UMA DÚZIA DE LIVROS // JUNHO

Fotografia da minha autoria


Tema: Um livro adaptado ao cinema ou TV


Os livros são a minha casa. Esta afirmação não é uma novidade, mas também nunca será uma partilha excessiva, porque vale o mundo conversar sobre o que nos apaixona. E há histórias tão surpreendentes, que sabe-las adaptadas noutros formatos é sentir um aconchego duplo, pois significa mais uma maneira de a prolongarmos na memória. Portanto, para o tema de junho de Uma Dúzia de Livros, resolvi abraçar um clássico que tinha em falta, da autoria de Louisa May Alcott.

Mulherzinhas apresenta um caráter [semi] autobiográfico, com uma cadência muito honesta e envolvente, que ensina a importância da humildade, da gratidão, da generosidade. Centrado na carismática família March, ficamos a conhecer uma mãe lutadora e quatro irmãs tão diferentes e, ainda assim, com personalidades tão complementares. E é mesmo interessante e cómico acompanhar o seu crescimento, atendendo a que sentimos os seus dilemas morais e temperamentais; atendendo a que compreendemos o esforço de cada uma para lutar contra o materialismo, procurando decifrar quais são os valores que as tornarão seres humanos inspiradores, justos e com um enorme sentido crítico e empático.

É fundamental não esquecermos a época e o contexto da obra. Porém, a autora criou uma história que nos faz repensar o papel da mulher. É certo que a figura feminina é associada ao espaço doméstico, enquanto a masculina se ocupa do espaço social e político, mas a emancipação da mulher adquire destaque. E demonstra o seu impacto na sociedade, pois vai muito além de uma imagem pré-concebida. Embora alguns dos ideais apareçam datados, há traços modernos, visionários, sobretudo, através daquela que é, para mim, a personagem mais entusiasmante: Jo. Porque é irreverente. Porque obriga-nos a questionar, a repensar o nosso caminho e a olhar para dentro. Com o coração perto da boca, consegue ser intempestiva, mas é, igualmente, voz de sensibilidade, de esperança e de mudança. Em simultâneo, funciona como alter ego de Alcott, espelhando a sua postura: «preocupada com os direitos femininos, com a educação, a liberdade e a saúde, bem como com a igualdade salarial e de oportunidades e com o direito ao voto».

Neste enredo, as March são, constantemente, colocadas à prova. Contudo, é inegável a força, a perícia e a vontade com que retomam sempre o que é imprescindível. Em parte, não podem usufruir da sua infância e adolescência em pleno, pois têm a necessidade de se tornarem adultas cedo, ajudando a família. Mas são estas marcas e privações que as tornam fascinantes. Num mundo desigual e empobrecido, são os seus sonhos que as orientam e enriquecem. E é incrível a proximidade que as enlaça. Mesmo quando estão em desordem emocional e discutem. O respeito que nutrem umas pelas outras chega a comover. Assim, deambulamos por uma narrativa de coragem, de amizade, de amor, de autoconsciência, de bons costumes e de aprendizagens intemporais.

As quatro irmãs, na tentativa de encontrarem a sua individualidade, oscilam entre «a ânsia de contestar e o desejo de pertencer». E abrem-nos as portas de sua casa, fazendo-nos refletir acerca do quanto é fácil esquecermos o que temos, ambicionando mais. Do poder do perdão, das artes e da resiliência. E é neste meio que viveremos momentos tão delicados, quanto tristes, com vários detalhes que nos serenam a alma. Curiosamente, cruzei-me com um pensamento de Maria Dueñas, que questiona se estamos perante um livro feminista ou conformista. E eu acredito que estamos perante uma obra que nos mostra ambos os lados, impelindo-nos a escolher em qual dos dois pretendemos permanecer.

Mulherzinhas alia a moral cristã com apontamentos de rebeldia. Apela a um sentido de independência. E socorre-se da ironia subtil e inteligente para retratar as relações interpessoais, a complexidade socioeconómica e a aristocracia rural. Além do mais, há uma carga emocional vincada. E a certeza de que este livro nos faz sentir.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«- Não gosto nada de raparigas mal-educadas e pouco femininas.
- E eu detesto as afetadas e presunçosas» [p:10];

«-És uma menina muito, muito má! Não poderei voltar a escrever no meu livro e jamais te perdoarei pelo que fizeste!» [p:126];

«- Porque é que vieste sozinha?
- Porque não queria que ninguém soubesse.
- És a pessoa mais estranha que alguma vez conheci» [p:249];


// Disponibilidade //
Wook: Livro | eBook
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Comentários

  1. Penso que já li esse livro...mas não me lembro da história...
    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  2. Adoro 🥰 vi o filme com a Winona Ryder, e quero muito ler o livro para depois ver a nova versão com a Emma Watson 😊
    Beijinhos*

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    1. Também vi o filme com ela e adorei! Agora falta-me a adaptação mais recente :)
      Recomendo a leitura, minha querida

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  3. Parece um livro interessante.
    Obrigado pela partilha, vou registar.
    Querida amiga Andreia, continuação de boa semana.
    Beijo.

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    1. É um livro que se lê muito bem. Recomendo :)
      Obrigada e igualmente, Jaime

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  4. Nunca li o livro, mas tenho curiosidade... O meu grupo de teatro fez a peça.

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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    1. Já andava há imenso tempo a namorá-lo. E ainda bem, finalmente, o adquiri e li :) oh, que máximo!

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  5. Li o livro na adolescência.
    Adorei a última adaptação ao cinema com a Saoirse Ronan.

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    1. Ainda não vi a última adaptação, mas quero muito fazê-lo!

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  6. Gostei imenso da última adaptação que fizeram a esse livro! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  7. Andreia é um bom livro, gosto de livros que falem das mulheres, mulheres fortes, uma ótima indicação de livro bjs.

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  8. Desejando boas leituras
    .
    Tenha um dia feliz
    Cumprimentos poéticos

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  9. Não conhecia de todo esse livro, mas deve ter uma historia bastante boa para conhecer

    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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    1. É uma história que tanto nos desarma, como nos aconchega :)

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  10. Na adolescência identifiquei-me com a Jo. Sempre fui uma rapariga mal-educada e pouco feminina.

    A fotografia é tão encantadora que até me causa inveja. Tens um gosto tão refinado, Andreia, que merece mil elogios.

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    1. A Jo é mesmo maravilhosa *.*

      Assim fico sem palavras. Muito, muito obrigada!

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  11. Tenho o ebook para ler, mas confesso que ainda não estive no "mood" para o fazer.



    A Sofia World

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    1. Quando sentires esse clique, dar-lhe-ás uma oportunidade :)

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  12. Eu vi o filme...há muitos anos, na minha juventude!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. Vi, no mês passado, a adaptação com Winona Ryder e gostei muito :)

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  13. Estamos em Junho, é mês de leres Jenny Han, certo? :P

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  14. Tenho ouvido falar bem dessa leitura, ainda não tive oportunidade de ler.
    Continuação de boa leitura.
    Bjs

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    1. É uma leitura muito agradável e envolvente :)
      Obrigada e igualmente, querida Amélia

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