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NOME DE CÓDIGO
NOME DE CÓDIGO
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Fotografia da minha autoria |
Tema: Mala + Banana
A minha mala esconde um segredo. Inofensivo, indecifrável, indetetável a olhares alheios. Porque transporta o nosso nome de código, que nos acompanha desde a infância. Afinal, sermos os inadaptados deu-nos algumas armas que ninguém esperava. É por isso que, hoje, cremos nós, não são capazes de desvendar o nosso paradeiro. Mas nós continuamos por perto e em permanente comunicação, no entanto, sempre cautelosos.
Há uns anos, fomos obrigados a fugir da nossa casa de acolhimento. Batemos no fundo e metemo-nos com as pessoas erradas. Para piorar, percebemo-lo demasiado tarde e o futuro não se afigurava promissor. Apesar disso, ainda nos sobrou um pouco de decência para impedir que as pessoas responsáveis por nós, que já considerávamos como autênticos pais, pagassem a fatura das decisões criminosas que tomamos. E, num ato de altruísmo e cobardia, escapulimo-nos a meio da noite, sem levantar suspeitas, deixando um papel pouco desenvolvido, num local estratégico do nosso quarto, só para lhes garantir que estávamos gratos por tudo. Sem olhar para trás, despedimo-nos em silêncio e seguimos caminhos diferentes. Juntos seríamos mais fáceis de encontrar. Assim, talvez conseguíssemos adiar a sentença. O tempo encarregar-se-ia de sarar as extensas feridas deste duplo abandono.
Andamos sem rumo, bem longe do ponto de partida, limpando o rasto das nossas pegadas. E passamos a viver desconfiados, olhando sempre por cima do ombro. Ambos sabíamos que nunca seríamos capazes de recomeçar em segurança, porque encaixamos numa teia que pode adormecer o ataque, mas nunca ao ponto de o esquecer. Portanto, mais cedo ou mais tarde, o cerco acabará por nos sufocar. Enquanto sentirmos o doce impulso da liberdade, pelo menos, continuaremos a tentar inverter o destino fatal, redefinindo as jogadas que temos de reserva para a redenção.
Pontualmente, cai uma mensagem com coordenadas, que devemos seguir de imediato. Escusado será dizer que o número é sempre diferente e destruído, assim que cumpre o seu propósito, para ninguém o rastrear. Em passadas confiantes, descomprometidas, espero chegar ao local e encontrar 11 gomas de banana. Este detalhe não é inconsciente, pois é a chave para nos reconhecermos e sabermos que não estamos a ser enganados. Curiosamente, começou por ser um ato inocente. Fascinados por filmes de ação e policiais, quisemos sempre fazer parte de um plano que implicasse agir com identidades falsas e mensagens codificadas, então, no recreio, quando queríamos estar sozinhos, comíamos uma goma de banana. Quem é que desconfiaria de algo tão banal? Consoante fomos crescendo, fomos aprimorando o código e percebemos que era imprescindível um enigma mais consistente. E, para além de nós, mais ninguém sabia que 11 era o número de balas que o nosso irmão tinha no bolso, antes de ter caído na falésia do Rosário.
Aproximei-me do armazém com uma sensação estranha no corpo. Quando passei o portão, abri o quadro elétrico e lá estavam as gomas. Quase sorri, mas algo não batia certo. Só contei nove. E tu nunca te enganarias nisto. Apressei-me a sair dali e senti algo a passar rente à minha orelha esquerda. Nem me atrevi a ver o que se passava atrás de mim, mas percebi, naquele instante, que o tempo estava a esgotar-se.
Andreia todos nós escondemos segredos, maravilhoso texto, Andreia bjs.
ResponderEliminarhttp://www.lucimarmoreira.com/
Bem verdade :) muito obrigada!
EliminarGreat post dear!Have a nice day!
ResponderEliminarbeautyqueen000.blogspot.rs
Thanks!
EliminarAdorei esta historia intensa e misteriosa... e agora fiquei com vontade de comer gomas de banana :)
ResponderEliminarNa semana passada, por acaso, tirei a barriga de misérias, porque já não me lembrava de comer gomas de banana. Quer dizer, já não me lembrava de comer gomas no geral :p
EliminarMuito obrigada!
Gostei desta história.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Muito obrigada, Francisco!
EliminarContinuação de boa semana :)
Gostei imenso desta história, do factor mistério, do suspense e principalmente pela associação às gomas de banana, achei engraçado. E agora fiquei com vontade de comer gomas de banana :)
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Muito obrigada, minha querida! Que feedback tão bom <3
EliminarQue história mais bonita, é mesmo há sempre alguma coisa que acabamos por guardar
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Obrigada, Sofia!
EliminarQue história tão intensa! Gostei! :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Muito obrigada, Marta!
EliminarOs segredos fazem parte.
ResponderEliminarAdorei o texto.
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Sem dúvida!
EliminarMuito obrigada :)
Haverá sempre um segredo para esconder. E onde é que há de ser. Talvez no fundo falso do baú?
ResponderEliminarSe calhar, nunca se sabe :)
EliminarCliquei sem querer "Publicar", antes de terminar o meu comentário. Porque faltava, ainda, dizer que gostei da sua crónica e desejar-lhe uma boa noite Andreia.
ResponderEliminarNão há qualquer problema, Edumanes. Muito obrigada!
EliminarWoaaaaaaaaaaah *o* Estou FA-SCI-NA-DA!
ResponderEliminarEstou a ver que tornarei esta tua rubrica na minha companhia noturna, antes de me deixar embalar pela maré onírica... Wow, gostei mesmo MUITO deste pequeno conto! Curto, bem elaborado, com a dose ideal de mistério e resolução... Perfeito, apenas! ♥
LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO - PODCAST
Bem, assim fico mesmo sem palavras. Muito, muito obrigada, querida Lyne. Que retorno tão bom ♥
EliminarQue escrita maravilhosa! O mistério que nos trazes com algo tão simples como as (deliciosas!!!) gomas de banana. Incrível.
ResponderEliminarMuito, muito obrigada, minha querida *-*
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