favoritos 2025: os momentos

Fotografias da minha autoria


A passagem de ano não trouxe promessas, mas desejei com tudo o que carrego por dentro que fosse um ano um pouco mais leve. Em certa medida, conseguiu transmitir-me essa energia, no entanto, também se revelou emocionalmente desafiante, porque há sempre pequenas pedras na engrenagem que nos obrigam a pôr tudo em perspetiva. Afinal, crescer também é isto e, por mais lugar comum que seja, nenhuma rota se faz sem quedas, desilusões e contratempos — independentemente do tamanho.

Este ano, não desci a rua Mouzinho da Silveira para a minha tradição anual de escrever os favoritos do ano na Miss Pavlova, tendo em conta que a loja da Ribeira fechou. Portanto, peguei no meu caderno e fui para o Starbucks pensar nesta retrospetiva e perder-me na sensação de que 2025 foi um pouco estranho, já que foi o ano dos quase: quase mantive o podcast, quase cumpri o compromisso de sair todos os meses para escrever sozinha, quase voltei a tentar contactar editoras, quase fechei o blogue sem aviso, quase ganhei coragem para concorrer a uma bolsa de criação literária, quase que deixei de parte a síndrome do impostor para incluir um buy me a coffee na newsletter, quase me arrependi de ainda não ter tirado a carta, quase que consegui ver Plutonio ao vivo pela primeira vez, quase que assumi o compromisso de ir ao cinema... 2025 foi o ano em que estive mais atenta a estes detalhes e quase que permiti que tivessem um impacto ainda maior.

Janeiro chegou de agenda pouco cheia, fevereiro trouxe reencontros, março trouxe paz e muito caos, abril trouxe celebrações, amor e conquistas de amigos; maio revestiu-se de algum desalento, mas ficou marcado por uma das celebrações mais bonitas, junho escreveu-se de melancolia e em tons de Violetta, julho foi cansaço por excelência e agosto teve peso no peito; setembro foi de transição, de Feira do Livro e de viver muito um dos meus locais favoritos na cidade, outubro não foi o outono que esperava, mas foi generoso, novembro não prometeu nada e cumpriu tudo e dezembro, apesar de sustos e constipações, fez-se de luz.

Às vezes é difícil reconhecer o que de bom aconteceu quando memórias mais tristes assumem um lugar de destaque. É por isso que gosto tanto de parar e de voltar a abrir o caderno das coisas maravilhosas, porque isso obriga-me, da melhor maneira possível, a recentrar. Mesmo que me repita, sei que revesti o coração muito graças ao Educação da Tristeza e à Foguetes, visto que me trouxeram narrativas que me ajudaram a olhar para o lado certo da estrada.

O Lhast, na VI, canta «eu não tinha muito, mas eu tinha fé; eu não tinha tudo, mas eu tinha pé» e reencontrar-me com o tema fez-me perceber que é este o mote que pretendo continuar a implementar na minha vida, porque, enquanto tiver pé, enquanto souber o que é mais importante, serei capaz de continuar. E a verdade é que 2025 teve várias razões para sentir o coração preenchido, quer a nível pessoal, quer a nível cultural.


 os momentos pessoais

Abril abriu a porta dos 33, casei a minha melhor amiga e o meu cunhado (numa cerimónia em que também batizamos a Lúcia), perdi um pouco a vergonha e aceitei o desafio de ir a Avintes falar sobre um dos livros da minha vida, vivemos o S. João com novas tradições, regressamos a lugares que são casa e acabamos por os ressignificar (ainda que nunca venham a perder a associação a pessoas que já partiram), celebrei os 18 anos do meu afilhado e regressei duas vezes ao Dragão.

      

      

      

      


 os momentos culturais

O ano do qual me despeço teve algumas exigências emocionais, contudo, foi muito generoso na esfera cultural. Entre concertos, espetáculos de comédia, apresentações de livros, conversas, teatro e várias sessões e concertos na feira do livro, não faltaram programas únicos.

