza alheia e sonhava com ostentação variada e abundância por demais.
Apostava em jogos de azar e, mesmo ganhando, nunca conseguia enriquecer. Acumulava lucros numerosos e ganhos gordos, mas não deixava de ver a riqueza fugir-lhe.
Gervásio era pobre de espírito» (p:73).

Comentários

  1. Ohn, meu bem, obrigado! A sério. Nem sei bem como te agradecer :')

    Identifico-me muito com a forma de escrita do Nilton e fiquei muito curioso por ler este livro face à temática tão vulnerável que o envolve!!

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  2. Despertou-me a curiosidade para ler este livro do Nilton.
    Um abraço e continuação de boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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  3. Por acaso tenho um livro dele, que senão estou em erro foi o primeiro, pelo menos foi na altura do levanta-te e ri. Mas fiquei curiosa.

    Beijinho || Daniela Silva | Blog

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  4. É sempre agradável lar algo que diz algumas coisas sérias a brincar.
    Acho que não li, mas é uma boa sugestão.
    Continuação de boa semana, amiga Andreia.
    Beijo.

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  5. Não tenho o livro, não o li,
    mas, despertou-me a curiosidade
    garanto, se o tivesse agora aqui
    que o lia de muito boa vontade!

    Bom feriado Andreia.

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  6. Gosto desse senhor que descobriu que o sentido da vida era para a esquerda. Antes tarde que nunca =P

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  7. Por acaso não sou grande fã do Nilton mas até fiquei curiosa com o livro!

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  8. Não conhecia o livro mas fiquei curiosa
    http://retromaggie.blogspot.pt

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  9. Deve ser um bom livro à sua maneira, fiquei curiosa. Por acaso não conhecia, obrigada pela sugestão :)

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