Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


Março é o mês em que faço por ler só mulheres, com o intuito de celebrar a data tão importante e vital que é o Dia da Mulher. Nas associações musicais, essa intenção não foi tão evidente, ainda assim, acho que consegui um bom equilíbrio. Quanto à sonoridade em si, creio que é uma playlist muito mais introspetiva, intimista.


a cicatriz, maria francisca gama
Quem Tem Mossa, Iolanda ▫ A autora revelou que o EP que mais ouviu durante a escrita do livro foi o Cura, da Iolanda, com particular destaque para a música Quem Tem Mossa. Uma vez que decidi acompanhar a leitura com esta banda sonora, fez-me ainda mais sentido o vínculo entre a história e a canção, até porque os versos «e o coração chora/e em silêncio, o pensamento sente/escuta quem tem mossa/p’ra afogar a dor que um dia ficou presa na memória» poderiam muito bem ter sido escritos pela protagonista/narradora. Ademais, quando a Iolanda canta «água p’ra limpar as feridas» fui logo transportada para uma cena em específico.

uma vida assim-assim, cláudia araújo teixeira
Uma Tarde de Domingo, Tim Maia & Gal Costa ▫ Os limites do Bairro podiam ser sufocantes, mas Cristina Maria também vivenciou memórias felizes. Uma delas, que tem tanto de cómica como de simples, aconteceu com esta música e na companhia de algumas amigas. Foi um daqueles momentos de brincadeira que muitos reproduzimos na infância, que soam a má educação, mas que não passam de uma forma de ocupar o tempo, sem maldade.

supergigante, ana pessoa
Nuvem, Carolina Deslandes ▫ Edgar afirmou algumas vezes que o seu avô era uma nuvem e isso transportou-me logo para a música da Carolina Deslandes. Talvez a relação retratada na letra não seja próxima daquela que o protagonista tinha com o avô, ainda assim, há um elo que permanece evidente, que os tornava da mesma alma, da mesma casa, da mesma costela. E, agora, Rígel encontra-se no mesmo lugar do sujeito poético, porque «não te tenho, só te lembro».

ajudar a cair, djaimilia pereira de almeida
Tudo o Que Eu te Dou, Pedro Abrunhosa ▫️ A rádio estava sintonizada na M80, enquanto um dos residentes do Centro Nuno Belmar da Costa, aguardava o momento em que seria deitado. Entre tarefas corriqueiras, de quem cuida para que o outro sinta conforto, foi a música do Pedro Abrunhosa que acompanhou a ceia de Luís. Por isso, e pelos versos «tudo o que eu te dou/tu me dás a mim», achei que fazia sentido manter esta ligação. Afinal, houve sempre muita reciprocidade neste livro. E metamorfoses também.

o caminho imperfeito, josé luís peixoto
Time In a Bottle, Jim Croce ▫️ Este tema aparece numa cena do filme A Ressaca 2. Uma vez que José Luís Peixoto o menciona e acaba por fazer um paralelismo com uma das suas idas a Banguecoque, achei que teria o seu encanto associar ambos. Além disso, a canção de Jim Croce fala «de como o tempo passa» e esta energia também é explorada pelo autor, ao recordar tantos momentos passados.

antes que o amanhã se vista de fogo, cátia cardoso
Araucária, Aldina Duarte ▫️ A poesia da Cátia foca-se muito nas nossas raízes, sejam elas dos lugares que nos erguem, das escolhas que fazemos, dos vínculos que estabelecemos connosco e com os outros. Vai daí que me ocorreu este tema, cuja mensagem parece estar alinhada com esta imagem. Acho maravilhoso como a natureza e a poesia se entrelaçam, fazendo-nos sentir que encontramos sempre um lugar.

as primas, aurora venturini
Que Força é Essa Amiga, Capicua ▫️ Demorei até conseguir associar uma canção a esta história. Foi só quando me reencontrei com esta versão da Capicua que me fez todo o sentido aliá-las, uma vez que tanto o livro como a letra da canção evidenciam «tudo aquilo que falta cumprir na luta pelos direitos das mulheres». Embora Aurora Venturini se concentre, depois, numa relação entre primas que procuram quebrar um ciclo de abusos, é ao trazer uma narrativa cheia de mulheres com limitações que compreendemos várias das condicionantes que ainda se evidenciam na sociedade. A mulher parte em desvantagem em inúmeras frentes e o aproveitamento da sua vulnerabilidade perpetua estereótipos. Mas, aqui, todas elas tentaram fugir à norma. E a Capicua, ao reescrever este tema, não deixou de seguir essa linha, apenas fê-lo a partir de outra perspetiva.

