Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


Uma manta de retalhos é a imagem que associo sempre a esta playlist, até porque procura acompanhar as diferentes energias das leituras mensais. Ainda assim, acho que estas canções se unem através de um traço muito emocional, intimista. Há uma espécie de viagem nostálgica ao passado. Mas, depois, mais para o final, há um tema para dançarmos, porque a vida também se faz de festa. E estes pólos coexistem em harmonia.


mana, joana estrela
Da Mesma Pele, Irma ▫ O livro da Joana Estrela retrata a relação oscilante entre duas irmãs e, durante a leitura, lembrei-me de alguns versos deste tema da Irma: «somos da mesma pele», «eu não sinto que há ferida/mas sei que há uma dor», «um amor que transborda» e «eu não te vou largar». Porque, por maiores que sejam as brigas, por maiores que sejam as queixas, há laços que se vão estreitando com o tempo. Podem andar às turras, mas não se largam.

rugas, paco roca
Demência, Alda ▫ Este tema prolonga bem o retrato da novela gráfica de Paco Roca, uma vez que, como o nome indica, se foca no desenrolar da demência, nas noções que se perdem, no desnorte, nos pequenos rasgos de lucidez que se dissipam. «Quem foi que me roubou?» talvez seja o verso que descreve melhor a sensação do protagonista, já que há um roubo de identidade, das suas faculdades e da capacidade de ser autónomo. E, pelo meio, o futuro afigura-se turvo.

toda a ferida é uma beleza, djaimilia pereira de almeida
Ferida, Inês Apenas ▫ Fui à procura de uma canção para esta leitura e senti que a da Inês cumpria os requisitos que procurava: pela melodia mais melancólica, com uma certa fatalidade nas entrelinhas, e por espelhar imagens que consegui encontrar no livro da Djaimilia. Quando a artista canta «A luz não salvou ninguém», imaginei a protagonista a emergir da escuridão e a salvar-se. Quando canta «Cortam-te o passo», vi todos os momentos em que tentaram oprimir Maria, que apenas queria ser ela própria. Por fim, quando canta «mais uma ferida», vi o duro golpe que sofreu, a juntar a todos os outros. Mas Maria acordou «sempre para o amor».

stoner, john williams
True Love Will Find You In The End, Someone & Benjamin Longman ▫ O livro de John Williams orbita num mundo académico, com uma certa formalidade, mas senti sempre que um dos pontos centrais deste livro era o amor e as várias formas que pode assumir - pensamento que vi validado quando cheguei ao Posfácio. Por esse motivo, achei que esta canção seria uma excelente associação, porque, sem o fazer de uma forma audível, Stoner procurou sempre amor em tudo o que fazia e tudo o que fez foi movido pela sua essência.

morte no estádio, francisco josé viegas
Neblina, Luar, Rita Onofre & Sara Cruz ▫ Sinto que a história deste livro é uma interminável neblina. Não é que a escrita seja complexa de acompanhar, mas parece que nunca conseguimos ver tudo, parece que há ali um manto que nos impede de olhar mais longe e de unir as pontas soltas. Assim, e por haver uma personagem que menciona algumas vezes a neblina da cidade, lembrei-me desta canção. Depois, acho que o verso «Tropecei na carência a meio da subida» também descreve um pouco daquilo que se passa neste enredo.

vale a pena?, inês fonseca santos
Cavaleiro Andante, Rui Veloso ▫ Quando, durante a leitura, me cruzei com a referência a uma BD denominada «O Cavaleiro Andante», é claro que fui logo transportada para a canção do Rui Veloso. E como a letra parece saída de um livro, e esta obra se foca em vários escritores, senti que era a simbiose perfeita. Além disso, podemos chorar as «mágoas e as desventuras», podemos ir chorar «longe de tudo o que é mau», porque haverá sempre uma história para nos confortar.

anatomia, dana schwartz
Strange Birds, Birdy ▫ Queria uma melodia melancólica, algo sombria, que acompanhasse a energia desta história. Deste modo, procurei por uma playlist com o nome do livro e a da Birdy serviu-me na perfeição: pelo ritmo, pela voz que poderia ter embalado a leitura e, também, pelos versos «You see the truth», «I walk the halls invisibly» e «I want to be heard», porque Hazel (a protagonista) soube sempre ler as pessoas que a rodeavam e movimentar-se de uma forma cuidada, por vezes invisível, para conseguir chegar onde não era bem-vinda, até que chegou ao momento em que se fez mesmo ouvir, porque também tinha uma palavra a dizer. As suas asas feridas foram batendo sempre com mais força, levantando voo.

