MOLESKINE | O MELHOR DE JULHO

Fotografia pessoal

«A vida é feita de momentos colecionáveis»

Julho. O mês que teve três vidas dentro, porque passou devagar, sem pressa de chegar a uma meta futura, quase como se fosse necessário duplicar a carga horária. Por um lado, abriu portas a inúmeros momentos, mas, por outro, foi o período de tempo em que me senti mais cansada. Os fins de semana adquiriram outro encanto. E contei com alguns reencontros na bagagem. Numa perspetiva geral, o saldo voltou a ser bastante positivo, permitindo-me encerrar este capítulo de coração a transbordar. Ainda assim, julho fez-me compreender a importância de saber abrandar. Respirar fundo. E recuperar energias. Depois de trinta e um dias intensos, despeço-me feliz. E muito grata. Porque, neste desenhar de memórias, não me faltam razões para sorrir.

Prova Pública // Afilhada & Sobrinha: As circunstâncias que revolucionam a nossa vida, pelo seu caráter proximal, não deixam de ter contornos curiosos. Há dois anos, a minha prova pública também aconteceu em julho. E quis o destino que este mês calhasse em sorte a duas das minhas pessoas-casa. Seria impensável referir que estava mais nervosa do que elas, mas tenho a certeza de que estava mais inquieta a vê-las do que quando fui eu nesse momento crítico. Isto porque não tinha forma de as auxiliar se os nervos as atraiçoassem, enquanto na minha defesa eu podia controlar [em parte] o seu desenvolvimento. Este finalizar de percurso é um misto de sensações brutais. E foi com imenso orgulho que as vi a alcançar uma nova conquista. A nota com que terminam nunca as definirá - ainda que tenham feito uma ótima figura -, mas a sua prestação ao longo da prática educativa supervisionada fala por si. Tenho a certeza de que serão profissionais exemplares, porque têm o coração no sítio certo. E porque sabem dosear o colo e os limites. A área da Educação fica melhor com pessoas com uma luz tão boa como a delas. Voem, agora, meus amores, porque o mundo é vosso!

Isto é Lousã: A minha família é adepta assumida da arte de piquenicar. E todas as ocasiões são perfeitas para partir à aventura. Por isso, no primeiro domingo de julho, abraçamos a oportunidade de nos perdermos pelas belíssimas Aldeias de Xisto da Lousã. E não poderíamos ter encontrado melhor surpresa, uma vez que a paisagem é de tirar o fôlego. Depois de passearmos pelo Talasnal, por Chiqueiro, pelo Complexo Natural Nossa Senhora da Piedade e de irmos até Trevim, para uma paragem no mítico baloiço, foi fácil constatar o cuidado em preservar uma imagem autêntica e nada polida de cada local. Ficou prometido um regresso! [Talasnal // Chiqueiro & Trevim]

Feira das Entrelinhas | Venda de Livros: Os livros nunca serão somente objetos. São vínculos e veículos, que tornam a nossa viagem mais inspiradora. Por isso, ter uma divisão - ou um compartimento - que os resguarde, permite que a nossa casa se transforme num autêntico lar, protegido por inúmeras personagens e infinitas histórias. É por essa razão que a sua companhia é sempre valiosa. Só quem comunica nesta linguagem compreende a magia inerente e o aperto no peito quando nos desapegamos de uma obra. E eu cheguei a uma fase em que senti necessidade de deixar voar alguns dos meus exemplares. Embora não tenha sido um processo fácil - adiei-o várias vezes -, foi fundamental, pois ganho algum espaço para novas leituras, enquanto proporciono novas descobertas a terceiros [aqui].

Águeda & Aveiro: O meu coração estará eternamente dividido entre as minhas raízes - Vila Nova de Gaia - e as cidades que me transmitem uma sensação genuína a casa. Águeda era mais um local de passagem do que de paragem. No entanto, Aveiro sempre foi uma visita frequente. Ter a oportunidade de deambular pelos dois sítios, perdendo-me de amores pelos seus detalhes, foi maravilhoso. Portugal é, de facto, um país especial, com recantos únicos [Polaroid | Águeda & Aveiro].

