Mensagem Codificada

Fotografia da minha autoria

«Não se pode esperar um final feliz de uma história de terror»

A rotina pode ser uma coisa enfadonha para quem a cumpre sem alterações - por mínimas que sejam. Em contrapartida, é maravilhosa para quem, como eu, se alimenta da desatenção e do medo de jovens indefesos, tão absortos nas suas vidas automatizadas, que nem tempo lhes dão para perceberem que o perigo as cerca. Aos poucos. De um jeito sufocante.

Ao volante de um carro vulgar, aprendi a passar despercebido no meio da multidão. Estudo o alvo, elenco horários, priorizo as suas fragilidades. E, no momento certo, ataco. Sem ruído. Sem deixar rasto. É praticamente impercetível, mas a dor e o trauma ficam alojados na memória até aos seus últimos suspiros. No meu rosto, esboça-se um sorriso de plena satisfação, êxtase e, porque não, excitação. Mas nos vossos, que pedem clemência, são as lágrimas que se manifestam. E o vosso olhar cheio de terror acompanha os meus movimentos, esperando, expectante, pela minha despedida. Mas não sem antes assistirem ao golpe final: uma marca de pertença cravada a quente, no peito.

Estou sempre por perto, ciente de cada passo que dão. Vocês não sabem o que vos espera, mas eu antevejo-o há meses. Porém, o lado doce da tortura passa por essa capacidade de aguardar. Tem outro encanto. Tu, minha querida, tens dado luta, mas a tua hora está para breve. Olha bem por cima do teu ombro, porque eu estou quase a chegar. Tic... toc... tic... toc...

Há uma semana que ando com esta carta no bolso. Encontrei-a na porta do meu prédio, embrulhada num envelope de veludo vermelho, sem qualquer destinatário. Não sei se a deite fora, se a entregue à polícia, se a desvalorize. Não sei, inclusive, se tem qualquer fundamento. Apenas sei que me deixou inquieta. E, de todas as vezes que saio de casa, sinto sempre uma presença indecifrável, como se estivesse alguém do outro lado da rua a observar-me. Um carro arranca quando me concentro nele. Será que serei a próxima?

Acordei em sobressalto, alagada de suor e a tremer. Este pesadelo não me abandona desde que apanhei aquele maldito manuscrito de palavras recortadas de um jornal. Tento levantar-me e não consigo, algo me prende. Olho, finalmente, em meu redor e não reconheço onde estou. Da porta do quarto vejo uma nesga de luz. E uma figura sombria aproxima-se de mim. Grito. Mas foi em vão.