As Saudades que nos fazem perto

Fotografia da minha autoria

«Saudade é a prova de que tudo valeu a pena»

As pessoas chegam à nossa vida de mansinho, quase como se caminhassem sobre uma nuvem de algodão. E, nesse silêncio intencional, deixam-nos o coração em alvoroço. Como numa casa, reorganizam-nos, mas sem o propósito de nos mudarem a essência. E nós fazemos o mesmo. Tornamo-las num lar e desejamos que os nossos destinos nunca parem de se cruzar. Embora, por vezes, a distância física nos impeça de estar perto com frequência. Porque compreendemos, com as amizades certas, que o estar assume inúmeras formas. E que existem demonstrações que estreitam os nossos laços. E, ainda, que é com elas - e por elas - que descobrimos a melhor definição de pertença.

Quando conheci a R., no dia da nossa apresentação, no 6º ano, estava longe de imaginar a importância que teríamos - e continuamos a ter - na vida uma da outra. Não me recordo das primeiras palavras que trocamos, mas sei que não estabelecemos uma ligação automática. Foi crescendo com o tempo. Em passos firmes e com muita verdade. Não gosto de imputar rótulos, porque aqueles que fazem parte de nós são muito mais do que essas possíveis designações. Porém, ela é - e será sempre - a minha melhor amiga. A gémea de coração. A família que escolhemos e que pretendemos preservar até ao fim. Duas décadas depois, somos presença constante. Por mais que não conversemos diariamente, por mais que demoremos a combinar uma saída, sei que seremos sempre o colo uma da outra. Há olhares, há sorrisos, há sensações que nos mostram o exato momento em que devemos chegar. Porque sabemos ler-los para lá do silêncio. E quando nos reencontramos, sentimos que permanece tudo igual, na mesma proporção familiar de quem palmilha uma estrada no mesmo compasso de tempo.

Acredito, mesmo que soe a lugar comum, que as pessoas entram na nossa vida por uma razão. E que a duração da sua estadia não é desprovida de sentido. E ela chegou, de alma e bagagem, para me ensinar que existe sempre alguém que não nos deixa sós. Mesmo que tudo se desmorone à nossa volta, há amparos incondicionais. Pessoas insubstituíveis, porque são bonitas por dentro. Há uma cena na série Anatomia de Grey que descreve bem o nosso vínculo afetivo: quando Cristina Yang confidencia a Meredith Grey «you're my person». E ela é a minha, sem qualquer dúvida. Hoje, neste dia tão especial, por ser o teu aniversário, são as saudades que se manifestam com ruído. Estás longe, mas sempre perto. Levantaste voo para espalhar essa luz genuína que habita em ti. Para iluminares o caminho daqueles que se cruzarão com o teu. E para fazeres a diferença junto de quem mais necessitam. E é um orgulho imenso saber que eles vão poder conhecer um pouco de quem tu és. Sorte a deles por te terem agora e sorte a minha, porque te tenho como exemplo. Prometi ficar deste lado a preparar o abraço para o teu regresso. E não vou a lado algum. E esta certeza é válida para sempre.

Vivemos no mesmo lado da margem. Mas se a vida nos trocar as voltas e nos levar para lugares opostos, continuaremos a ter uma ponte para atravessar. Porque há pessoas que chegam discretamente, mas o impacto que têm em nós é estrondoso. Mereces o mundo, gémea. Feliz aniversário ❣

[Quando regressares, temos um jantar com arroz de forno em espera]