Entrelinhas #69

Fotografia da minha autoria


«O primeiro amor [após 19 tentativas vãs]»



A minha lista de desejos literários, como já confidenciei inúmeras vezes, aumenta mais do que aquilo que diminui. E, inevitavelmente, há títulos que se mantêm presentes, à espera da sua oportunidade de vir morar na estante cá de casa. Alguns conseguem esse feito, mas outros permanecem em suspenso, enquanto não chega o seu momento - se é que algum dia chegará - de me abraçarem com a sua história. Como a leitura anterior tinha sido tão positiva, decidi voltar a John Green, recuperando uma das suas obras que está há mais tempo no meu foco.

O Teorema (K)atherine deixou-me extremamente curiosa com a sua premissa, porque é interessante, distinta e, até, intrigante. O propósito da narrativa tem um traço original, que nos eleva as expectativas, ao mesmo tempo que nos leva a elencar uma série de questões prévias, só por lermos a sinopse. No entanto, a abordagem não me arrebatou. Talvez, de uma maneira inconsciente, tivesse criado uma perceção errada, que me distanciou do enredo, mas faltou-me algo. A ideia está, francamente, bem conseguida, porém, o seu desenvolvimento ficou aquém. Há partes cheias de humor - e tenho que destacar o quanto as notas de rodapé são hilariantes. Em contrapartida, sinto que falhou na consistência e na exploração da ação, tornando-a muito mais linear e previsível. O que resulta, independentemente de tudo, é a sensibilidade e a astúcia do autor para partir de uma fragilidade do ser humano e trabalhá-la com subtileza e generosidade. Apesar de não me ter relacionado com este livro em pleno, é inegável a importância dos temas que lhe são inerentes.

O impacto dos sucessivos desgostos amorosos, as inseguranças - não só em consequência de uma rutura relaciona, mas também direcionadas para outras áreas da nossa vida -, o medo de se ser deixado, de não se ser importante; a complexidade da adolescência e a própria forma inocente e simbólica como veem o amor. Simultaneamente, retrata assuntos como o bullying, a traição, a carência, a imprevisibilidade do futuro, a dicotomia emoção-razão, as dúvidas existenciais, o confronto do trato com a inteligência e a ilusão da memória, na medida em que as nossas lembranças nem sempre correspondem à realidade. Há, portanto, uma viagem de aceitação, de descoberta, de mudança, o que proporciona situações emocionantes e de grande companheirismo. Um aspeto singular, protagonizado por Colin, é a necessidade quase obsessiva de perpetuar um legado, como se a nossa caminhada só fosse relevante se estivesse associada a um grande acontecimento. E essa desconstrução - muitas vezes, crua - tornou-se fulcral. Atendendo ao título da obra, existe uma componente matemática vincada, que é desenvolvida de forma acessível durante todo o enredo. Na parte final, há um apêndice que aprofunda mais a parte técnica, designemos assim, sem, no entanto, perder o lado humorístico, descomplicado e descontraído.

A narrativa, mesmo com toda a antecipação do desfecho, consegue ser fluída, evidenciando personalidades peculiares. Pessoalmente, gostei bastante das epifanias a que algumas personagens chegaram. Mas, por outro lado, senti uma certa urgência em determinadas passagens, o que condicionou o ritmo do texto. E lamento, realmente, o facto de, a certa altura, apresentar um registo mais monótono, transmitindo a sensação de que se perdeu a magia única da mensagem. Porque tinha uma base desafiante e complexa, que acabou por não acompanhar o desenrolar da ação. Há alguma imaturidade, mas a leitura, apesar disso, não deixa de ser engraçada e leve. Não obstante, acredito que a riqueza da obra está mais individualizada nas personagens - e no seu crescimento - e não na história em si.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«As Pessoas Que Deixam nem sempre são os quebra-corações e as Pessoas Que São Deixadas nem sempre são as de coração partido. No entanto, todos têm uma tendência» [p:23];

«(...) Colin começou a chorar. Ela encostou a cabeça dele ao seu peito. E, apesar de ele se sentir patético e ridículo, não queria que o momento terminasse, pois sabia que a ausência dela magoaria mais do que qualquer fim de namoro» [p:51];

«Adorava o barulho do lápis no papel quando estava concentrado: significava que estava a acontecer algo» [p:113];

«Filho, se há uma coisa que esta vida me ensinou - e Colin pensou em como os idosos gostam sempre de dizer a alguém as coisas que sabem -, foi que há pessoas neste mundo que somos capazes de amar, amar e amar, independentemente de tudo o que aconteça» [p:151];

«É suposto as pessoas importarem-se. É bom que as pessoas signifiquem alguma coisa para nós, que sintamos falta delas quando se vão embora» [p:235].