finalmente o verão, mariko tamaki
Summertime Blues, Rush ▫️ O pai de Rose tem todo um momento a ouvir Rush. Embora seja uma passagem simples, achei-a muito terna, até porque acompanhou uma certa serenidade na dinâmica familiar, trazendo a paz antes de uma futura turbulência. Deste modo, e ainda que a letra desta canção não encaixe totalmente na história de Mariko Tamaki, quis associá-la muito pelo jogo que consigo fazer com o título: por um lado, transporta-me para a estação do ano retratada no livro, por outro, transporta-me para a tristeza que também é evidente no texto (e no tom das ilustrações). Nenhuma das personagens quis berrar por trabalhar o verão todo, mas acho que, às vezes, perguntavam o que iriam fazer - na vida, no geral.

in memoriam, alice winn
All I Ask, Adele ▫️ Optei por associar esta canção da Adele por causa dos versos «I will leave my heart at the door/I won't say a word» (porque os protagonistas, mesmo sem dizerem o que sentiam um pelo outro, deixavam o coração deles nas mãos um do outro), «Give me a memory I can use» (porque, obviamente, não queriam correr o risco de se esquecerem um do outro) e «No one knows me like you do» (porque só li verdades neste). A própria melodia parece encaixar na personalidade de ambos.

um preto muito português, telma tvon
Igualdade é Uma Ilusão, Chullage & Vilma ▫️ O protagonista desta história, Budjurra, procurou no Rap uma forma de se reencontrar e um dos nomes que mais o marcou foi o Chullage. A primeira música que ouviu foi Igualdade é Uma Ilusão e, de repente, foi como se a sua vida só existisse para a ouvir, porque se reviu em várias partes da letra. Aliás, chega mesmo a referir que sentiu «todas as palavras como se fossem uma maldição materializada em bênção» e isso potenciou uma mudança na sua forma de estar. Além disso, como se recusa a acreditar que a igualdade é uma ilusão, achei que esta combinação tinha tudo para funcionar.

nini, ticas graciosa
Saudade, Saudade, Maro ▫️ Há uma palavra que acompanha grande parte do crescimento de Nini. E essa palavra é saudade, embora a protagonista refira que «quando alguém morre, não são apenas saudades o que sentimos, é uma coisa sem nome». Mas a verdade é que este sentimento esteve sempre presente e em várias circunstâncias, mesmo antes de toda a tragédia. Por esse motivo, regressei a um dos temas que, para mim, reflete melhor toda esta dor da perda, até porque não há mais nada que possa dizer.

ode triumphal à cona, cláudia lucas chéu
Cuff It, Beyoncé ▫️ O livro da Cláudia Lucas Chéu é um manifesto feminista, com poemas que exaltam o empoderamento da mulher. Por isso, abri aquele que, para mim, é o álbum da Beyoncé que mais espelha esta condição e optei por escolher o tema Cuff It, porque acho que grita emancipação e amor próprio. É a mulher a expressar a sua vontade sem filtros, sem medos, apenas com a liberdade que merece.

a ilha das árvores desaparecidas, elif shafak
The Fig Tree, Jakob Ahlbom ▫️ A Figueira é uma das figuras centrais desta história. Uma vez que me conquistou por completo, quis trazer um tema que a destacasse. The Fig Tree é um instrumental e acho que podia muito bem embalar todas as memórias partilhadas por esta personagem tão carismática.

As minhas leituras de março incluíram uma releitura: A Importância do Pequeno-Almoço, da Francisca Camelo. No ano anterior, associei-lhe o tema Nome de Mulher, da Ana Magalhães, e podem ler aqui a explicação.

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Gatilhos: Linguagem Explícita e Gráfica


O livro de estreia de Alice Winn chamou-me logo à atenção - pela capa e pela temática. Por esse motivo, quando soube que seria uma das escolhas do Clube do Livra-te, para março, não adiei o nosso encontro.


 marcas de guerra

In Memoriam é descrito como uma história de amor entre dois soldados durante a Primeira Guerra Mundial, no entanto, começa quando esse cenário ainda se afigura distante dos protagonistas. Em 1914, com dezassete anos, Henry Gaunt e Sidney Ellwood moravam num colégio interno inglês, protegidos da realidade. E, além de serem amigos, partilhavam um segredo comum, embora não o soubessem: estavam ambos apaixonados um pelo outro. Nesta batalha interior, é quando se alistam no exército que ocorre o verdadeiro teste de fogo.

