CAIXA MÁGICA // A ESPIA

Fotografia da minha autoria


«Durante a guerra, ninguém é o que parece»
[pode conter spoilers]


A minha formação, sobretudo, do básico ao secundário não me preparou, totalmente, para a história do meu país. Recuando a 1941, Portugal não está em guerra, mas vai-se confrontando com rostos da tragédia. Enquanto a Segunda Guerra Mundial assola o continente, nós vivemos num aparente clima de neutralidade. Porém, a intriga diplomática adquire força e há portugueses a servir os Aliados, outros a apoiar o Eixo e os mais ousados a prestar contas a ambos os lados. Nesta batalha silenciosa, onde é evidente a luta pela sobrevivência, percebemos que as movimentações que ocorrem na sombra não são assim tão inocentes.

ESPIONAGEM E CONTRAINFORMAÇÃO

Palco de um forte contexto de espionagem e contrainformação, o nosso jardim à beira-mar plantado estava pautado pela ditadura e pela corrupção. Apesar de tudo, reinava a certeza de que fora das nossas fronteiras o caos era bem maior. Por isso, era necessário assegurar o futuro, impedindo-o de assombrar a nação com o mesmo cenário de destruição. Mas a falta de esperança, o medo e a dúvida implicavam alianças débeis e demonstrações de lealdade dúbias. Assim, havia redes mais ou menos secretas que procuravam acalentar expectativas. E todas estas componentes são retratadas n' A Espia: uma produção nacional, com um elenco de luxo, na qual se interliga o melhor da ficção com fragmentos históricos reais, numa época tão delicada para Portugal.

O PAPEL DA MULHER

Esta série de ação, romance e sedução apresenta uma história misteriosa, com grande incidência nas mensagens codificadas, nos comportamentos suspeitos e nas teorias que ficam suspensas no nosso pensamento inquieto. Numa altura em que a mulher era vista como um ser inferior, é muito interessante - e gratificante - descobrir uma narrativa no feminino, desconstruindo todo este preconceito. Até porque demonstra o seu valor e a astúcia de aproveitar a desvalorização a seu favor. E, durante oito episódios, acompanharemos o impacto de duas mulheres poderosas, que intensificarão esta teia. Portanto, sinto que é impossível esta obra televisiva não mexer connosco, principalmente, quando «combina adrenalina, dor, amor, ética e valores». E, ainda, personalidades sólidas, bem construídas e com propósitos muito pessoais - e pouco decifráveis. E é esta indefinição que atrai, uma vez que tudo funciona como possível moeda de troca.

UM PORTUGAL DESCONHECIDO

O argumento é complexo e cheio de camadas. Os cenários e a banda sonora fomentam o secretismo. E toda a produção fotográfica e de figurinos compõe o seu caráter credível, conquistando-nos. Neste Portugal desconhecido, «o conflito vibrava descontrolado». A propaganda da época, a batalha ideológica e o jogo duplo eram uma constante. E, no silêncio da noite, cimentava-se um núcleo com o claro objetivo de destruir infraestruturas e a contraespionagem. Naturalmente, existiam riscos associados. O cerco da PVDE apertava. E bastava um passo em falso. E é neste sufoco e imprevisibilidade, com consequências desumanas, que a nossa história se vai desenhando.

A Espia tem um final muito surpreendente e desarmante, comprovando que merece uma nova temporada - para o bem de todos. Porque esta produção de excelência, que tanto nos faz questionar a honestidade das relações humanas e o nosso preço, é uma série de Portugal para o mundo.

TRÊS DESTAQUES

Rose Lawson [Maria João Bastos]
Uma das personagens mais carismáticas da série, muito por nos fazer questionar quem somos e até onde estamos dispostos a ir. A manipulação, a frieza, a inteligência e o calculismo desconcertam-nos, mas também nos inebriam, pela confiança e pela presença de espírito.

Agente Paulo Santos, da PVDE [Luís Filipe Eusébio]
Numa posição de poder, aproveitou-se inúmeras vezes dessa condição para se superiorizar e obter informações, sempre numa base de violência e tortura [física ou psicológica]. Há muitos aspetos mal resolvidos no seu coração. E deve ter sido a personagem que mais me revoltou. E a que mais insultei [ainda bem que não me ouvia]. Mas todas estas reações só são possíveis pela sua brilhante interpretação.

Maria João e Siegfried Brenner [Daniela Ruah & Diogo Morgado]
Individualmente, são protagonistas de peso, não só pelas missões que têm que desempenhar, mas por representarem, na perfeição, o quanto o amor é cego [nem sempre inocente]. E qual é o peso de uma vida dupla. 

Comentários

  1. Vi alguns episódios....mas acabei por perder o fio à meada...

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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    1. Se tiver curiosidade/interesse, recomendo. Os episódios estão todos disponíveis na RTP play :)

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  2. Já ouvi falar muito desta série mas ainda não decidi ver.

    Beijinho grande!