Jantar com a Gémea: Sabem aquelas pessoas com quem a conversa é sempre descomplicada e fácil, mesmo que estejam uma eternidade sem se verem? Isso acontece-me com a minha melhor amiga! Há alturas em que, com imensa pena nossa, passamos mais tempo do que desejávamos sem combinarmos um encontro. Contudo, sempre que conseguimos agendar um programa, é como se tivéssemos estado juntas no dia anterior. Bem sei que pode soar a lugar comum, mas a verdade é que isso só é possível graças à cumplicidade que construímos desde que nos conhecemos. Ambas sabemos a importância que cada uma tem na vida da outra e fazemos por estar perto, ainda que a presença física não se concretize. É este cuidado constante que faz a diferença. E como uma boa conversa combina melhor com uma refeição de conforto, nada como experimentar as pizzas do Rei da Gula. Foi uma noite fantástica.

Agitágueda // Mishlawi: Quando, em fevereiro, tive o privilégio de assistir ao concerto de Mishlawi no Hard Club, tendo em conta as datas que já tinha anunciado, não pensei que os nossos caminhos se voltassem a cruzar tão cedo. Porém, ao saber da sua ida a Águeda, percebi que não podia perder a oportunidade. Portanto, no passado dia 26, rumei à cidade dos guardas-chuvas coloridos e fiz parte de um momento memorável. Sei que me vou repetir, mas ele é um artista extraordinário, com um sentido de espetáculo genial. É impossível ficarmos indiferentes à energia, à música e à interação com a banda e, consequentemente, com o público. O palco é mesmo a sua casa.

Feira Medieval de Caminha: Já não é a primeira vez que partilho o meu fascínio por Feiras Medievais. Adoro o ambiente e toda a atenção aos pormenores. E uma das minhas favoritas será sempre a de Caminha. Depois de, em 2018, não ter conseguido marcar presença, este ano voltei a ser feliz nesse aspeto. E, claro, não perdi a oportunidade de aumentar a minha coleção de canecas da Irmandade da Cerveja, conhecida pelas suas cervejas artesanais deliciosas.

Julho reservou-me um mês inteiro de praia e já deixei de ser um copinho de leite. Neste momento, tenho uns apontamentos de café, porque continuo a não ficar morena com facilidade. Além disso, fui visitar o Pavilhão da Água pela primeira vez e fiquei rendida. O espaço está fantástico e adequado para receber grupos de crianças. Para um programa de aprendizagem não formal não poderia ser melhor.

Terra Sonâmbula // Mia Couto: Esta narrativa, que corresponde ao primeiro romance do escritor, é envolta num cenário de guerra, retratando um período de sucessivos conflitos armados contra o domínio português e pela independência do país. Portanto, tem um peso histórico impossível de negar, até porque, em simultâneo, mantém o leitor em contacto com as tradições, as crenças, a linguagem e a própria identidade de uma sociedade fechada e, por vezes, preconceituosa. Deambulando entre os destroços, as memórias, o passado e o presente, compreendemos o quanto é ténue a linha que separa a realidade da ficção [Uma Dúzia de Livros // Julho].

Miga, Esquece Lá Isso! // Clara Não: Lê-se num sopro, mas tem uma mensagem poderosa, destacando-se pelo sentido de humor, pela ironia, pela irreverência e pelos traços de ternura. Em simultâneo, importa ressalvar a força das ilustrações, atendendo a que complementam as palavras e a luta pela igualdade, pela exposição de tabus sociais e pela exploração de experiências pessoais. A dinâmica deste livro é bastante particular, oscilando entre a agressividade e a delicadeza. Entre a emoção e a razão. Entre a indignação e o divertimento. E, independentemente de todas as dicotomias que se encontrem, há uma certeza: transborda humanidade. A autora procura, em vários pontos, chocar, consciencializar e desconstruir ideias tão enraizadas na sociedade [The Bibliophile Club // Julho].

As dez figuras negras // Agatha Christie: A dama do crime desarma-me sempre. Porque tem uma capacidade fascinante para criar enredos envolventes, que nos fazem questionar cada passo dado. Neste thriller psicológico, há uma sensação de inquietação permanente, uma vez que os contornos se revelam dúbios e com inúmeras pontas soltas. No entanto, Agatha Christie sabe o que faz, prendendo o leitor do início ao fim. O verdadeiro assassino tarda a ser descoberto, mas a leitura é viciante!