Demorei um pouco a entrar na história (acho que não comecei a leitura no dia mais apropriado), mas assim que me alinhei com a narrativa já não a queria largar, porque é daquelas que nos transformam, que se colam à nossa memória e nunca mais nos abandonam. Não só pela história em si, mas também pelos envolvidos e por levantar tantas questões sobre humanidade - ou falta dela -, empatia e sentimentos oprimidos, mas inegáveis.

Para além de credível, senti que o livro está muito bem equilibrado: tem passagens duras, angustiantes, que nos entristecem e nos revoltam, mas, depois, há sempre uma personagem a desconstruir o momento com alguma graça ou ironia mordaz. E por falar em personagens, achei a sua construção brilhante. Aqui, não foram só os protagonistas que sobressaíram, existem personagens secundárias que dificilmente esquecerei.

«- Isto tudo ainda não te tirou o gosto pela poesia? - perguntou-lhe Gaunt.
Ellwood franziu o sobrolho.
- Preciso dela agora mais do que nunca»

Por outro lado, adorei o vínculo à poesia, os diálogos desarmantes e todas as reflexões sobre as marcas que a guerra deixa: há uma infinidade de coisas que se perdem, mesmo quando se alcança o que se deseja. E, por tudo isto, houve ocasiões em que sustive a respiração e, inclusive, comovi-me, até porque os detalhes são pensados com o máximo cuidado, transportando-nos para os distintos cenários e estados de espírito.

In Memoriam é feito de uma beleza e sensibilidade ímpares. No meio de toda a tragédia e de todo o caos, parece utópico, mas é possível resgatar sinais de esperança - com tempo e com paciência. Que obra de arte!


🎧 Música para acompanhar: All I Ask, Adele


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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«uma paixão de três amigas de infância»


As paixões podem transformar-se em conceitos concretizáveis e espaços bonitos, como é o caso do Potts, que nasceu da «paixão de três amigas de infância pela pastelaria caseira, chás, cafés de especialidade e livros». Márcia Cruz, Diana Martins e Lucilina Bettencourt juntaram esforços para criarem um ambiente descontraído.

O facto de o nome ser «inspirado em Mrs. Potts, a famosa bule do clássico "A Bela e o Monstro"», um dos meus filmes favoritos, já era indicador do quanto este espaço tinha tudo para me arrebatar, mas é claro que os fatores não se esgotaram nesta curiosidade.

   

A sala em tons neutros, mas com alguns apontamentos coloridos, num jogo de texturas e padrões harmoniosos, transmite uma sensação de aconchego. Mesmo estando perto da azáfama da cidade, é fácil sentirmo-nos isolados, num ambiente sereno, como se, de repente, o mundo ficasse em silêncio. Ali, podemos desfrutar de um refeição e seguir caminho, mas também podemos ficar a conviver, a trabalhar, a ler, até porque promovem encontros às cegas com livros e têm exemplares em segunda mão à venda. E faço a ressalva de ter as portas abertas para os nossos patudos.

Foi graças a mais uma sessão de escrita que fiquei a conhecer este espaço e sei que vou querer regressar, porque tem tudo aquilo que preciso: comida boa, cheiro a café e uma área que, embora não seja muito grande, tem o espaço suficiente para nos sentirmos em casa. E se há coisa que aprecio é a possibilidade de ficar à janela, a ver a vida em movimento, enquanto estou nesta bolha de conforto a absorver inspiração.


🍵 O Potts localiza-se na Avenida Rodrigues de Freitas, no número 389, no Porto.

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Gatilhos: Relações Tóxicas, Luto, Morte, Álcool, Classicismo


O livro de Jenny Jackson apareceu-me numa publicação do Instagram, mas não me prendeu. Entretanto, a Sofia falou-me sobre ele, mostrou-me a sinopse e o meu interesse manifestou-se. Para ajudar à causa, a Lénia Rufino também partilhou que o estava a ler e encarei isso como o sinal perfeito para descobrir esta história.


 riqueza, classicismo e dramas familiares

A Casa de Pineapple Street centra-se na família Stockton, «um ícone da alta sociedade de Nova-Iorque». Entre celebrações constantes, clubes, excentricidades e acordos pré-nupciais, o luxo é o dialeto que une a maior parte das personagens. No entanto, aquilo que as aproxima pode ser o principal impulso para se afastarem.