impostora, r. f. kuang
Vigilante Shit, Taylor Swift ▫ Há um momento da narrativa em que a narradora/protagonista afirma que, tal como a Taylor Swift, «não tinha nenhuma intenção de [se] tornar uma Barbie supremacista branca». E eu senti que June, para ter algum tipo de redenção, precisava da música de uma artista que, durante demasiado tempo, teve de lutar para reaver o controlo da sua arte. E é curioso como, creio, estariam as duas em planos opostos desta luta. Portanto, optei pelo tema «Vigilante Shit» muito por causa destes versos: «she's been dressing for revenge» (porque June, no fundo, estava à procura de se vingar de algo que sempre sentiu que lhe aconteceu) e «Ladies always rise above» (porque June, perdoem-me o spoiler, conseguiu sempre dar a volta por cima».

a época das rosas, chloé wary
Mulheres, Edmundo Inácio ▫ O cenário retratado no tema do Edmundo Inácio difere daquele que encontramos na novela gráfica de Chloé Wary. Ainda assim, fez-me todo o sentido juntá-los, porque ambos colocam uma bandeira na desigualdade de género, no quanto as mulheres ficam sempre em segundo plano, nas injustiças que sofrem na pele e no quanto têm de se esforçar sempre mais, mesmo que as competências, o talento, a inteligência fossem suficientes para vencerem. Num mundo que permanece tão desigual, ainda tão patriarcal/machista, músicas e livros com estas mensagens são imperativos.

e então, lembro-me, catarina costa
Autumnus, Lemos ▫️ A música assume um vínculo muito importante para Laila e, como há uma personagem que alimenta esta sua presença, ao longo da narrativa, ela aproveita para serenar ao som das melodias «sem vozes». Como, neste caso, a personagem em questão tocava piano, senti que o tema mais recente do Lemos seria uma belíssima associação.

deus na escuridão, valter hugo mãe
Alma Nua, Van Zee ▫️ A história de Valter Hugo Mãe passa-se na ilha da Madeira, por isso, lembrei-me logo de um artista que é madeirense. O álbum do Van Zee, do.mar, tem vários títulos que me transportaram para a narrativa, mas achei que este se enquadrava melhor, porque a alma dos protagonistas esteve sempre a nu, a demonstrar a sua verdadeira essência e todo o amor que lhes corre por dentro. Além disso, quando ele canta «diz-me se vale a pena, ya, viver para esta luta», quase que ouço Felicíssimo Irmão a responder que sim. Esta família pode ter perdido «o chão» algumas vezes, mas nunca perdeu o amor.

canção doce, leïla slimani
Beauty and The Beast Piano, The Bedtime Fairies ▫️ O contexto desta história funde-se com a imagem de uma canção de embalar: pelo cuidado da mãe e da ama e pela própria maneira de contar os acontecimentos, como se os fossemos desconstruindo lentamente. Por outro lado, o relato que nos chega não é totalmente terno. É, aliás, algo sombrio, perturbador. Por essa razão, ao percorrer uma playlist de «Canções de Ninar Disney», fui para o tema que, através do título, evidencia esta dicotomia. Assim, escolhi Beauty and The Beast, numa versão ao piano, porque a escrita e o cuidado são belos, mas todo o desenrolar da ação vai-nos mostrando um lado monstruoso da alma humana - que, neste caso, tal como no filme, não vem de um lugar desconexo. Mesmo que não seja desculpável, conseguimos compreender a sua origem.

filhos da chuva, álvaro curia
Despechá, Rosalía ▫️ A escolha deste tema, admito, é um pouco improvisada, digamos assim. E porquê? Porque, durante a apresentação do livro, e após questionado sobre músicas que ouviu durante o processo de construção do mesmo, o Álvaro referiu que ouviu muito os álbuns da Rosalía. Vai daí que, transportada para a Taberna (um dos locais da história), que estava sempre em festa, decidi escolher uma das poucas músicas da artista que eu ouço e que sinto que podem proporcionar esse ambiente festivo, com muita dança à mistura.