Uma manhã de chuva trocou-nos os planos. Por essa razão, foi necessário improvisar e optar por uma alternativa que agradasse a todos. Assim, numa sessão de cinema caseira, o Dumbo foi o escolhido! Embora já não me recordasse de todos os detalhes do filme, a história continua a ser uma das minhas favoritas, porque tem uma mensagem de máxima importância. Naturalmente, fiquei entusiasmada quando anunciaram o remake e estava desejosa de o ver. Mas continuo a preferir a versão animada. Isso não quer dizer que não tenha gostado desta, mas há uma essência diferente na primeira.

Revista Variações: Desde críticas discográficas a reportagens, sem esquecer as entrevistas, é possível encontrar um pouco de tudo nesta revista mensal, de formato mais pequeno, com um design, texto e fotografia originais. Tudo é pensado ao detalhe. E eu não seria capaz de não investir na Variações. Porque estão a desenvolver um conceito com propósito. Com conteúdo. E com imensa qualidade!

Storyteller Dice // A hora do jantar: Silêncio. É nesta acalmia que me levanto. A casa está vazia e os horários em desencontro. Há um hiato gigantesco entre a minha presença e a convivência com o meu núcleo familiar, fruto das respetivas responsabilidades. Por vezes, sinto-me em falência, a questionar se as palavras e os afetos da noite anterior não foram uma mera partida da minha imaginação.

Margens do Rio: Chegas bela e airosa/De olhar citadino/E roupa formosa/Que liga o mundo/És o meu cais/Ribeira de amores

1+3 | Gestos que fazem a diferença: As letras são o meu dialeto. São o vínculo de comunicação que interliga os pensamentos periclitantes, o papel e o[s] destinatário[s]. Contudo, neste processo de evolução e maturação interior, é percetível a fragilidade da mensagem, uma vez que pode ser deturpada por intenções pouco genuínas. E se as palavras podem ser estudadas e camufladas, assumindo a forma do que se quer ouvir, os gestos têm uma reação mais imediata e menos polida.

Rei da Gula: Uma mensagem a combinar um jantar foi o suficiente para nos levar até esta pizzaria, que se situa na Avenida da República, em Gaia. Inspirada na mitologia romana, onde cada «entidade divina representava as forças da natureza ou os sentimentos humanos», os pizzaiolos procuram «oferecer a pizza perfeita, com massa fofa e estaladiça e os ingredientes sempre frescos e de elevada qualidade». O espaço não é muito grande, mas a sua organização permite-nos um serão agradável. Apesar de estar com receio, aventurei-me numa pizza de salmão e fiquei conquistada, porque a combinação de sabores ficou perfeita. Além disso, a confeção cuidada não passou despercebida. Não posso, ainda, deixar de referir o pão de alho delicioso, o staff competente e simpático e a possibilidade de se combinar metades de menus. É, com toda a certeza, um restaurante a ter em conta.

Este mês, por causa da festa de S. Tiago, não dispensei o meu lado guloso, que se deliciou com os churros da Farturas Ana!

Boutique: A relação com o meu corpo nem sempre foi a mais saudável. No entanto, apesar do meu peso, nunca me senti confortável a utilizar fatos de banho na praia. Podiam ser ótimos aliados para esconder a gordura, mas a sensação de estar apertada não combinava com a minha forma de estar. Por isso, preferi sempre biquínis, ainda que isso implicasse mostrar a barriga. Este ano, e porque encontrei modelos lindos, quis dar uma nova oportunidade aos fatos de banho, uma vez que sinto que há uma maior consciência nos formatos dos mesmos, respeitando os diferentes tipos de corpos. E surpreendi-me positivamente. Tanto que investi em dois. Neste mês intensivo de praia, têm sido os meus aliados. E não podia estar mais satisfeita.

O nosso grande medo da solidão e as vantagens de estar sozinho: É fundamental aprendermos a desfrutar da nossa companhia. E a Beatriz tocou num ponto crucial, porque continuamos a ter receio de estarmos sozinhos, como se isso fosse um problema irreversível. A partir do momento em que não compreendemos as vantagens de termos ocasiões só connosco, acabamos por criar uma dependência com terceiros. E isso não é saudável e faz com que possamos perder algumas oportunidades. Estar em grupo é maravilhoso, porque há uma partilha diferente. Contudo, para o nosso bem, precisamos de investir na nossa individualidade.