Este enredo revela-se «uma rota de colisão para três mulheres»: Sasha, Darley e Georgiana. É através delas que compreenderemos os meandros deste meio de milionários e o quanto tentam que o dinheiro não as defina, embora esse processo não seja linear para todas, nem ocorra em simultâneo. Darley e Georgiana são irmãs e cresceram num mundo de privilégio, enquanto Sasha, a cunhada, é de classe média. O choque entre estas realidades consegue criar um fosso entre elas e deixar-nos a refletir sobre classicismo e sobre os comportamentos que repetimos por estarem tão enraizados nos nossos valores, na nossa visão do mundo.

A história não é arrebatadora, mas é fluída e entretém, até porque a escrita transparece sentido de humor e muita ironia, estabelecendo uma crítica à sociedade enriquecida, disfuncional, porque é produto de pessoas centradas no seu umbigo, com missões de vida questionáveis. Portanto, somos colocados em confronto com 1% da humanidade e não deixa de ser interessante compreender e acompanhar as suas dinâmicas.

«Ele não entendia que era muito mais do que isso, não percebia que ela fora ostracizada durante todo aquele tempo. A cada dia que passava depois da festa, ela sentia a cortina que era corrida entre eles, deixando perfeitamente claro que ela nem era nem nunca seria uma Stockton»

Um aspeto que achei fascinante foi o facto de a autora nunca nos influenciar para gostarmos das suas personagens. Aliás, nada nas suas construções nos encaminha nesse sentido e isso faz com que não só observemos o seu lado fútil, mas também a forma como convivem com a sua noção de privilégio. No fim, podemos continuar a não nos revermos nas suas ações, podemos revirar os olhos aos seus perfis snobes, mas acabaremos por compreender as suas motivações. Em simultâneo, ao espelhar classes sociais distintas, faz-nos questionar se, no fundo, serão assim tão diferentes ou se existirão traços que se sobrepõem.

Honestamente, estava à espera de encontrar protagonistas mimados, focados nos seus dramas de primeiro mundo, numa bolha de superioridade que os distancia dos comuns mortais. E, de facto, encontrei tudo isso, mas A Casa de Pineapple Street esconde outras camadas. Com um tom cómico, por vezes alucinado, levanta questões sobre relações familiares e amorosas, luto e desigualdades. Se retirarmos a riqueza da equação, a família Stockton não está assim tão longe de dramas e desejos triviais, a lutar contra os seus fantasmas e a preencher vazios. Além disso, deixou-me a pensar no esforço que fazemos para pertencer a algo.


🎧 Música para acompanhar: Super Rich Kids, Frank Ocean & Earl Sweatshirt


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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


O mês de abril demonstra-nos que a natureza «está em equilíbrio», porque é quando as «plantas começam a abrir, a florescer e a crescer». No Alma Lusitana, não me concentro nesta parte, mas sinto que a energia se entrelaça, já que o propósito é levar a que as leituras floresçam. Assim, há mais dois nomes que trago no regaço: Miguel d'Alte, enquanto autor para descobrir, e Inês Meneses, enquanto autora que já li e recomendo.


 miguel d'alte

É natural do Porto e estudou escrita de ficção. Na sua lista de paixões, para além da literatura, tem viagens, história e rock 'n' roll. A título de curiosidade, já viveu na República Chega, França, Angola e Luxemburgo.

   


 inês meneses

Nasceu em 1971 e faz rádio desde os 16 anos. Além disso, a escrita também tem estado muito presente no seu percurso. É autora de alguns programas e tem publicado crónicas no Público online, desde o final de 2020.