As minhas leituras de fevereiro ainda incluíram uma releitura: As Coisas Que Faltam, da Rita da Nova. No ano anterior, associei-lhe o tema Love Me More, do Sam Smith, e podem ler aqui a explicação.

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Gatilhos: Racismo, Morte, Pensamentos Suicidas, Referência a Violação


A vontade de descobrir a obra de R. F. Kuang foi aumentando, graças a todas as partilhas com que me fui cruzando sobre Babel. Ainda assim, quis que a minha estreia fosse com um livro focado no mercado editorial.


 uma narradora pouco confiável

Impostora permite-nos descobrir June Hayward, uma escritora pouco conhecida, a viver na sombra de Athena Liu - ela, sim, uma estrela literária. A relação entre ambas é complexa, porque não são propriamente cúmplices, nem amigas, mas partilham certos momentos. Inclusive, June está com Athena na noite em que esta morre e isso concede-lhe a oportunidade perfeita para ascender na carreira. Como? Roubando-lhe o manuscrito.

É através do «nome ambíguo de Juniper Song» que a nossa narradora procurará publicar o livro, alcançando, finalmente, aquilo que sempre desejou em Liu: o talento, a facilidade com que era lembrada, as experiências, os prémios e a própria crítica, que parecia adorá-la. No fundo, June nunca escondeu a sua inveja e o quanto se considerava merecedora das mesmas conquistas. Com Athena morta, isso tornava-se possível, até porque poderia sair de uma espécie de anonimato. E vai-nos descrevendo como tudo se processou.

Neste ambiente, a leitura revelou-se alucinante, frenética, porque, acima de tudo, queria compreender as motivações da protagonista. Mais do que perceber o como, queria saber o porquê. E a verdade é que Hayward nos seduz muito bem neste plano. É difícil - para não dizer impossível - empatizar com ela, visto que tem comportamentos desprezíveis, mas não a conseguimos largar, o que prova que a sua construção está credível.

«Eles já decidiram qual é a sua narrativa sobre mim. Agora, estão apenas a recolher "factos" para a apoiar»

Acredito que, quando confrontados com esta realidade, queremos todos dizer que nunca faríamos algo semelhante. Mas... e se fôssemos capazes? E se não conseguíssemos fugir ao impulso? Se ninguém viesse a descobrir, resistiríamos? Por mais seguros que estejamos da nossa integridade moral, inevitavelmente, vamos colocar-nos em causa. Porque somos sempre encaminhados nessa direção.

Acho que há partes que precisavam de uma explicação mais profunda, no entanto, gostei imenso das temáticas e do facto de nos abrir a porta para o meio editorial, para o lado solitário da escrita e para toda a pressão que paira nos ombros dos autores. Tal como June, acredito que «escrever é a coisa mais próxima que temos da verdadeira magia», mas isso não significa que não existam muitas áreas cinzentas, relações por conveniência, tentações e uma certa competição desleal. Além disso, gostei que trouxesse para o centro da discussão reflexões sobre racismo, plágio, cultura do cancelamento e apropriação cultural. June é pouco confiável, mas abriu portas para todos estes assuntos. 

Com muito sarcasmo à mistura, R. F. Kuang desenvolveu uma narrativa intrigante.


🎧 Música para acompanhar: Vigilante Shit, Taylor Swift


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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«O sofrimento precisa de ser superado»


Um dos conselhos que mais vezes vejo reproduzido é que um escritor deve escrever sobre aquilo que conhece. Durante anos, não questionei a afirmação, porque me parecia óbvia: pela proximidade e por trazer uma certa estabilidade a um terreno pantanoso. Mas até que ponto não é uma noção limitativa? Até que ponto não impede que o escritor evolua e, acima de tudo, se descubra? Tenho-me debatido cada vez mais sobre isto.


 liberdade criativa ou apropriação?

Juniper Song, protagonista do livro Impostora, de R. F. Kuang (sobre o qual vos falarei amanhã), escreveu um romance acerca do Corpo de Trabalho Chinês. E isso revela-se um problema com alguma expressividade, porque ela é uma mulher branca e acaba por ser questionada sobre o facto de ser ou não a pessoa certa para contar esta história. Até que ponto estaria ela a colher os lucros de um passado que não era seu? Seria correto uma autora que não é chinesa usufruir desse período histórico para dar voz à sua liberdade criativa?

