LER É RESPEITAR A HISTÓRIA //
O ROUXINOL
O ROUXINOL
Fotografia da minha autoria |
«No amor descobrimos quem queremos ser.
Na guerra descobrimos quem somos»
O livro abre-se. E o traço ficcional pode conter sombras de acontecimentos históricos reais. Por isso é que a literatura é uma fonte inesgotável de aprendizagens e de apropriação cultural. Inspirada pelo projeto da Sandra Cavaleiro - Ler é Respeitar a História -, pude centrar-me na Segunda Guerra Mundial e resgatar da estante uma obra de Kristin Hannah, que estava ansiosa por abraçar.
O Rouxinol tem uma abordagem muito particular, uma vez que eleva o papel das mulheres, mostrando a sua luta silenciosa, enquanto se debatiam com a ocupação Nazi e todas as regras estipuladas pelos alemães. No meio do caos, é impressionante a força interior e o espírito de sobrevivência das protagonistas - tão antagónicas entre si -, porque foram privadas de bens essenciais e de um ambiente familiar estável. Mas, ainda assim, perceberam qual era a sua missão durante este período desumano, arriscando-se por terceiros e procurando minimizar os danos sentidos pela população. E creio que um dos pontos mais pertinentes do enredo prende-se com a capacidade de demonstrar ao leitor que não necessitamos de usufruir dos mesmos métodos para fazermos a diferença. Devemos, sim, estar conscientes das nossas virtudes e compreender como podemos transformá-las na voz da mudança.
É sempre doloroso ler sobre este intervalo temporal, porque é um alerta constante para a falta de escrúpulos, de limites, de decência. No entanto, é fundamental conversarmos sobre o que aconteceu, sobretudo, para impedirmos que se repita, seja de que forma for. E, partindo de uma narrativa fantasiada, não deixamos de ser estimulados a refletir. A agir. A sair da nossa bolha, repensando nos valores que nos movem e no caráter que pretendemos que nos caracterize. Além disso, atendendo às passagens angustiantes com que somos confrontados, é impossível não nos sentirmos abençoados pela nossa liberdade. E pelo facto de termos poder de escolha. Com uma série de reviravoltas, o nosso coração nunca alcança um estado pleno de serenidade, pois existem sempre armadilhas e a noção de um futuro marcado pela desonestidade e pelo perigo. Portanto, há uma pergunta que se repete em surdina: em quem poderemos confiar? Porque é difícil garantirmos que determinada pessoa nos permitirá estar a salvo, visto que, perante o horror de quem fica, o importante é sobreviver. Mas a que custo?
A autora criou uma história de abandono. De coragem. De resiliência. De resistência. E de possíveis segundas oportunidades. Pautada por um mistério que nos deixa em suspenso, acompanhamos, em simultâneo, uma frágil relação familiar. E o impacto do medo, da destruição, da miséria e do abuso de poder. Com uma escrita fluída e, até, viciante, deambulados por um relato emocionalmente intenso. E sentimos as feridas, o valor da amizade e o quanto os nossos sentimentos nos podem atraiçoar ou manter-nos sãos. Numa clara homenagem às heroínas negligenciadas - porque os livros de História não nos facultam o seu lado da batalha -, sujeitas a invasões, agressões e violações, é percetível que todos agimos por um motivo, que a mágoa influência a nossa conduta e que, inevitavelmente, todos procuramos ser amados pelos nossos. As personagens são tão verosímeis, que cada descrição soa credível. E é por essa razão que, facilmente, nos deixamos envolver pelas suas dores. Pelas suas causas. E pelos seus sonhos.
Esta obra aprofunda inúmeras questões, a começar pela necessidade de preservarmos a nossa essência - o que se torna complexo, tendo em conta o cenário de terror. Mas nem só de tragédia se fez a guerra. E, neste livro, mesmo quando tudo parecia impossível de se compor, o amor fez-se ouvir. Vivendo em permanente dicotomia, O Rouxinol cantou. Inebriou-nos. E provou-nos a força de ser e de lutar pelos nossos ideais. E, no final, marcou o compasso que nos permite recomeçar.
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«Parece que desloquei de lugar as pessoas que amo; talvez as tenha deixado onde não pertenciam e elas voltaram-me as costas, demasiado confusas para regressarem seguindo os meus passos» [p:9];
«- É fácil desaparecer quando ninguém está a olhar para nós» [p:80];
«Eu treinei para ser soldado, para lutar pelo meu país e para deixar a minha família orgulhosa. Era uma escolha honrada. O que pensarão de nós quando regressarmos? O que pensarão de mim?» [p:280];
// Disponibilidade //
Fico com a sugestão para uma nova leitura.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Recomendo :)
EliminarObrigada e igualmente, Francisco!
Não conhecia, mas promete ser bem interessante!!
ResponderEliminarBeijos e abraços.
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
Aconselho! É um livro fantástico
EliminarConcordo, que por ser uma fonte inesgotável de aprendizagem. A história escrita jamais deverá ser apagada. Gostei do que li nesse texto.
ResponderEliminarTenha um bom dia de Qinta-feira Andreia.
Permite-nos conhecer imenso sobre a nossa história e a história do mundo!
EliminarMuito obrigada :)
Boa quinta, Edumanes
Bom dia:- Acredito que seja um livro delicioso de ler. Gostei da sugestão.
ResponderEliminar.
Cumprimentos
É mesmo, Ricardo!
EliminarA tua descrição de "O Rouxinol" despertou o meu interesse. Vou procurá-lo na biblioteca ou na livraria.
ResponderEliminar«No amor descobrimos quem queremos ser.
Na guerra descobrimos quem somos»
Concordo em absoluto.
Fiquei encantada com a história e a escrita da autora, recomendo :)
EliminarQue leitura tão actual! Excelente sugestão 🧡
ResponderEliminarSinto que irias adorar ler!
EliminarJá li muito boas opiniões sobre este livro, deixaste-me curiosa. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarBeijinho grande!
Se tiveres oportunidade, acredito que te surpreenda pela positiva :)
EliminarLer é respeitar a história, muito a propósito nestes tempos!! Pode ser a história do livro e a História. Acho que devemos passar esta mensagem sem parar!!
ResponderEliminarxoxo
marisasclosetblog.com
Sem dúvida, até porque é importante sabermos o que aconteceu. Seja para não repetir, seja para compreendermos o que deve ser mantido
EliminarSempre a conhecer novos livros, mas esse deve ter uma historia bastante bonita para conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Vale muito a pena :)
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