LI E RECOMENDO


📖 Opinião sobre Caderno de Encargos Sentimentais

Outras obras da autora:
Amores (Im)Possíveis | O Amor é | O Coração Ainda Bate | Fala Com Ela | Máquina de Escrever Sentimentos


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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Gatilhos: Linguagem Explícita


Os versos são sementes que nos regeneram, como se renascêssemos a cada linha, a cada novo poema. E é este efeito de catarse que encontramos no livro da Cátia Cardoso, que tão gentilmente me ofereceu um exemplar para que o descobrisse.


as nossas raízes

Antes Que o Amanhã Se Vista de Fogo está dividido em três partes - Sangue no Papel, PrOblEMAS Sociais e Lar, Doce Assobiar do Vento -, nas quais se exploram temáticas específicas, perspetivas, anseios e recordações autobiográficas. Ainda assim, creio que existe um tópico transversal a todas: o amor nas suas distintas manifestações/camadas.

Esta coletânea de poemas recupera vivências pessoais, com apontamentos de quem guarda a vida como se fosse um inesgotável álbum fotográfico, até porque nos leva até ao verão de 2013, a um passeio por Braga, aos desamores, a uma tarde de domingo em concreto, à Ponte dos Laços e a mais um conjunto de memórias que, não nos pertencendo, se afiguram próximas pelo tom intimista com que a poetisa as borda.

Nesta poesia não há filtros: há nostalgia, há perda, há desejo, há sensualidade e há um tom interventivo, ativista, que nos concentra em questões de desigualdade, porque ser mulher ainda é partir em desvantagem, porque há problemas que nos afetam a quase todos e, inclusive, há uma aura de hipocrisia a pairar em certos comportamentos. O livro é de 2021 e entristece perceber que existem aspetos que continuam iguais.

«Enquanto jantarmos violência/enquanto dormirmos sempre/por matrimónios que acabam em morte/enquanto trabalharmos condicionadas pelo género/não beberemos pelo mesmo copo da liberdade»

Sinto que vamos escalando algumas montanhas emocionais: pelas metamorfoses, por lermos nas suas palavras uma menina a tornar-se adulta, a descobrir o mundo, a travar as suas batalhas, mas sem esquecer as origens. Por isso mesmo, esta obra não deixa de ser uma ode a todo os «sítios onde se erguem, firmes, as nossas raízes».

A expressão poética da Cátia tem tanto de simples como de ousada, abrindo-nos uma porta sem tabus e preconceitos. Muito pelo contrário, explora realidades plurais, que tanto podem ir da memória mais inocente a uma linguagem pautada pelo erotismo. Sendo a criação a sua força motriz, nestas páginas cria, reinventa-se, descobre-se. E caminha entrelaçada à irreverência, à ambiguidade, à turbulência da vida.

As cinzas encarnaram as palavras e, lentamente, parece chegar a casa, ao seu lugar.


🎧 Música para acompanhar: Araucária, Aldina Duarte

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«Vais escrever mais poemas. Os poemas não se perderam. A poesia és tu»


A poesia saiu à rua. Apesar de o sujeito da canção ser outro, quase que ouço o Manel Cruz a declamar «a cidade está deserta e alguém escreveu o teu nome em toda a parte: nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra». Eu sei, o destinatário é diferente, mas a poesia assentava-lhe bem.

Neste Dia Mundial da Poesia, para me distanciar um pouco do meu registo habitual de destacar livros e/ou autores, fui à procura de eventos que celebrassem esta data tão bonita e que me diz tanto. No total, trouxe seis. E, ainda, uma dinâmica que, não tendo representação neste dia em concreto, se estende no tempo.


 feira do livro da poesia
O Jardim da Parada, em Campo de Ourique, volta a acolher a Feira do Livro da Poesia. O evento começou no passado dia 19 e estende-se até dia 24 de março. Em simultâneo, a Casa Fernando Pessoa e a Biblioteca/Espaço Cultural Cinema Europa terão apresentações, oficinas, leituras e conversas - com entrada livre, mas algumas atividades precisam de inscrição prévia.

 5ª maratona de poesia de oeiras
A 5ª maratona de Poesia sai à rua, hoje, e a festa é «atravessada pelo tema da liberdade». Das 14h às 24h, no Centro Histórico de Oeiras, existirão sessenta e cinco sessões ininterruptas, de 25 minutos cada, divididas em poesia declamada, encenada, cantada, musicada e dançada.

 poetas de abril
O CCB volta a assinalar o Dia Mundial da Poesia. Este ano, o mote é «Poetas de Abril» e integra a programação comemorativa dos 50 anos do 25 de abril. No dia 23 de março, das 15h às 19h, celebrarão a Poesia lírica e a sua linguagem rica e expressiva.

 poesia em liberdade
A Fundação INATEL, em Aveiro, também celebrará a Liberdade através da Poesia. O espetáculo «Poesia em Liberdade» é feito de palavras, destacando a expressão universal e transversal desta arte». Em terra de Zeca Afonso, dia 21 de março, é claro que não ficará esquecido.