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Comentários

  1. O livro fala sobre assuntos interessantes e que eu gosto. Não conhecia . Obrigada pela partilha.
    Beijinho linda.

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  2. Acho que é dos livros de John Green que menos gostei, depois desse está Cidades de Papel. Tinha imensas expectativas para este, tinha gostado imenso dos livros que tinha lido do autor portanto este só poderia ser bom, mas enganei-me infelizmente 😒 Entretanto já li outros do autor e nenhum conseguiu ser tão bom quanto À Procura de Alaska!

    http://www.thelittleangieblog.blogspot.com/

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  3. Sempre muito interessantes ...
    :)) Bom dia

    Do nosso amigo Gil António, com- "Amantes" num Universo de apetência.

    Bjos
    Votos de uma óptima Sexta - Feira

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  4. O John Green tem sempre uma maneira tão particular de escrever. Às vezes torna-se complicado decidir quais citações gosto mais :)

    3200 Degrees ❤

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  5. Hummm não me deixou entusiasmada!! Obrigada pela partilha!!

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  6. Mais um que não conhecia, mas parece ser um bom livro para conhecer

    Beijinhos
    Novo post //Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  7. gostei bastante de algumas citações :)

    r: oh muito obrigada minha linda !

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  8. A minha lista de desejos literários também se torna cada vez maior. Mas este ano ainda só gostei de ler um livro "Olha-me nos olhos", sobre um miudo com asperger.

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  9. Li "A Culpa é das Estrelas" e gostei muito, no entanto, por razões que não sei explicar não foi um autor que me cativasse a ler mais livros seus. No entanto, quem sabe um dia volte a uma obra sua.

    Bom fim-de-semana! Beijinho grande!

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  10. Confesso que já li há muito tempo e a história está meio apagada da minha mente, mas ainda assim sempre gostei de John Green

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  11. Mais um excelente review :) quando se gosta muito de ler a nossa lista só tem tendência a aumentar :)
    Beijinhos minha querida*
    https://matildeferreira.co.uk

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  12. De todos os livros dele, esse é o que menos me "chama" e o único que não está na minha Wishlist.
    O facto de ele se estar sempre a apaixonar por uma Katherine e ir "calcular" a probabilidade de tudo e não sei quê, bem como o resumo deixaram mais a desejar, na minha opinião!
    Eu tenho "Quando a neve cai", "a culpa é das estrelas", "cidades de papel" e " turtles all the way down" (o título do último gosto bem mais em inglês do que em português sim, tanto que nem sei em português xd)

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  13. r: Devias fazer uma tatuagem, vai por mim também tinha imenso receio e medo (agulhas)!! Mas não doi quase nada, é algo "normal" (?) e que compensa mesmo muito. Porque se adoras a visualização que tens de uma tatuagem, vê-la de facto na tua pele é algo impagável!

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  14. Quero muito ler esse livro, mas vou sempre deixando passar!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  15. Não conhecia confesso mas fiquei bastante curiosa.
    Beijinhos
    http://virginiaferreira91.blogspot.com

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  16. Não conhecia o livro confesso mas as tuas citações deixaram me curiosa
    Rêtro Vintage Maggie | Facebook | Instagram

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  17. Gosto de John Green, embora ainda tenha esse e o anterior de que falaste para ler. Gostei de saber o teu feedback!

    Um beijinho,
    Cláudia*

    Sorrir e Sonhar por Mais

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  18. Também eu, meu bem :o Imagina a minha cara quando cheguei à loja e vi tudo assim tão bem decorado :o Já para não falar de que o conceito dos produtos em si está extremamente bem pensado :D

    Só li um livro dele mas fiquei com imensa vontade de ler mais :D Realmente a forma que ele tem de escrever é como se fosse algo muito pessoal :D Tenho de procurar por este :P

    NEW FASHION POST | THE COOLEST FOOTWEAR FOR FALL.
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  19. Há muito tempo que quero ler este livro. Principalmente, porque sou licenciada em matemática e só o título do livro já me suscita interesse, ahah.
    Fora de brincadeiras, tenho algum receio em comprar o livro, pois não gostei muito da escrita do autor, quando li A Culpa É Das Estrelas...

    Beijinhos

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  20. É uma pena que tenha ficado um pouco aquém do que esperavas, mas acontece. Ainda assim, vou anotar para um dia ler :)

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