Esta personagem tem muitos traços controversos, que nos fazem questionar a sua moralidade (mas isso deixo para descobrirem na obra de Kuang), não obstante, tenho de lhe dar todo o crédito nesta questão, sobretudo quando afirma que lhe parece perigoso censurar o que os autores devem ou não escrever. Eu entendo as ressalvas, entendo o receio que surge na base deste género de perguntas, porque teme-se uma certa apropriação cultural; teme-se que alguém se aproveite do tal sofrimento alheio para vencer na vida. E compreendo que seja desleal darmos a entender que sentimos na pele algo que nunca seria próximo da nossa identidade. Mesmo assim, acho que há uma enorme diferença entre apropriarmo-nos de algo ou de partirmos de um determinado contexto para explorarmos um ponto de vista meramente ficcional, sem maldade.

Se eu me sentar a escrever a partir da perspetiva de uma personagem com uma doença terminal, em princípio, ninguém me apontará o dedo, ninguém me acusará de me estar a aproveitar de uma realidade alheia, porque não é isso que acontece. Quer dizer, em parte até é, mas fica tudo restrito ao plano da ficção. Não é como se, de repente, estivesse a tentar vender a imagem de alguém que existe, que sofre, para subir na vida. Se eu só pudesse falar do que conheço, do que vivo na pele, só poderia escrever histórias cujas personagens principais seriam uma mulher de 31 anos, solteira e a tentar ser escritora. Isto poderia resultar para um livro, mas, se a minha vida nunca mudar, só poderei criar narrativas dentro deste ambiente? Isso não entusiasma, nem quem lê, nem quem escreve. E eu quero poder escrever sobre mundos que me inquietam, que me impulsionam de alguma forma, que sejam estimulantes, transmitindo a sensação de estar quase a dar corpo a um heterónimo.

A magia da literatura está na infinidade de pontes que constrói, nas camadas que nos permite explorar. Da mesma forma que um ator desempenha diferentes papéis, para sair da sua zona de conforto e ter a possibilidade de ser tantas vidas diferentes, o escritor faz o mesmo, usando as suas palavras para ser quantas vidas sentir ter dentro de si. Portanto, porque é que tendemos sempre a ter dois pesos e duas medidas?

Eu sei que este género de discussões também é uma consequência da marginalização, de ser dado palco não aos verdadeiros intervenientes, mas àqueles a quem atribuímos alguma credibilidade. Claro que eu nunca serei capaz de descrever tão bem as dificuldades que uma mulher negra passa, todos os dias, em contextos que aparentam ser triviais, porque eu não sou uma mulher negra, nem pretendo fazer-me passar pelas suas dores. Mas sou mulher, há condicionantes transversais e ainda não estou assim tão desfasada da realidade. Além disso, se quiser dar voz às suas visões, vou querer ouvi-las, vou querer trazê-las para o centro da partilha e vou querer que tenham o devido destaque. Porque escrever também é empatizar e é conseguir ocupar os lugares de fala com histórias que podem estar na sombra. É por esse motivo que a literatura tem tanto poder.


 o direito de escrever sobre o sofrimento

Há uma herança cultural que parece não ser possível de representar por mais ninguém a não ser por aqueles que a têm no seu destino. Ainda assim, acho que aquilo que distingue a liberdade criativa da apropriação talvez seja a dignidade com que decidimos contar determinada narrativa, até porque o tema pode interessar-nos.

Se eu quiser escrever sobre sofrimento, seja ele de que natureza for, terei de fazer uma pesquisa extensiva, para que, quem o ler, fique na dúvida se aquelas palavras são reais ou ficção, para que fiquem na dúvida se a minha história se funde naquelas páginas. Aí, sim, temos de vender uma ilusão, mas o leitor compreende que é um exercício de escrita, porque fica claro, porque o autor não se faz passar pelas suas personagens quando não está a escrever sobre elas. Quando pousa o lápis, a caneta ou deixa de pisar as teclas do computador, essa dança para e é como se a cortina se levantasse. O autor não chega a uma apresentação e deixa no ar a dúvida sobre esta transição entre planos narrativos, porque a fronteira está bem definida. Por esse princípio, não considero que o direito de escrever sobre determinado sofrimento, seja ele o do Corpo de Trabalho Chinês ou de uma pessoa enlutada, seja condicional. Tem é de ser digno, tem de ser honesto. Nunca condescendente.