 XIII maratona de poesia de setúbal
Na Biblioteca Municipal, integrando as comemorações dos 50 anos do 25 de abril, o mote será «Liberdade Poética. A Poesia de Abril» para celebrar este género literário. O evento ocorrerá dia 21, das 10h às 19h.

 troupe de palavras vivas
A Troupe de Palavras Vivas apresenta, hoje, pelas 20h horas, no Mercado do Bom Sucesso, o espetáculo «Um Porto à Maneira», dando voz a poetas portuenses de berço e de coração.


O munícipe de Ponte de Lima iniciou, este mês, um ciclo de sessões dedicadas à Poesia. As sessões têm entrada livre e parece-me que serão mensais - a próxima está agendada para o dia 26 de abril.

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Gatilhos: Linguagem Explícita, Referência a Aborto; Morte, Luto


Um pequeno passeio virtual pelo site da Wook permitiu-me descobrir que seria lançada outra obra de Aurora Venturini, autora que me despertou imensa curiosidade pelo seu percurso. Aliando essa informação ao facto de a ter na minha lista de 12 livros para 2024, fui à estante recuperar a história que tinha em espera.


 um romance sem heroínas

As Primas transporta-nos para a cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940. Nesta narrativa, que nos é contada por Yuna, conhecemos uma família disfuncional, amplamente marcada e condicionada pelo contexto em que habita. A narração é feita na primeira pessoa e, desde o início, ficamos a saber duas coisas: Yuna descreve-se como deficiente e é na arte que encontra um refúgio e uma forma de se manter autónoma. Aliás, é através da pintura que desconstrói vários acontecimentos da sua vida.

Este romance de «mulheres extremas, doentes, obcecadas, maltratadas» tem um tom cru, por vezes desconfortável, porque a protagonista não omite qualquer detalhe, nem pretende atenuar ou romantizar o universo tortuoso que nos é apresentado. Não sei se o objetivo seria provocar o leitor, mas a sua irreverência desconcerta e faz-nos questionar os padrões que se repetem, a pressão social, limitações e abandono.

Nesta família, as mulheres sofrem algum tipo de incapacidade e Yuna procura viver para lá dessa realidade, ao mesmo tempo que tenta desvincular-se de um ambiente precário, violento, onde os abusos são aceites como algo natural. É durante este processo que se alia à sua prima Petra, para «fugirem à norma».

Há um misto de ingenuidade e de franqueza que não nos deixa indiferentes. Há uma partilha dura, mas igualmente cómica, porque a forma como Yuna nos interpela é fascinante. Fui avançando de um modo quase frenético, atendendo a que queria compreender como é que cada detalhe encaixaria e queria perceber se a sorte acabaria por sorrir a estas mulheres ou se o destino continuaria pautado pela miséria.

«Nos últimos tempos algumas palavras provocavam-me náuseas por coisas do passado que infelizmente nunca passam totalmente e amarguram até o dia mais esplendoroso»

As Primas tem uma cadência diferente, por vezes estranha, mas revelou-se uma experiência de leitura memorável. A autora teve a mestria de explorar temas delicados com um certo humor, sem que isso descredibilizasse o assunto. Antes pelo contrário, visto que estabelece uma ponte com os mecanismos de defesa que criamos para gerirmos tudo o que se passa à nossa volta, influenciando-nos.

A voz da narradora consegue ser vertiginosa, levando-nos a ser parte dos seus pensamentos. E o mais extraordinário é que sinto que, se fosse contada noutro tempo e noutro lugar, continuaria a fazer todo o sentido, a ser um retrato muito credível de uma realidade vulnerável.

Este livro é uma tela perversa, sem personagens heroínas, nada convencional, cuja obra de arte não fica só à superfície: mergulha nas entrelinhas de vidas comuns, de mulheres a sobreviverem à sua condição.