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    1. Sei que sou bastante suspeita, mas a série está mesmo incrível. A parte boa é que os episódios estão todos disponíveis na RTP Play :)

      Beijinho grande

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  3. Ui adoro! Quero mais! Foste de encontro a tudo o que eu penso sobre esta serie :) Falta muito para a segunda temporada? Adorei a quimica entre a Ruah e o Morgado, fazem juz ao seu talento :) Fenomenal :)
    Beijinhos*

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    1. Bem que a segunda temporada podia começar já hoje! Aquele final deu cabo de mim, no melhor sentido possível. Por isso, tenho muitas perguntas à espera de respostas :D
      Formaram uma bela dupla. E acho que a história de ambos ainda promete muita coisa

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  4. Não ligo a filmes ou séries. Sofro sim, com o futebol, lol
    .
    Saudações poéticas
    Feliz fim de semana

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  5. Gostei imenso de ver a série, as séries da RTP cada vez surpreendem mais. E concordo, a personagem da Maria João Bastos foi das mais carismáticas!
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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    1. Ainda não houve uma série que não me tenha conquistado. Estão mesmo a apostar numa produção incrível! E isso só demonstra o talento que existe em Portugal. Tão bom *-*
      Foi das minhas favoritas, a começar por toda a complexidade

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  6. Posso te dizer que ainda não conhecia mesmo, mas parece ser bastante boa para talvez conhecer
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  7. Tenho visto a publicidade na televisão, mas ainda não assisti a nenhum dos episódios.

    Tenha um bom fim de semana Andreia.

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    1. Recomendo, Edumanes. Entretanto, já terminou, mas os episódios estão disponíveis na RTP Play

      Obrigada e igualmente

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  8. Boa tarde tudo bem? Sou brasileiro, carioca e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância.

    https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1

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    1. Muito obrigada pela visita :) a maior das sortes para o seu blogue

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  9. Nunca tinha ouvido falar nesta série mas gostava muito de a ver, tendo em conta o que mencionas 😍

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  10. «Durante a guerra, ninguém é o que parece»
    Eu diria que durante a guerra é quando o ser humano melhor revela o quanto de animalesco existe em nós. Em nenhuma altura das nossas vidas somos tão confrontados com a luta pela sobrevivência, como acontece no mundo selvagem. E alguém a lutar pela sobrevivência, facilmente coloca de lado o que aprendeu sobre civismo. É matar ou morrer. É lutar até à morte pela última côdea de pão, pois sem a côdea a morte é mais certa do que na luta. O instinto predador que na normalidade usamos para satisfazer a ganância, na guerra é o que nos pode salvar. Isso e o medo, que tantas vezes é conotado com cobardia. O medo é o que nos salva. Já diz o povo que "o medo guarda a vinha".
    A guerra faz vir ao de cima os nossos instintos mais primários que, ao longo da evolução se foram perdendo, ou convertido em armas que usamos nos combates desiguais nesta sociedade onde todos, supostamente, têm as mesmas oportunidades.
    Bom, acho que devo esclarecer que não bebi nada, a não ser água, ao jantar. 😛

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    1. Sim, em parte, concordo totalmente contigo. Mas, neste caso em concreto, ninguém é o que aparenta, porque esse secretismo é uma arma para sobreviver. A necessidade de manter as aparências, de saber fazer jogo duplo, de passar despercebido é uma arte que exige algum resguardo da nossa identidade.
      O medo desperta em nós sensações e reações que, por vezes, nem achávamos serem possíveis. Mas são. E acabamos por conhecer outras componentes da nossa essência.
      Na realidade, nem precisamos de entrar em guerra. Basta algo fugir um pouco do nosso controlo para que os nossos instintos mais primários fiquem à vista de todos.
      Esclarecidíssimo ahahahah

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  11. Gostei muito da série. Gosto muito do trabalho da Daniela Ruah e, neste caso, acho que toda a série foi extraordinária, com uma qualidade enorme e que precisa de uma segunda temporada - já! Felizmente, a RTP tem tentado trazer cada vez mais conteúdo diferente e para todos os gostos e logo aí ganha a todos os canais "principais" (aka SIC e TVI) da televisão portuguesa.


    A Sofia World

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    1. Ela até podia fazer só de árvore, que ia ser incrível :p
      A RTP tem apostado em séries extraordinárias e esta, sem dúvida, está no topo. Porque tem uma abordagem nova e está mesmo muito bem construída. Por favor, que venha logo, logo a segunda temporada

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  12. Tenho toda a série na box por ver... yap sou dessas que grava tudo e depois é que vê. No entanto comecei já a ver a nova série da rtp que substituiu a espia

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    1. Por acaso, não tenho esse hábito, mas para algumas séries até dava jeito :p
      Também vi Terra Nova e estou muito curiosa para acompanhar o seu desenvolvimento

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  13. O contexto histórico é muito interessante. O problemas das séries portuguesas é que são muito lentas e com um som muito baixinho. Espero que seja ritmada :)

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  14. Vi a apresentação na tv e até me despertou algum interesse na história, mas infelizmente não gosto da actriz principal e resolvi não ver.

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    1. É um argumento tão válido como qualquer outro, mas dá uma hipótese à séria. Sinto que seria um desperdício não a veres só pela incompatibilidade com um ator/uma atriz. Pode ser que te surpreenda :)

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  15. Obrigada por mais uma sugestão portuguesa, assim que tiver tempo vou dar-lhe uma oportunidade porque fiquei muito curiosa :)

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