A partir do momento em que os escritores só puderem escrever sobre o que conhecem, estão a impedir que sejam verdadeiros contadores de histórias. Estão a impedir que vão mais longe e que tornem o mundo maior. Na realidade, estão a limitar horizontes e a impedir que seja a qualidade literária a ter maior destaque. Há vozes que não queremos sossegar. Há vidas que queremos viver no papel. E tudo isso será negado, se deixarmos de poder explorar o desconforto, a tragédia, a ausência, a dependência, a conquista, o sonho ou a felicidade extrema; será negado, quando deixarmos de preencher vazios e colmatar falhas literárias, quando deixarmos de escrever sobre aquilo que falta. E nenhum escritor quer deixar uma história por contar.

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Gatilhos: Homofobia, Traição


O meu contacto com a Filipa Leal foi sempre feito através da poesia, tanto que assumo logo que apenas a lerei neste género. Mas o seu mais recente livro (que pensei que fosse poético) permitiu-me descobri-la na prosa.


jogo de sombras

O Vestido de Noiva começa de uma forma peculiar: Branca, a protagonista, atravessa a rua e desloca-se à lavandaria com um pedido específico. Até aqui, nada de estranho, a não ser que vai nua. Nua, descalça, alterada e com uma certa urgência emocional. E isso deixa claro que se passou algo de grave - ou, pelo menos, algo de suspeito.

Não quero detalhar muito, para não revelar aspetos importantes (a história é relativamente curta), mas achei interessante a maneira como o narrador nos conduz pela narrativa, como vai levantando o véu, mas depois nos deixa em suspenso, quase como se sentisse necessidade de partilhar dados surpreendentes, mas voltasse atrás para atar as pontas soltas. Deste modo, vamos embalados numa valsa com um ritmo muito próprio, até compreendermos ao certo o que aconteceu naquele contexto.

«(...) tem pressa de ir embora, e é só por isso que tem pressa de chegar»

Este conto é insólito, com um tom cómico, mas que levanta questões relevantes sobre identidade, relações amorosas/familiares, preconceitos e tudo aquilo que tentamos esconder dos outros e de nós. É curioso como há pessoas que vivem anos juntas, partilhando casa, experiências e sentimentos, e nunca se chegam a conhecer realmente. É curioso e igualmente desolador, porque se torna evidente que há muita coisa que falta, a começar pela verdade, pela comunicação e pelo respeito mútuos.

Há um jogo de sombras que vai expondo as personagens, que as vai confrontando com as suas fragilidades e os seus medos. Estão todas sob escrutínio alheio, a tentar proteger-se, a tentar preencher vazios. Partindo de situações complexas, mas dentro de um contexto trivial, credível, vamos cruzando diferentes perspetivas.

O Vestido de Noiva reveste-se de passagens sarcásticas, mas é um retrato interessante de como o desgosto, a raiva e a desilusão nos podem toldar o discernimento. Há momentos em que nos sentimos tão traídos, que só queremos infligir a mesma dor, no entanto, perante ocasiões de maior lucidez, há valores que falam mais alto.


🎧 Música para acompanhar: Talvez Se Eu Dançasse, Miguel Araújo

📖 Outros livros lidos: Fósforos e Metal Sobre Imitação de Ser Humano | Vem à Quinta-Feira | A Estrada Para Firopótamos


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


O mês da primavera, das flores e da poesia. Neste embalo, em março, o Alma Lusitana contemplará três escritores: Cláudia Araújo Teixeira, enquanto autora para conhecer, José Luís Peixoto, enquanto autor que já li e recomendo, e Cátia Cardoso, enquanto autora extra, que teve a generosidade de me enviar um livro seu para leitura. Já acompanho a Cátia há algum tempo e fez-me todo o sentido incluí-la nesta viagem literária.


 cláudia araújo teixeira

É natural do Porto, estudou Direito e, «influenciada pela série Teias da Lei», pensou mesmo ser advogada, contudo, acabou por perceber que esse não seria o seu caminho. Assim, licenciou-se em Ciências da Comunicação e «fez carreira na área editorial». Depois de trabalhar com escritores que admira (como Paul Auster, por exemplo), chegou o momento de estar do outro lado e ser, também ela, uma autora publicada.



 josé luís peixoto

É natural de Galveias e um dos autores mais conceituados da literatura portuguesa contemporânea. A sua obra contempla prosa e poesia, tem vários livros traduzidos «num vasto número de idiomas» e títulos a serem estudados «em diversas universidades nacionais e estrangeiras». Além disso, a crítica já lhe atribuiu prémios de renome. Também o podemos encontrar no encantador Menina Alzira, podcast que mantém com a mãe.