Assisti a um Concerto Solidário na Casa da Música, ao espetáculo Aura Super Jovem (Salvador Martinha), à conversa entre a Maria Isaac, a Susana Amaro Velho e a Íris Bravo, à sessão do Hugo Gonçalves no LEV, à FNAC Talk com a Capicua, à apresentação do livro da Lénia Rufino, ao concerto da Carolina de Deus, às sessões de apresentação do livro da Rita da Nova, ao concerto do Richie Campbell no Senhor de Matosinhos, aos concertos do David Fonseca e dos GNR, ao concerto do Dillaz, aos concertos da Carolina Deslandes e da Bárbara Bandeira na Noite Branca de Gondomar, ao concerto da Marisa Liz no Noites dos Jardins do Palácio, à FNAC Talks com Manel Cruz, ao Terapia de Casal no Teatro Sá da Bandeira, aos concerto d' A Garota Não, dos Capitão Fausto e dos Vizinhos.

Dentro de uma lista tão recheada, há, no entanto, eventos que se destacaram ainda mais.

VAN ZEE NO COLISEU DO PORTO
Tem sido um privilégio vê-lo a navegar e a alcançar o seu lugar no panorama musical português, uma vez que não só lhe reconheço talento, como também sinto que chegou com os valores certos, sem egos e com uma enorme vontade de estar pela música. Por esse motivo, depois de assistir ao seu concerto na Queima das Fitas do Porto, estava desejosa de o ver numa grande sala, com outro tipo de condições, em nome próprio, o que aconteceu no passado dia 15 de fevereiro, num Coliseu do Porto bem composto (experiência completa).

BISPO NO COLISEU DO PORTO
Uma vez que não era um dos meus artistas-casa, confesso que marcar presença num dos seus concertos não era uma prioridade, mas até essa intenção foi mudando. E, no natal de 2024, fui surpreendida pela minha comadre, que me ofereceu um bilhete para o concerto no Coliseu do Porto. Tenho adorado a experiência de ir sozinha a eventos deste género e, por isso, estava confortável com o facto de ser outro momento assim, mas teve graça quando, ao conversar sobre a surpresa, percebi que era intenção da Sofia perguntar se queria ir. E fomos juntas ouvir os nossos temas favoritos ao vivo (experiência completa).

CAPICUA NA CASA DA MÚSICA
A Sala Suggia esgotou para receber a rapper portuense e foi extraordinário assistir a este momento, a este feito, não só por ver uma das minhas artistas favoritas ao vivo, mas também por ver a forma como desconstruiu por completo a energia do lugar. A sala é linda e associo-a sempre a espetáculos mais estáticos, se é que é justo dizê-lo desta forma, talvez pela necessidade de permanecer sentada. A Capicua não ficou deslocada naquele palco, mas, como lhe confidenciamos no final, foi bom ver a sua arte a chegar a uma sala que parece estar mais adaptada a outros estilos musicais (experiência completa).

PEDRO SAMPAIO NA SUPER BOCK ARENA
O caminho até os Jardins do Palácio de Cristal, quando fomos ver Sombra, espetáculo da Bumba na Fofinha, em outubro de 2024, foi pautado por muita conversa e por um desfecho para o qual não estava preparada: a possibilidade de regressarmos àquela sala para o concerto do Pedro Sampaio (experiência completa).

HOTEL AO VIVO
A podsérie saiu do estúdio para o palco, após 6 temporadas e 81 episódios, para uma despedida especial. E isso, por si só, já seria entusiasmante para mim, porque adoro perceber como é que funcionam os projetos que acompanho de perto, mas acresceu o facto de conhecermos a origem de cada personagem e de termos a possibilidade de ver um episódio integral a ser gravado à nossa frente, com toda a adrenalina e eventuais falhas que essa dinâmica possa significar. O LFB já tem muitos anos de experiência a lidar com o público, porém, não deixa de ser uma aventura com outras exigências (experiência completa).

LANÇAMENTO DE OUTONECER, JÚLIO MACHADO VAZ
Outonecer é uma palavra com uma sonoridade que embala, que abraça, sem esconder a entoação melancólica. E só a sua cadência foi suficiente para despertar a curiosidade, portanto, antes de mergulhar nas memórias que nos reserva, fui ao Teatro Rivoli para assistir ao lançamento do livro, com apresentação de João Luís Barreto Guimarães. Há oportunidades imperdíveis e esta era uma delas, até porque acredito mesmo que as partilhas de Júlio Machado Vaz nos engrandecem. E talvez seja impossível voltarmos ao nosso quotidiano sem nos sentirmos impactados, sem sentirmos que algo mudou: não necessariamente a grande escala, como se regressássemos virados do avesso, mas com a certeza de que nos alargou horizontes e mostrou a vida de outros patamares. Se for para outonecer assim, é um privilégio. Ficaria horas a ouvir Júlio Machado Vaz.