🎧 Música para acompanhar: Que Força é Essa Amiga, Capicua


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«Os Franco-Bastos ficarão na história por várias razões - criatividade para nomes não será certamente uma delas»


O meu contacto com o humor aconteceu de um modo gradual e houve nomes que estreitaram esse laço, como é o caso do Luís Franco-Bastos (LFB). Uma das suas características mais evidentes é a capacidade de, através da voz, imitar figuras públicas. E nunca me esquecerei de um momento em que, no 5 Para a Meia Noite, Bruno Nogueira teve uma conversa telefónica com... Bruno Nogueira. Foi surreal como as vozes se colaram na perfeição e, admito, se não soubesse que era o LFB, ter-me-ia colocado em causa. Mas o seu traço camaleónico não o fez parar por aqui.

Tem sido entusiasmante acompanhar a sua evolução, enquanto humorista, porque acho que se predispõe a explorar várias camadas, interligando uma certa crítica social e apontamentos mais descontraídos e pessoais com bastante naturalidade. No grupo de artistas que faço por ver ao vivo, ele aparece destacado, mas já tinha assumido a derrota de não ter conseguido assistir ao seu mais recente solo - restava-me aguardar pela possibilidade de o disponibilizar numa plataforma online. Mas os pequenos milagres existem e o Luís Franco-Bastos regressou ao Porto, em sessão dupla.

Diogo é o seu texto mais intimista e quis filmá-lo numa sala que acompanhasse essa essência. Embora compreenda o objetivo, confesso que não deixou de me surpreender que o fizesse no M.Ou.CO, porque não seria uma escolha óbvia para um espetáculo de comédia. Ainda assim, agora que aconteceu, defendo que fez todo o sentido e que a dinâmica funcionou. Porque, ali, sabíamos que estávamos num lugar seguro.


paternidade, memórias e sopa

A primeira parte do espetáculo ficou à responsabilidade do Pedro Sousa, humorista que fiquei a conhecer graças a Roda Bota Fora. Tenho-o acompanhado desde então (na comédia e no podcast) e sinto que o crescimento é notório. Gostei logo do seu tipo de humor, mas sentia que o ritmo era desproporcional, ou seja, a piada estava lá, mas precisava de ser rápido a alcançá-la e a preencher o silêncio. O que, creio, é natural para quem está a começar e ainda não tem um público definido. Neste texto, senti-o muito mais seguro, tranquilo, a acompanhar a energia da sala. Além disso, transitou muito bem entre ideias, trazendo alguns tópicos sobre os quais também reflito, e achei fabulosa a maneira como interligou tão bem com o texto do Franco-Bastos.

Em Diogo, ficamos não só a saber a dificuldade que os pais do Luís tiveram para escolher o seu nome, mas também a sua própria relação com os progenitores e a paternidade. Nesta espécie de consulta de psicologia invertida, antes de tudo, começamos a falar sobre lavagens de automóveis suspeitas, que serão ponte para outras análises. E se, num momento inicial, nos podemos questionar sobre como é que as coisas que entrelaçam, rapidamente percebemos que o humorista faz esses nós na perfeição. Essa é outras das características que mais me fascina no seu trabalho, porque nunca deixa morrer uma história: guarda-a até ser a altura certa de a recuperar.

A cadência do texto é excelente, desconstruindo experiências e partilhando memórias, dúvidas e conquistas. Sendo o seu solo mais pessoal, não deixou de explorar algo que ainda é desconfortável para a maioria de nós: conversar sobre a morte e o processo de luto. É algo que ele faz desde que perdeu os pais, mas o público nem sempre acompanha essa abertura. O humor tem os limites que o humorista quiser definir (assim como o público), por isso, acho que é possível fazer piadas com tudo e com todos. A única coisa que difere é se tem ou não graça. E, se tiver, é inquestionável o objetivo. Enquanto ia escutando os bits, não deixei de me questionar sobre qual seria a minha reação numa circunstância idêntica, não deixei de ficar impressionada com o sangue frio que precisamos de ter, mas também não deixei de me rir com vontade, porque o texto é bom e porque o Franco-Bastos é exímio a entregar-nos a piada.

Diogo é íntimo e conta com algumas imitações, mas de personagens genéricas. Ao falar da sua família, coloca um holofote na pessoa que é e é mesmo interessante perceber todas as dicotomias que nos habitam. Sem momentos mortos, é comédia de alto nível. E termina com a melhor receita de sopa que possam imaginar.