LI E RECOMENDO

   

   

📖 Opinião sobre Em Teu Ventre e Cal, Nenhum Olhar e A Criança em Ruínas

Outras obras do autor:
A Casa, a Escuridão | Antídoto | Cemitério de Pianos | Gaveta de Papéis | Uma Casa na Escuridão | Morreste-me | Livro | Abraço | A Mãe Que Chovia | Dentro do Segredo | Galveias | A Viagem do Salmão | Todos os Escritores do Mundo Têm a Cabeça Cheia de Piolhos | Estrangeiras | O Caminho Imperfeito | Autobiografia | Regresso a Casa | Almoço de Domingo | Onde


 cátia cardoso

É natural de uma «aldeia pintada a xisto e que guarda as maiores trilobites do mundo». Licenciou-se em Comunicação Social e é mestre em Cinema. Para além da escrita literária, faz Rádio, escreve para a imprensa regional e é dirigente associativa, onde «trabalha a cultura: a maior arma que conhece». O seu caminho começou na poesia e é por lá que vai regando as suas raízes, no entanto, também se aventurou na prosa.

      


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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«Não enfrentes monstros»


os meus intermitentes abismos
partes incertas, omitidas
fronteiras que não se transpõem com palavras

nada infinito a testar as trevas
quando é só uma barreira
a separar a lucidez da paranoia

e os pensamentos correm adiante
numa ausência de tudo
o que já não consigo ser

e o destino?
o destino voa preso
à asa de uma andorinha

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«Mas ela sabia que essa segurança era temporária. 
O futuro estava a ir ao seu encontro, apesar de ela estar a fugir dele (...)»

Gatilhos: Morte, Luto, Sexismo, Cenas Explícitas


A capa do livro de Dana Schwartz não passa despercebida e tinha uma vaga ideia do que retratava. Embora quisesse lê-lo, ainda não tinha sentido impulso suficiente para o passar à frente de outras histórias... até que a Joana da Silva o selecionou para as leituras de fevereiro do Livra-te e percebi que não podia adiar mais.


 uma história de amor

Anatomia transporta-nos para a capital da Escócia, em 1870, quando os caminhos de Hazel e Jack se cruzam de um modo imprevisível, talvez até bizarro: é que ela pertence a uma família aristocrata, com casamento praticamente marcado deste a infância, a ambicionar ser médica, enquanto ele «mal ganha para comer», sobrevivendo como ladrão de corpos, que vende para a Sociedade Real de Anatomistas de Edimburgo.

O cunho histórico que nos contextualiza quer em relação à época, quer em relação à sociedade e à componente médica, revelou-se fluído, bem encadeado e com a energia certa para querermos descobrir mais. Afinal, estamos perante um quadro machista e com desigualdades sociais profundas. Uma mulher ousar seguir medicina nem sequer deveria ser uma hipótese, mas a protagonista procurou quebrar esses preconceitos.

Honestamente, não sabia o que esperar, mas dei por mim a ler freneticamente, a unir pistas e a traçar teorias, porque é mesmo interessante a forma como a autora desencadeia a ação, como constrói as personagens e as confronta com uma série de questões. Através de Hazel, explora tudo aquilo que é esperado de uma mulher. Através de Jack, explora a linha tão ténue entre a integridade moral e a necessidade de pôr comida na mesa. Mas o espectro não se limita a estas personagens: há outros rostos que a permitem discorrer sobre negligência, luto, injustiça, autoridade, abuso de poder, amor e lealdade. E interliga-se tudo com naturalidade.

Outra reflexão que achei fascinante prende-se com o quanto julgamos conhecer as pessoas e como o nosso percurso pode ser moldado por alguém que admiramos - isto pode ser problemático, se ainda não soubermos quem somos ou se duvidarmos da nossa voz. E estas imagens ajudaram a intensificar a aura sombria.