DIOGO PIÇARRA: NOITES DOS JARDINS DO PALÁCIO
O festival Noites dos Jardins do Palácio trouxe um dos meus artistas do coração a um dos meus lugares favoritos da cidade. E isso só podia ser sinal de uma noite mágica. O Diogo que descobri — e por quem vibrei — no Ídolos continua presente, sobretudo na maneira como se entrega à sua arte, como encara o compromisso com o público, no entanto, cresceu, até porque nunca parou de procurar novas rotas. E fá-lo com verdade. Foi, de facto, uma noite mágica, como são todas aquelas em que tenho o privilégio de o ver a atuar, uma vez que a viagem que fazemos através das suas músicas desarma e é sempre única e eletrizante. Com temas mais ou menos dançáveis, ninguém fica muito tempo parado. Ademais, é sempre comovente escutarmos as nossas canções favoritas ao vivo, porque parece que crescem em nós, parece que temos acesso a uma camada paralela, que só conseguimos descobrir ali, com o artista em palco a viver o momento.

VOLTO JÁ, ANTÓNIO RAMINHOS
Volto Já promete «ressignificar o luto e celebrar a vida» e eu creio que cumpriu ambos com naturalidade e relevância, até porque, sem diminuir dores, ajuda-nos a relativizar. E, por vezes, só precisamos de alguém que nos faça sair da nossa cabeça e praticar o denominado «é o que é». Há muitas coisas que não controlamos e nem sempre é fácil aceitar isso, mas havemos de lá chegar e, quem sabe, rir disso. Com um tom intimista e um texto que, creio, conseguirá perdurar no tempo, espero que o Raminhos volte já (experiência completa).

30 ANOS DE SILENCE 4
Quando anunciaram um reencontro para celebrar os 30 anos da sua formação, admito, hesitei um pouco antes de comprar o bilhete, porque questionei-me se fazia sentido estar presente, tendo em conta que não vivi de perto o crescimento da banda. Só que, depois, questionei-me se estaria disposta a perder a oportunidade de cantar ao vivo a Borrow ou a To Give, por exemplo, e se estaria disposta a desperdiçar um momento que talvez não se voltasse a repetir. A resposta negativa às duas foi bastante esclarecedora (experiência completa).

À PRIMEIRA VISTA
O silêncio foi tudo o que me abraçou na noite de sexta-feira, quando saí do Teatro Sá da Bandeira, porque ver o monólogo interpretado por Margarida Vila-Nova foi ainda mais duro e impactante do que aquilo que idealizei. E, por isso, continuo a processar. À Primeira Vista é um valente e necessário murro no estômago, porque precisamos de mudar o paradigma, porque precisamos de rever a maneira como a lei se posiciona. Os meus pensamentos permanecem dispersos, visto que este texto com tom de denúncia aborda demasiadas camadas revoltantes.

CONTEÚDO DO BATÁGUAS AO VIVO
Foram mais de duas horas de espetáculo, sem pausas, com tudo pensado ao pormenor. Houve muita insanidade, realização de sonhos, trocadilhos de várias escalas, registos comprometedores, aparições e imagens que, uma vez vistas, não se podem esquecer. Só não houve uma visita ao Tutti-Frutti, «que é um bar todo espelhado em Arganil», talvez na próxima tour, mas tiveram muito lampo e uma fonte inesgotável de pimpo (experiência completa).

DEALEMA COM A BANDA MUSICAL LEVERENSE
Conhecer artistas pela visão de quem nos é próximo — ou por quem nutrimos alguma consideração — tem sempre um vínculo especial, até porque acabamos por construir novos significados. Os Dealema eram um mundo que não me pertencia, compreendi-os, primeiro, por aquilo que faziam sentir os outros, até que passei a falar no mesmo dialeto que eles, a identificar-me, a compreender os lugares espelhados em cada verso. E, assim, bordei-os na minha história, visto que passaram a fazer parte de quem sou (experiência completa).

      

      

      

      


2026, sê gentil ✨

1 Comments

  1. Desejo-te um excelente ano de 2026!
    P.S. - Ainda bem que não fechaste o blog

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