Mega Hits | Cala-te Boca

Fotografia da minha autoria

«Ninguém disse que ir ao Snooze era fácil»

As minhas viagens de carro são sempre feitas de rádio ligado, independentemente da distância a percorrer. Porque adoro música e porque sinto que este ritual torna o momento mais intimista. Além disso, a imprevisibilidade do reportório combina bem com os traços distintos do caminho. E é assim que vou despertando e abraçando esta experiência em pleno.

Sempre mantive uma relação muito fiel com a Cidade FM, desde o tempo em que ainda se chamava Rádio Cidade e os locutores eram brasileiros - já não me recordo dos seus nomes, mas tenho presente a energia dinâmica e contagiante. Por isso, fui acompanhando várias transições de identidade e conteúdo e, ainda, chegadas e partidas, ciente de que aquela era a minha estação. Porém, fui crescendo e compreendendo que nem sempre partilhamos o mesmo grau de identificação e não há qualquer mal nisso. São mudanças naturais. E temos liberdade suficiente para escolher, para alternar, para priorizar outras preferências, sem sentirmos que estamos a descartar algo que fez parte do nosso percurso. Até porque não tem que ser uma decisão definitiva. Atualmente, em consequência desta introspeção, vou-me dividindo entre a Cidade e a Mega Hits. Não só pela aposta musical, mas também pelos profissionais dos respetivos meios.

Acredito que a comunicação faz toda a diferença, porque a mensagem envolve-nos com outro impacto. São as pessoas que nos convidam a ficar. São elas que nos movem e que nos conquistam, mesmo que conversem connosco à distância. E eu tenho plena consciência de que foi pelo Rui Maria Pêgo que comecei a cruzar-me com maior regularidade com a Mega, porque sou admiradora do seu trabalho, da sua frontalidade, da sua essência. Sinto que tem um carisma especial e que se manifesta pelas razões certas. E nota-se que é um comunicador nato. É mais uma pessoa-luz que me inspira. Adoro ouvi-lo a partilhar os seus pontos de vista e vê-lo a traçar uma carreira tão consciente nas mais diversas áreas. O seu lado camaleónico é surpreendente! Por isso, atravessei esta ponte por ele e deparei-me com um trio verdadeiramente singular, que acrescenta muita vida às manhãs. O Conguito já conhecia, muito por causa do Youtube, mas a Maria Correia soava a novidade. Apesar disso, rapidamente se tornaram na minha companhia matinal, ainda que não os escute desde o início da emissão. Das 6h às 10h, «têm a missão de te fazer rir [ou sorrir, vá] em vez de teres vontade de adiar o despertador durante três horas». E há um segmento que me fascina particularmente.

O Cala-te Boca junta personalidades conhecidas e perguntas difíceis. Caso não queiram responder a alguma [são três], podem usar a expressão Cala-te Boca. Porém, só têm a possibilidade de o fazer uma vez e, depois, ficam à mercê do Rui, da Maria e do Conguito, tendo que «confessar tudo» nas seguintes. Portanto, só têm uma oportunidade de fuga, mas têm de responder a uma questão extra [e há quem o faça de qualquer das maneiras]. Levanta-se, então, a dúvida: «será que os convidados reagem bem quando lhes fazem as perguntas proibidas?». Até à data, a meu ver, tem corrido muitíssimo bem. Houve muitas gargalhadas, inconfidências e momentos ternos. Porque existe generosidade mútua, mesmo com a música para criar tensão. E é complicado selecionar um favorito. No entanto, não posso deixar de destacar os que foram feitos com a Maria Botelho Moniz, o Cifrão, a Jani Zhao, o Guilherme Fonseca, o Diogo Piçarra, a Isabel Silva, a Diana Nicolau e a Benedita Pereira. Pela verdade em cada partilha e porque, para mim, são artistas excecionais, pelos quais nutro um enorme carinho. Preferências à parte, vale a pena ver/ouvir todos - na rádio, no youtube ou em podcast.

Esta ideia original foi uma aposta ganha. Porque é divertida. É arrojada. E, sobretudo, porque está muito bem produzida e encaminhada. É, também, por projetos desta natureza que continuo a priorizar a rádio. Pela música, que é o meu foco principal, e por perceber que há este cuidado de, no meio de tanta seriedade, disponibilizarem conteúdos descontraídos, que animam os nosso dias e que nos proporcionam descobertas plurais e agradáveis.

Já conheciam o Cala-te Boca? Costumam ouvir a Mega Hits?