Tribuna Expresso // Gonçalo Paciência: Há jogadores de futebol que me falam diretamente ao coração. Não só pelo talento que lhes corre no sangue, mas também pela inteligência, pela maturidade e pela elegância fora das quatro linhas. E o Gonçalo Paciência é um desses casos. É sempre um privilégio vê-lo a jogar, mas também é uma honra ler ou ouvir as entrevistas que ele dá, porque é sempre muito verdadeiro. Ainda espero o dia em que o verei a singrar de azul e branco. Até lá, continuarei a acompanhar o seu percurso com a máxima atenção.

A música é uma parte essencial do meu dia. Mas, durante julho, particularmente, foi uma espécie de catarse, porque me permitiu desligar do mundo exterior e desfrutar da minha bolha. Num misto entre melancolia e energia, todos os temas trouxeram-me paz de espírito.

Faixas: As três primeiras canções a entrar para a playlist têm sotaque brasileiro: Pupila [Anavitória & Vitor Kley], Moça e Rosa e Laranja [ambas de Mariana Froes]. Hex, depois de ter feito a abertura do concerto do Mishlawi, entrou para o meu topo de preferências, porque tem um estilo com o qual me identifico. E, por isso, Blow não poderia faltar nesta lista. How Do You Sleep? [Sam Smith], jND [Lhast feat 9 Miller], Malibu [ProfJam], Hold Me While You Wait [Lewis Capaldi], Bússola [Nenny x i.M], Irresponsável [Wet Bed Gang] e Caught Up [Majid Jordan ft Khalid] também marcaram o meu mês. Por último, mas não menos importante, Os Aurora lançaram Ele Nem Sonha, em jeito de despedida.

Álbuns: Ed Sheeran é um artista extraordinário e versátil. E no seu mais recente disco - No.6 Collaborations Project - aliou-se a nomes de peso. O resultado ficou genial! Trace Nova tem 21 anos e é, para mim, definição de talento. Recentemente, lançou Only, que me conquistou de imediato, porque a alma deste álbum reconforta.

Cupido: Um gesto faz toda a diferente. E isso fica bastante claro neste vídeo. São quase nove minutos de uma sensibilidade comovente!

Hugo Sousa // Maturado: No meu 12º ano, quando desenvolvi o projeto Os Segredos Atrás das Artes, em Área de Projeto, tive a oportunidade de entrevistar um dos meus humoristas favoritos: Hugo Sousa. Acompanho o trabalho dele com atenção, até porque lhe reconheço um potencial incrível [sendo merecedor, na minha opinião, de maior visibilidade] e uma forma de estar bastante saudável, humilde e consciente. E estava desejosa de assistir a um dos seus solos. Felizmente, no início de julho, disponibilizou Maturado no Youtube e eu chorei de tanto rir.

Compras Online: Expectativa VS Realidade: Bumba na Fofinha é sempre brilhante nas abordagens que faz. Partindo de uma realidade cada vez mais recorrente na sociedade, adquiriu um top de produtos referenciados, com o intuito de perceber se foi um bom investimento ou uma perda de tempo. Além disso, explicou o procedimento para quando surge algum problema com a compra. Embora nem tudo seja um erro, há sempre riscos e é importante estarmos informados.

Acredito que, salvo casos mais delicados, temos sempre mais a agradecer. Por isso, faço questão de não descurar esta prática. Não só por me deixar mais serena, mas também por sentir que é o mínimo que posso fazer, tendo em conta as oportunidades fantásticas que se vão cruzando no meu percurso. E se este mês foi bastante intenso, a verdade é que também não me faltaram motivos para estar grata. Porque estive presente em ocasiões de conquista para as minhas pessoas-casa. 

Porque vive alguns reencontros e porque tive a sorte de ver alguns dos meus livros a voarem para novos lares. Ainda assim, queria que este segmento fosse dedicado a um grupo em particular: Os Aurora.

Foi de coração apertado que li o comunicado a informar que colocariam uma pausa no projeto, apesar de compreender os motivos. Não deixa, ainda assim, de ser uma notícia triste, pela história que estavam a escrever. Mas guardarei cada momento. Foi um privilégio ver-vos crescer e superar todas as adversidades pós-programa. É uma honra tremenda olhar para a minha estante e ver que há uma parte de vocês que permanecerá inesquecível. Obrigada por estes anos mágicos, por me terem permitido fazer parte desta família, ainda que à distância, e por terem representado a música portuguesa tão bem. Haverá sempre lugar para vocês. Porque têm uma luz boa, que nunca se apagará. E eu continuarei deste lado. Até ao fim.