Anatomia é, de facto, uma história de amor, mas penso que não se restringe ao amor romântico. Embora se tenha encaminhado para um desfecho que me parece um pouco desfasado de tudo o que aconteceu antes, consigo entendê-lo, até porque explora um certo complexo de Deus, e creio que torna intrigante o contraste entre a ciência e o realismo mágico. Este livro, para mim, brilha pela personagem principal, pelo vínculo construído entre Hazel e Jack e, acima de tudo, por oscilar entre o macabro e o belo, entre a opressão e o progresso e por mostrar os efeitos da perdão e da redenção. Aguardo pela tradução do segundo volume.


🎧 Música para acompanhar: Strange Birds, Birdy


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«Dá-me colo, não dores de cabeça»


O silêncio é mais bonito quando há uma melodia que o rompe, lentamente, no ritmo certo, para preencher os espaços que precisamos de aconchegar. Portanto, nunca perco a oportunidade de viajar através de canções.

No meio de tantos nomes, é natural que alguns passem mais despercebidos, é natural que alguns se tornem mais prioritários e, inclusive, que comecemos a largar a mão de outros. O nosso crescimento, mesmo que não nos apercebamos de imediato, também implica esta oscilação, pois aprimoramos os nossos gostos, temos uma consciência maior daquilo que nos serve e daquilo com que já não nos identificamos.

Por outro lado, há ocasiões em que, no meu cenário de conforto, completamente perdida nas letras de um artista dou por mim a pensar no quanto gostaria que fosse mais falado, mais celebrado, mais ouvido. Reforço, no meio de um panorama musical com tantos nomes (e extraordinários), é natural que não consigamos acompanhar todos, mas há alguns que me doem mais no coração por não terem tanta visibilidade.

Foi em conversa com a Sofia, quando partilhou comigo que estava a ouvir A Garota Não, que esta ideia surgiu, porque é um exemplo perfeito do pensamento anterior. Assim, voltei a percorrer as minhas playlists no Spotify, e agreguei algumas artistas mulheres que, para mim, para além do talento inigualável, mereciam mais palco.

Claro que esta noção é bastante subjetiva, porque nem sempre os nossos gostos estão alinhados no mesmo comprimento de onda, mas são intérpretes e compositoras que me inspiram e que cantam muito daquilo que também me palpita no peito.


jüra



a garota não



rita vian



iolanda



mimicat



milhanas



rita onofre



inês marques lucas



ana lua caiano



rita borba



diana castro



elisa

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«E uma casa precisa de manter os seus segredos. É para isso que serve uma casa»

Gatilhos: Morte, Traição


O Livra-te (podcast da Rita da Nova e da Joana da Silva) teve um episódio dedicado a premissas e concretizações: «boas premissas e execuções não tão boas» e vice-versa. Na altura em que saiu, ainda não tinha lido o livro do Francisco José Viegas, mas, agora que o fiz, seria um exemplo para o primeiro grupo.


narrativas que não funcionam connosco

Morte no Estádio leva-nos para a zona em que o rio Douro se encontra com o oceano Atlântico, porque um famoso futebolista do FC Porto «é assassinado num bar irlandês em plena Foz». Rapidamente, percebemos que existem vários implicados e que os inspetores Filipe Castanheira e Jaime Ramos unem forças para desvendar o crime.

A premissa é ótima e deixou-me bastante entusiasmada, no entanto, a concretização não funcionou comigo. Não desgostei totalmente da escrita (creio que resultaria noutro contexto literário), e sabia que penderia mais para o romance do que para o policial, mas acho que o autor perdeu demasiado tempo em narrativas paralelas, a descrever pormenores que não acrescentam algo ao enredo, com muitas metáforas e um certo pedantismo, porque todas as personagens tinham uma lição de moral para partilhar. A partir de certo ponto, tornou-se excessivo e uma fonte de distração.

Tinha tudo para ser um livro excelente, se se focasse «nas relações obscuras do mundo do futebol» ou se apenas explorasse «as paixões dispersas e voláteis que acabam por dar sentido à falta de sentido da vida». Pela sua construção narrativa, fiquei com a sensação que quis englobar tudo ao mesmo tempo, mas que só ficaram pontas soltas. As ligações perigosas permanecem só nas entrelinhas, quando seriam um dos aspetos mais interessantes para aprofundar. Aliás, houve uma altura em que percebi que o crime foi apenas uma manobra de diversão, porque perdeu qualquer destaque.