Fotografia da minha autoria



«Que força é essa/que trazes nos braços»


amanheci
de olhar raso de lágrimas
a temer ainda mais o medo
de um amanhã que não me parece crescer
noutro lugar

sou filha de abril
em nascimento e por convicção
e se me querem roubar a liberdade
eu não recuo
ainda que vá lamber as feridas
de uma esperança estilhaçada
é que mesmo no silêncio há muito barulho
e talvez tenha de ir para a rua
quebrar as gaiolas que tentam fechar a sete chaves

renasci abril
no cravo, no e depois do adeus, na grândola, nas mãos que não se largam
tornei-me rosto por legado
e mantenho acesa esta chama que me faz crer livre
porque, já canta Slow J, eu não sei lidar com o ódio

amanheci
desolada, a contrariar a tristeza
a semear amor em terreno minado
a usar as palavras como arma
como se fosse o primeiro dia
e por isso renasço
porque me revesti de abril
até naquilo que não digo

perdemos todos, mas estamos lúcidos
e nos destroços encontraremos poesia
lado a lado, a quebrar os muros que nos sufocam
urge resistir, a luta continua
porque por dentro ainda nos corre a mudança

abril, em tudo o que sou

Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Linguagem Explícita e Gráfica


A pele tem memória, como afirmou José Luís Peixoto numa das entradas deste livro. Ao percorrê-lo, seguimos uma rota fragmentada em vários momentos, lugares e pessoas. Viajamos no tempo e não só de um modo físico e emocional, mas também através dos traços que se pretendem marcar no corpo. Sempre com um olhar atento em relação a tudo o que o rodeia, parecem infinitas as vivências que se cruzam.


banguecoque, las vegas e um relato intimista

O Caminho Imperfeito marcou o regresso do autor à Não Ficção, num relato cheio de camadas sobre a sua travessia entre Banguecoque e Las Vegas. Mais do que ser considerada uma narrativa de viagens, creio que esta obra é uma longa reflexão sobre quem somos, sobre o lugar de onde partimos e onde queremos chegar. Pelo meio, há várias paragens que vamos fazendo e que, também elas, contam a nossa história.

Parti para a leitura com outra imagem em mente e, se calhar, foi por esse motivo que não desfrutei tanto da trajetória. A escrita do José Luís Peixoto é próxima, muito credível, sem floreados que nos desviem do essencial, mas, confesso, não foi suficiente para me arrebatar, porque precisava que as partilhas tivessem um elo maior entre si.

Achei intrigante a forma como começou, captando a nossa atenção para um caso que tem tanto de surreal, como de angustiante. Não obstante, apesar de o ir recuperando ao longo do livro, fiquei com demasiadas dúvidas. Entendo a pertinência de o incluir, uma vez que foi o nó que atou os diferentes destinos e intervenientes, mas estava à espera de encontrar desenvolvimentos mais significativos. Além disso, não sinto que tenha explorado os lugares menos comuns do turismo, ainda que tenha aberto a porta para aspetos menos conhecidos da cultura, da religião e, claro, da sociedade.

«Um lugar nunca se dá por completamente descoberto. Nada que esteja vivo se descobre para sempre»

Por outro lado, achei interessante a maneira como determinados acontecimentos tiveram a capacidade de desencadear tantas memórias, como conseguiram fazê-lo recuar no tempo e pensar sobre alturas da sua vida que já não podiam ser remexidas. Fiquei a pensar nesta espécie de jogo tão singular, que nos permite estar fisicamente num lugar, mas com os pensamentos a quilómetros de distância. É como se se unissem todas as fronteiras e este caminho fosse só uma inesgotável linha reta. E, aí sim, conquistou-me, porque é onde consegue fazer uma série de análises sobre processos de escrita, família, tatuagens e o impacto das pequenas decisões.

O tom pouco linear da narrativa fez-me oscilar. Embora seja evidente o traço intimista, queria ter deambulado mais fundo - quando me senti a chegar a esse ponto, a leitura terminou. Esta procura por um sentido também nunca será uniforme, por esse motivo, o título do livro, creio, assenta-lhe na perfeição. O caminho é mesmo imperfeito. No entanto, «estamos aqui» e «o caminho também é um lugar».


🎧 Música para acompanhar: Time In a Bottle, Jim Croce

📖 Outros livros lidos: Em Teu Ventre | Cal | Nenhum Olhar | A Criança em Ruínas


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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