Além disso, senti as personagens pouco coerentes e credíveis, e nem o título me fez sentido. Acho que o autor conseguiu retratar bem algo que é muito nosso, como as partilhas que fazemos à mesa e pela comida, mas não foi por esta imagem que vim. Nem pelo traço nostálgico que parece quase forçado. Terminei a leitura como comecei: às cegas. E tenho pena, porque prometia ter todos os elementos para resultar.


🎧 Música para acompanhar: Neblina, Luar, Rita Onofre & Sara Cruz


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | Bertrand)

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«(...) sentiu uma certeza forte de que mais uma parte de si, do seu passado, estava a afastar-se lentamente, 
quase impercetivelmente, na escuridão»

Gatilhos: Referência a Suicídio e Alcoolismo, Morte, Luto, Relações Tóxicas


A minha participação em clubes de leitura tem respeitado o princípio de diminuir a lista de livros por ler. Mas também pode acontecer a redução de outra lista: a dos livros a comprar. E foi assim que o de John Williams veio morar cá para casa, pois já queria lê-lo há algum tempo e foi a escolha da Rita, este mês, no Livra-te.


 estranho, curioso e com uma personagem memorável

Stoner é a história da personagem homónima. William veio de uma família humilde, dedicada à agricultura, e foi para a universidade para se especializar na área agrícola, mas a sua vida sofreu uma reviravolta e acabou a estudar literatura, tornando-se professor de literatura inglesa. O enredo foca-se no seu percurso académico, o que parece não ter um grande ponto de interesse, no entanto, é a essência de Stoner que o abrilhanta.

O ritmo é lento, mas deslumbra, porque a aparente pacatez deixa-nos intrigados, faz-nos questionar sobre a importância de abrandar e de viver os acontecimentos sem esperarmos fogo de artifício e experiências memoráveis. Por vezes, precisamos só que as coisas sigam o seu rumo, sem malabarismos, sem esperarmos que tudo seja mais do que é. Em simultâneo, percebe-se que existe um tom intimista, solitário e melancólico.

Uma característica que me fascinou foi mesmo o estilo da narração, porque parece que exclui o lado emocional da equação e pretende manter-nos à margem, como se o objetivo fosse impedir a criação de qualquer vínculo com a história e, sobretudo, com a personagem. Não obstante (e acho que é aqui que se nota a genialidade do autor), sentimos tudo aquilo que é descrito. Aliás, creio que há momentos em que projetamos ainda mais a tristeza, a revolta e os rasgos de esperança.

Senti a escrita algo académica, talvez pelo ambiente retratado, mas fui ficando presa a estas páginas e cada vez mais rendida a Stoner, até porque senti que o desenvolvimento desta personagem é mesmo o ponto chave: William é credível e é absolutamente fascinante na sua trivialidade. Ademais, a sua integridade é admirável, visto que se manteve sempre fiel aos seus princípios. Teria sido fácil quebrar, procurar agradar, mas soube escolher as suas batalhas e nunca desistiu delas, não por capricho, mas por acreditar em todas elas.

Um pensamento que me acompanhou durante a leitura, e que vi validado no Posfácio, é que este livro é sobre amor e as várias formas que pode assumir. E não deixa de ser interessante que uma narrativa construída para um certo afastamento emocional tenha esta identidade tão vincada. Mas senti mesmo que o protagonista colocou amor em tudo aquilo a que se dedicou.

Stoner alberga, também escolhas, a importância do trabalho, «um casamento destrutivo» e um «lar envenenado». Alberga muitas guerras internas, saúde mental e um novo fôlego. Acompanhando a vida de William desde a infância até à sua morte, esta obra reforçou a minha admiração por histórias sem personagens heroínas. Talvez não seja uma obra que mudará a minha vida, talvez nem me recorde dela pelo enredo em si, embora algumas passagens se tenham colado à minha pele, mas amadurecerá com o tempo. Além disso, houve vários momentos que me deixaram emotiva e a refletir sobre tudo o que poderia ter sido e não foi.

Stoner esteve entorpecido e desabrochou. Quis abraçá-lo inúmeras vezes. E sei que nunca o esquecerei.


🎧 Música para acompanhar: True Love Will Find You In The End, Someone & Benjamin Longman


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Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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